CPI do Preço do Leite entrega relatório ao MP

A instauração de processo administrativo pelo Procon Estadual pode ser a primeira de uma série de medidas a serem tom...

15/04/2002 - 15:11
 

CPI do Preço do Leite entrega relatório ao MP

A instauração de processo administrativo pelo Procon Estadual pode ser a primeira de uma série de medidas a serem tomadas pelo Ministério Público (MP), como conseqüência do trabalho realizado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Preço do Leite da Alemg. Os deputados da Comissão entregaram ao MP, nesta segunda-feira (15/4/2002), o relatório final, aprovado na semana passada. A entrega foi precedida de manifestação reunindo cerca de 600 produtores rurais na Assembléia, que também se dirigiram à sede da Procuradoria-Geral de Justiça. O relatório comprova inúmeras irregularidades, entre elas a combinação do preço a ser pago ao produtor pelas indústrias de laticínios; a adulteração do leite, como o longa-vida, ao qual é adicionado soro; e o abuso econômico do comércio varejista na venda aos consumidores.

Segundo o procurador-geral de Justiça, Nedens Ulisses Freire Vieira, as medidas administrativas - que poderão ser deflagradas após a leitura de toda a documentação - podem abranger desde a aplicação de multas até a interdição e a suspensão das atividades dos estabelecimentos envolvidos. Fazendo referência ao trabalho da CPI, o procurador-geral lembrou que há indícios de abuso nos preços, formação de cartel e adulteração do conteúdo do produto. Procedimentos civis e criminais também podem ser adotados, a partir da análise do relatório final.

Trabalho foi adiantado - O secretário-executivo do Procon Estadual, Paulo Calmon, informou que o relatório da CPI permitirá o avanço das apurações, tendo em vista que a etapa de investigação - que deveria ser preliminar - já foi feita pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Paulo Calmon lembra que o Procon, que trabalha integradamente com a Promotoria de Defesa dos Direitos do Consumidor do MP, tem poder de polícia. Esse poder se expressa sob diferentes formas: autonomia para instaurar procedimentos administrativos, fiscalizar "in loco" os estabelecimentos e aplicar sanções (multas, interdição e suspensão de atividades dos envolvidos). Segundo Nedens Ulisses, os procedimentos administrativos poderão servir de base para outras medidas do Ministério Público.

MANIFESTAÇÃO REÚNE CERCA DE 600 PRODUTORES RURAIS

A entrega do relatório final da CPI do Preço do Leite ao Ministério Público foi precedida de uma grande manifestação de produtores rurais no Hall das Bandeiras da Assembléia mineira. Repetindo movimento registrado no início dos trabalhos da CPI, em agosto de 2001, os produtores de várias regiões do Estado lotaram o Hall das Bandeiras; foram à sede do Ministério Público em passeata; e retornaram à Assembléia, ocasião em que o presidente do Legislativo mineiro, deputado Antônio Júlio (PMDB), recebeu das mãos dos integrantes da CPI o documento final dos trabalhos.

Toda essa movimentação durou a manhã inteira, registrando-se a presença, entre outros, de produtores de Abaeté, Esmeraldas, Juiz de Fora e Pará de Minas, bem como de representantes da Associação dos Produtores de Leite de Minas Gerais e da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg).

O presidente Antônio Júlio elogiou o trabalho dos parlamentares e ressaltou a importância da participação dos produtores de leite e seu acompanhamento das atividades da CPI. Ele ressaltou que a CPI teve resultados concretos, comprovando denúncias antigas, mas lembrou que a Comissão não tem poder de polícia, mas sim de pressionar o Poder Público para a resolução das questões apuradas. O presidente fez referência à próxima etapa, que é a de apuração das denúncias pelo Ministério Público. Antônio Júlio enfatizou que, agora, é preciso que o Congresso Nacional também instale a CPI do Preço do Leite federal.

Trabalho da Comissão de Política Agropecuária - Concluído o trabalho da CPI do Preço do Leite, o presidente informou que, agora, a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia vai acompanhar, junto à Vigilância Sanitária, a apuração da qualidade do leite que chega ao consumidor. Fazendo referência à comprovação da adição de soro ao leite, principalmente o longa-vida, Antônio Júlio informou que a intenção da Assembléia é de levar adiante a proposta de fazer estudos laboratoriais para verificar a qualidade do leite no mercado.

CPI DO PREÇO DO LEITE VAI A BRASÍLIA NESTA TERÇA-FEIRA

Os membros da CPI do Preço do Leite participarão, nesta terça-feira (16/4/2002), de uma reunião da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados, quando serão discutidos os problemas enfrentados pelo setor leiteiro nacional, principalmente para avaliação das decisões das autoridades federais sobre a crise que atravessa o setor. Os deputados João Batista de Oliveira (PDT), presidente da CPI; Luiz Fernando Faria (PPB), relator; Paulo Piau (PFL) e Antônio Andrade (PMDB) já confirmaram presença no evento. Nesta quarta-feira (17/4/2002), os deputados entregarão ao ministro da Agricultura o relatório final.

"A CPI do Preço do Leite foi o evento político e social do ano em Minas Gerais", enfatizou o presidente da Comissão, deputado João Batista de Oliveira (PDT). Ele lembrou toda a trajetória da Comissão, cujos trabalhos foram iniciados em 29 de agosto. Reafirmou que, ao longo dos últimos meses, os parlamentares coletaram provas documentais e testemunhais e que, a partir de agora, é preciso dar uma resposta incisiva e rápida à sociedade.

"A Assembléia comprovou o cartel pelas indústrias de laticínios, que combinavam preços antecipadamente a serem pagos aos produtores", emendou o relator da CPI, deputado Luiz Fernando Faria (PPB), acrescentando a existência de crime contra a economia popular praticado por redes de supermercados, bem como o monopólio da Tetra Pak na embalagem do leite longa-vida. Os deputados Cristiano Canêdo (PTB) e Márcio Kangussu (PPS), sub-relator, lembraram que a primeira etapa foi cumprida e que, agora, é preciso acompanhar os próximos passos.

O presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Gilman Viana, afirmou, durante as manifestações, que a CPI trouxe argumentos ostensivos que comprovam as denúncias feitas. "Abrimos a primeira parte da caixa preta; agora é preciso apurar responsabilidades e punir os culpados", disse.

Presenças - Participaram da manifestação e/ou da entrega do relatório final da CPI ao Ministério Público os seguintes deputados, além dos representantes dos produtores rurais: João Batista de Oliveira (PDT), presidente; Luiz Fernando Faria (PPB) e Márcio Kangussu (PPS), relator e sub-relator; Cristiano Canêdo (PTB) e Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB), além do presidente Antônio Júlio (PMDB). Na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, estavam, ainda, o procurador-geral, Nedens Ulisses Freire Vieira; o secretário-geral, Rômulo Ferraz; o secretário-executivo do Procon Estadual, Paulo Calmon; e o promotor Amaury Artimos da Matta, da Promotoria de Defesa dos Direitos do Consumidor do MP, que acompanhou os trabalhos da comissão.

CONTEÚDO DO RELATÓRIO DA CPI DO PREÇO DO LEITE

A CPI pede ao Ministério Público a quebra do sigilo fiscal das redes de supermercados Carrefour Comércio e Indústria Ltda, Companhia Brasileira de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar/Extra, Distribuidora Mineira de Alimentos - Epa/Mart Plus, Bretas Supermercados, Super Nosso, Wal Mart Brasil, Grupo Sendas - Bon Marché e Mineirão-Supermercados Champion (Grupo Carrefour), para que se tornem públicas as formas de contabilização das luvas, bonificações e descontos. É solicitado, também, a quebra do sigilo fiscal das indústrias de leite Nestlé, Parmalat, Itambé, Vigor, Danone e Paulista.

Outras medidas requeridas ao Ministério Público pedem a instauração de ações civis contra as indústrias de laticínios acusadas de promover reuniões para uniformizar e reduzir os preços pagos aos fornecedores; contra as grandes redes de supermercados por cobrança de luvas, bonificações e descontos; e contra a CCPR (Cooperativa Central dos Produtores Rurais), por práticas comerciais abusivas, características de aliciamento de fornecedores e dumping contra a Cooperativa Agropecuária de Divinópolis.

A CPI do Preço do Leite aprovou seu relatório final na última terça-feira (9/4), tendo comprovado a existência de cartelização na indústria para reduzir o preço pago ao produtor, o abuso econômico do comércio varejista na venda do leite aos consumidores e o monopólio da Tetra Pak na embalagem do leite longa vida.

 

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