Comissão propõe ampliação de cotas para negros e índios

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas aprovou, nesta quarta-feira (24/4/2002), parecer de...

24/04/2002 - 15:05
 

Comissão propõe ampliação de cotas para negros e índios

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas aprovou, nesta quarta-feira (24/4/2002), parecer de 1º turno sobre o Projeto de Lei (PL) 1.826/2001, do deputado Amilcar Martins (PSDB), que institui mecanismos de incentivo ao acesso de negros e índios em estabelecimentos de ensino público estadual de ensino superior. O relator foi o deputado Edson Rezende (PT), que apresentou, no parecer, as emendas números 2 a 5. O projeto já foi apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça, que apresentou a emenda nº1, e ainda será analisado pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, antes de ser discutido e votado em Plenário. Entre as alterações propostas pela Comissão de Direitos Humanos está a ampliação da cota de 20% do total de vagas para 40%.

Segundo o autor da proposta, deputado Amilcar Martins, o objetivo é corrigir a distorção provocada pela discriminação histórica sofrida por negros e índios no País, que os levou a ocupar os estratos mais baixos da pirâmide social brasileira, com baixos índices de qualidade de vida e renda. Para o deputado, é preciso implantar políticas públicas afirmativas que beneficiem diretamente esses setores etnorraciais, como a reserva de vagas no ensino superior - condição necessária para que ocorra a mobilidade social.

Parecer - O relator pela Comissão de Direitos Humanos, deputado Edson Rezende (PT), concordou com os argumentos apresentados pelo autor. "A sociedade brasileira, regulada por princípios jurídico-constitucionais que garantem a igualdade dos cidadãos perante a lei, é ainda, no exercício concreto das práticas sociais, marcadamente etnocêntrica e discriminatória em relação aos grupos étnicos não hegemônicos", diz o parecer. Para ele, a iniciativa é "louvável por instituir mecanismos concretos que possibilitem uma relativa e parcial reparação das injustiças sofridas pelos grupos étnicos brasileiros discriminados no campo da educação".

Identificação do beneficiado

Segundo o relator, as emendas foram apresentadas depois de uma audiência pública da Comissão - em que foram ouvidos um técnico da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e um antropólogo do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes) - e em função da pesquisa realizada para elaboração do parecer. A emenda nº 2 altera o artigo 1º, em especial o critério de identificação da cor ou etnia do cidadão a ser beneficiado, que passaria a ser feita mediante uma declaração do próprio candidato, no ato da inscrição para os exames vestibulares. O deputado Edson Rezende justifica que a declaração do IBGE, prevista no projeto original, é somente estatística, não podendo ser tomada como base para a distinção de casos individuais.

A emenda nº 3 generaliza a definição de estabelecimentos estaduais de ensino, prevista no inciso II do parágrafo 1º do projeto, para abranger também as instituições que venham a ser criadas. A proposta original discriminava a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e a Universidade Estadual de Montas Claros (Unimontes).

Cotas - A emenda nº 4 amplia a cota mínima de vagas dos 20% do total, previstos no projeto, para 40%. A justificativa para a alteração é o depoimento do antropólogo Ricardo Álvares, do Cedefes. Segundo ele, o percentual de cidadãos negros, pardos ou indígenas do País é de aproximadamente 45% do total da população. Em Minas Gerais o percentual é mais alto que o da região Sudeste, tendo em vista a contribuição histórica dos africanos para a formação do povo mineiro. "Há dados que indicam que, no Estado, os negros são cerca de 46% do total da população", diz o parecer.

A emenda nº 5 assegura que as provas dos exames vestibulares sejam as mesmas para todos os candidatos, independentemente de sua condição etnorracial (altera o parágrafo 3º do artigo 3º). Mantém, entretanto, a lista de classificação independente.

Incidentes entre Polícias Civil e Militar

Os recentes conflitos entre a Polícia Militar e a Polícia Civil serão tema de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos. A solicitação foi apresentada pelo deputado Márcio Kangussu (PPS) e aprovada na reunião desta quarta-feira (24). Para a reunião serão convidados o secretário de Estado da Segurança Pública; o comandante-geral da PMMG; os professores Cláudio Beato, da UFMG, e Luiz Flávio Sapori, da Fundação João Pinheiro; além de representantes das Associações dos Delegados; dos Oficiais da PM; dos Cabos e Soldados (Aspra); dos Subtenentes e Sargentos da PM; e da OAB/MG.

Visitas à Dutra Ladeira, Janaúba e IML

A Comissão também aprovou quatro requerimentos do deputado Edson Rezende (PT). O deputado solicitou que seja agendada visita da Comissão à Casa de Detenção Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, para verificar as condições de funcionamento. Pediu, ainda, que seja enviado ofício ao Comando-Geral da PMMG para que seja providenciado reforço ao policiamento do Município de Santa Rita de Ibitipoca, para reduzir o alto índice de violência naquela localidade. Os outros requerimentos referem-se ao envio de ofícios com pedidos de informação e providências a órgãos públicos e privados.

Janaúba - A deputada Elbe Brandão (PSDB) apresentou requerimento, aprovado, para que seja agendada uma visita à Cadeia Pública de Janaúba. Ela também quer que a Comissão verifique o trabalho de recuperação de jovens infratores realizado na cidade, para solicitar à Secretaria de Justiça o custeio do centro de recuperação construído pela comunidade e poder público local.

Agressão - A deputada também pediu que a Delegacia de Polícia Civil e o Ministério Público de Santo Antônio do Monte informem sobre as providências legais que estão sendo tomadas para a apurar a agressão sofrida por Marcela Rodrigues Dias Silva. A deputada anexou ao requerimento a matéria publicada pelo jornal "Gazeta Montense", do dia 22 de março. Segundo a reportagem, Marcela, de 20 anos, tem sido vítima de agressões por parte do marido, que não aceita a separação.

IML - A Comissão de Direitos Humanos deverá agendar uma visita ao Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte para verificar as condições de trabalho no local. Segundo o requerimento do deputado Durval Ângelo (PT), aprovado, o objetivo é colher subsídios para aprimorar o projeto de lei que trata da estrutura do IML e dotá-lo de autonomia a fim de prestar melhores serviços à comunidade. Para a visita serão convidados representantes da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e do Ministério Público.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Márcio Kangussu (PPS) - presidente, Edson Rezende (PT), João Leite (PSB) e Paulo Pettersen (PL).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715