CPI apura denúncias de combinação do preço do leite
A CPI do Preço do Leite realizou, nesta terça-feira
(12/3/2002), acareação entre o ex-presidente da Cooperativa
Agropecuária de Divinópolis e ex-prefeito do município, Domingos
Sávio; o presidente da Cooperativa de Crédito Rural de Divinóplis
(Crediverdi), Oswaldo Henrique Guimarães; e representantes das
indústrias Parmalat, Nestlé, Danone e Itambé. A acareação é
resultado de denúncias apresentadas por Domingos Sávio e Osvaldo
Henrique Guimarães, em audiência pública da CPI em Divinópolis, no
dia 26 de novembro do ano passado. Eles mencionaram, na audiência,
reuniões de empresas do setor lácteo com representantes das
cooperativas, na tentativa de combinação, pelas multinacionais, dos
preços de aquisição de leite na região.
De acordo com Domingos Sávio, as reuniões teriam
ocorrido há cerca de dez anos, quando ele presidia a Cooperativa
Agropecuária de Divinópolis. "O objetivo aparente dos encontros
seria discutir possíveis benefícios para os produtores, mas o
assunto principal era a tentativa, pelas empresas, de combinação do
preço pago pelo leite", afirmou. Segundo ele, a cooperativa não
concordava com a combinação de preço, desejava melhor remuneração ao
produtor e repudiava o que era proposto. "As empresas não avaliavam
os custos do produtor, e o pagamento era sempre aquém do justo",
criticou. Ele disse desconhecer a participação de representantes da
empresa Itambé nesse tipo de reunião.
Itambé - Domingos Sávio
afirmou que a Cooperativa Agropecuária de Divinópolis apresentava
crescimento considerável, o que incomodava as grandes empresas. "A
Itambé atuava de forma destrutiva para inviabilizar a capacidade
competitiva da nossa entidade", salientou. Segundo ele, a empresa
comprava diretamente do produtor de Divinópolis, oferecendo pelo
leite preço superior ao que pagava a produtores de outras regiões,
com o objetivo de prejudicar a cooperativa local. "Era uma
concorrência desleal, predatória, o que não pode ser aceito."
CONVIDADOS CONFIRMAM REUNIÕES
O presidente da Cooperativa de Crédito Rural de
Divinóplis (Crediverdi), Oswaldo Henrique Guimarães, ratificou as
denúncias feitas por Domingos Sávio e defendeu a necessidade de uma
política justa para o setor leiteiro e pagamentos dignos ao
produtor. Ele afirmou ter participado das reuniões para "estar por
dentro do preço de mercado" e citou o nome de alguns funcionários da
Nestlé que negociavam nas reuniões. "As multinacionais acertavam
determinado preço, mas muitas não praticavam o valor proposto",
salientou.
Indagado pelo relator da Comissão, deputado Luiz
Fernando Faria (PPB), pelo motivo de não ter tornado público o fato
anteriormente, Oswaldo Henrique disse não ter tido oportunidade. Os
denunciantes afirmaram não terem provas concretas dos acordos
firmados.
Encontros até 2000 -
"Tenho certeza da realização das reuniões com a finalidade de
combinar o preço pago ao produtor de leite, até meados de 2000",
afirmou o presidente do Sindicato Rural de Formiga, Antônio Leite de
Rezende. Segundo ele, as reuniões eram mensais, realizadas perto da
cidade de Campo Belo e com a participação das empresas que
comercializam leite, entre elas cooperativas e grandes indústrias.
Ele afirmou que tudo era informal, não havendo documentação que
comprove a negociação.
MULTINACIONAIS NEGAM PARTICIPAÇÃO
O presidente da Itambé, José Pereira Campos Filho,
defendeu o direito à livre concorrência e criticou a incapacidade
das cooperativas de competirem no mercado. "As cooperativas são
concorrentes como outras quaisquer", disse, referindo-se à denúncia
do ex-presidente da Cooperativa Agropecuária de Divinópolis. José
Pereira Campos Filho negou ter participado de reuniões com o
objetivo de acertar preços e salientou sua intenção de transformar a
Itambé em cooperativa multinacional.
O diretor de Assuntos Cooperativos da Nestlé,
Carlos Faccina, disse não ter conhecimento da participação de nenhum
funcionário da empresa em reuniões com a finalidade de combinar
preços. Segundo ele, a Nestlé tem uma política de preços
transparente, divulgando o valor pago ao produtor com um mês de
antecedência. O diretor de Operações da Parmalat, Roque Dalcin, e o
gerente de Compra de Leite da Danone, Wilian Lopes Alves, também
negaram a participação de funcionários em reuniões com esse
objetivo.
Presenças - Participaram
também da reunião os deputados João Batista de Oliveira (PDT),
presidente; Luiz Fernando Faria (PPB), relator; Cristiano Canêdo
(PTB), Kemil Kumaira (PSDB), Márcio Kangussu (PPS), Marcelo
Gonçalves (PDT), Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB), o representante
da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg) Thadeu
Leão Pereira; o presidente da Comissão Nacional do Leite da
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Paulo Roberto Bernardes,
além de outros convidados.
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