Convidados questionam critérios de avaliação da silicose

Os equipamentos e técnicas usados para diagnosticar a silicose nos trabalhadores das minas são inadequados e muitas a...

07/03/2002 - 18:59
 

Convidados questionam critérios de avaliação da silicose

Os equipamentos e técnicas usados para diagnosticar a silicose nos trabalhadores das minas são inadequados e muitas avaliações foram feitas por profissionais desqualificados, segundo o coordenador da Câmara Técnica de Saúde do Trabalhador, do Conselho Estadual de Saúde, Guilherme Ribeiro Câmara, ouvido nesta quinta-feira (7/3/2002) pela CPI da Mineração Morro Velho. O coordenador disse que o Estado não possui a estrutura necessária para proceder à avaliação correta dos casos da doença. Segundo ele, as avaliações que serviram como ponto de partida para determinar as indenizações foram feitas com equipamentos da própria Mineração Morro Velho.

"O critério utilizado para se pensar as indenizações pode cometer injustiças com os trabalhadores. A avaliação da capacidade laboral é um critério do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para identificar uma determinada incapacidade. Esse critério não contempla a possibilidade de existência da doença e nem o fato de que ela pode se desenvolver posteriormente à avaliação", declarou Câmara. Ele disse que a capacidade laborativa não se presta para a avaliação de uma doença que possui um mecanismo de evolução de 20 a 30 anos. Segundo o coordenador, as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde deveriam promover ações de vigilância e prestar assistência à saúde do trabalhador, e isso seria competência do Sistema Único de Saúde (SUS).

Óbitos - Guilherme Ribeiro Câmara apresentou um levantamento do Ministério da Saúde segundo o qual foram registradas oficialmente apenas 186 mortes por silicose no Brasil, entre 1979 e 1998. Verificou-se que nenhum dos casos foram registrados nos municípios de Nova Lima, Sabará, Raposos e Caetés. "O sistema de declaração de óbito passa pelos cartórios municipais, que devem informar à Secretaria de Estado para registro no Ministério da Saúde. Esse número é uma grande subnotificação. Há diversos atestados de óbito encaminhados ao Conselho Estadual de Saúde que sugerem que o número de mortes seria bem maior. Esses mecanismos precisam ser desvendados", comentou.

Pneumologista confirma despreparo de profissionais

A pneumologista do Ambulatório de Doenças Profissionais do Hospital das Clínicas, Ana Paula Scalia Carneiro, disse que o diagnóstico correto da silicose só é obtido com um raio-x de boa qualidade, feito com as técnicas adequadas, e com a interpretação sendo feita apenas por profissionais treinados, capacitados e experientes. "O maior problema que essa população enfrenta é o diagnóstico errado e mal feito, em condições adversas e por profissionais não capacitados. Vários casos são notificados erradamente", afirmou. A pneumologista realizou trabalho pericial em 143 trabalhadores da Mineração Morro Velho, dos quais 60% eram, realmente, portadores de silicose e vários possuíam outros tipos de doenças, como bronquite, hipertensão e tuberculose.

A doença - Segundo Ana Paula Scalia, a silicose é uma doença presente especialmente em países menos desenvolvidos como o Brasil, onde ainda é muito freqüente, chegando a ser epidêmica em algumas situações. Ela afirmou que a principal atividade causadora da doença é a mineração subterrânea. Quanto pior a condição de trabalho, maior a possibilidade do trabalhador adoecer. Além disso, a contaminação depende da susceptibilidade de cada organismo. "A silicose pode ocorrer em diferentes graus de intensidade, do mais leve ao mais grave, que leva à morte por insuficiência respiratória", comentou.

Sindicato explica atuação

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração do Ouro e Metais Preciosos de Nova Lima e Região, Marcelino Antônio Edwiges, disse que quando assumiu o cargo, no dia 27 de julho de 2001, a maior preocupação era com as pessoas que haviam ajuizado ação pelo Ministério Público. "Começamos a estudar o acordo feito em 99 e homologado pela Justiça, que envolvia 560 trabalhadores. Constatamos que na documentação havia um prazo final de adesão - 25 de novembro - e que não havia sanção para o não cumprimento do acordo e nem prazo de entrega dos lotes", comentou. Pelo acordo, as indenizações seriam pagas a metade em dinheiro e a outra metade em terrenos na região.

O presidente do sindicato informou que foi iniciada uma negociação pela qual conseguiram transformar a indenização que seria paga em lotes, em dinheiro. "Também conseguimos a correção monetária e os juros, além de conseguir que o prazo de adesão fosse estendido até maio. A proposta foi apresentada à categoria e, de imediato, houve 600 adesões. Desde o início foi dito aos trabalhadores que a adesão era voluntária", afirmou. Segundo Marcelino Antônio Edwiges, o Ministério Público afastou-se das negociações nesse momento.

Requerimentos - A Comissão aprovou dois requerimentos do deputado Doutor Viana (PMDB), relator da CPI. O primeiro, solicita o envio de ofício à Cordenadoria da Câmara Técnica de Saúde do Trabalhador do Conselho Estadual de Saúde para que forneça à CPI a cópia dos relatórios de suas atividades fiscalizadoras exercidas junto à Mineração Morro Velho nos últimos anos. O segundo, pede o envio de ofício à pneumologista do Ambulatório de Doenças Profissionais do Hospital das Clínicas, Ana Paula Scalia Carneiro, no sentido de que forneça possíveis outros documentos relativos aos exames de silicose feitos nos trabalhadores da Mineração Morro Velho.

A CPI também aprovou três outros requerimentos, de autoria do deputado Edson Rezende (PT), sub-relator da Comissão. Um deles solicita o deferimento do pedido da vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Elvira Lídia Pessoa de Oliveira, que indica o coordenador da Câmara Técnica de Saúde do Trabalhador do Conselho Estadual de Saúde, Guilherme Ribeiro Câmara, para acompanhar os trabalhos da CPI. Os outros dois requerimentos pedem a intimação, para prestarem esclarecimentos à Comissão, do médico contratado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Mineração Morro Velho, Sílvio Gusman; do trabalhador da Mineração Vicente do Carmo; do prefeito de Nova Lima, Vítor Penido; do presidente da Câmara Municipal, vereador Jaconias; do presidente da Associação dos Aposentados de Nova Lima; e do secretário de Estado da Saúde, general Carlos Patrício.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Eduardo Hermeto (PFL), presidente da CPI; Eduardo Brandão (PL); Doutor Viana (PMDB); Edson Rezende (PT); Fábio Avelar (PTB); Mauro Lobo (PSB); Dilzon Melo (PTB); e Ivo José (PT).

 

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