Auditor confirma irregularidades trabalhistas no Noroeste

O auditor fiscal do Ministério do Trabalho e do Emprego, Thomaz Jamison Silveira, confirmou as irregularidades encont...

07/03/2002 - 18:40
 

Auditor confirma irregularidades trabalhistas no Noroeste

O auditor fiscal do Ministério do Trabalho e do Emprego, Thomaz Jamison Silveira, confirmou as irregularidades encontradas nas companhias instaladas no Noroeste do Estado e que mantém atividades de reflorestamento e criticou o processo de terceirização implementado por elas. Para ele, o processo seria fraudulento e com o objetivo apenas de desobrigar as empresas do cumprimento das obrigações trabalhistas. O auditor participou da inspeção nestas companhias, juntamente com consultores da CPI das Carvoarias da Assembléia Legislativa. Nessa quinta-feira (7/3/2002), ele foi ouvido em reunião da Comissão, realizada para ouvir os representantes das empresas autuadas pelo Ministério do Trabalho.

O superintendente-geral da Vallourec e Mannesmann Tube S.A. (V&M do Brasil), Antônio Claret de Oliveira, fez uma exposição inicial sobre as atividades agroflorestais da empresa, desenvolvidas numa área de 230 mil hectares, abrangendo 116 municípios mineiros. Negando irregularidades na empresa, que tem uma política de recursos humanos bem desenvolvida e reconhecida, Antônio Claret confirmou a autuação do Ministério do Trabalho, esclarecendo que esta se refere ao artigo 41 da Consolidação dos Direitos Trabalhistas (CLT), que exige o registro dos empregados contratados.

"A fiscalização entendeu que os empregados das empreiteiras seriam nossos empregados e que, portanto, deveriam estar registrados pelo grupo Mannesmann. Mas não concordamos com esse entendimento, que é baseado num parecer do Tribunal do Trabalho, mas não é lei" - argumentou o executivo. Ele defendeu a legalidade do processo de terceirização da empresa, que tem um sentido social, de desenvolver uma rede de microempresas na região para atuar no setor florestal, um segmento com grande potencial de crescimento no País.

Thomaz Jamison confirmou que a empresa tem uma política adequada para o atendimento de seus funcionários, com ações importantes nas áreas de Segurança e Saúde. "O problema não está aí e sim no processo de terceirização que foi adotado, provocando a degradação da qualidade de vida dos trabalhadores da região" - afirmou o auditor fiscal. Na Fazenda Nova Esperança, onde a empresa desenvolve atividades de reflorestamento, dos 44 trabalhadores que estavam atuando no dia da inspeção, apenas três eram funcionários da V&M do Brasil. Os demais eram empregados de 13 diferentes empreiteiras, que prestavam serviço naquela área, e seis destes trabalhadores eram os próprios donos da empresa contratada.

Na avaliação de Thomaz Jamison, a terceirização foi apenas uma opção que a empresa encontrou para fugir do cumprimento dos direitos trabalhistas em relação a estes empregados, transformando-os em "empresários" sem empresa. Segundo o auditor fiscal, a maioria dessas empreiteiras tem um capital de R$ 5 a 10 mil no máximo; não tem escritório instalado; e nem capacidade financeira para arcar, por exemplo, com os custos de atendimento a um trabalhador acidentado. Além disso, os trabalhadores das empresas terceirizadas mantém um vínculo direto de subordinação com a contratante, sendo obrigados a cumprir metas de produtividade e uma jornada de trabalho por ela estabelecido, estando submetidos ainda a um controle de qualidade que é desenvolvido e exercido pelo grupo Mannesmann.

Por outro lado, os contratos com as terceirizadas impõem uma série de condições e penalidades às empresas e nenhuma cláusula de obrigatoriedade e penalidade para a contratante. Na avaliação do auditor fiscal, esse modelo transfere todo o risco do negócio para a empresa terceirizada e, neste caso, para o próprio trabalhador, que, em muitas das vezes, é o dono do negócio. Essa transferência de risco fica evidente no fato da terceirização estar se dando na atividade-fim da empresa. Hoje a V&M do Brasil mantém 313 empreiteiras dentro da empresa e o Ministério do Trabalho calcula que 90% dos seus empregados são terceirizados.

Compra e venda - O gerente geral do Sistema Agro, da Companhia Mineira de Metais (CMM), Luciano Lage de Magalhães, argumentou que a empresa não mantém empreiteiros em suas terras. Nas fazendas, onde estão instaladas suas unidades agroflorestais, nos municípios de João Pinheiro, Paracatu e Vazante, a CMM explora hoje um mix de produtos agrícolas (grãos, frutas, gado e madeiras) em substituição à produção do carvão vegetal, que não é mais consumido pela siderúrgica.

Luciano Magalhães confirmou que recebeu dois autos de infração do Ministério do Trabalho, mas reafirmou que a empresa não trabalha com empreiteiras. "Nós temos clientes que, por meio de contratos de compra e venda, adquirem a nossa "madeira em pé" (antes do corte) e, daí para frente, o produto é delas e a responsabilidade sobre as condições de trabalho nas atividade de beneficiamento também".

Apesar disso, Luciano Magalhães informou que suspendeu o contrato com a empresa que foi autuada pelo Ministério do Trabalho e só voltará a negociar quando esta estiver produzindo em condições adequadas e de acordo com as normas da CLT. O gerente geral do Sistema Agro da CMM confirmou que compra parte do carvão produzido pelos seus clientes para empacotar e comercializar. São 10 mil toneladas/mês de carvão, representando mil toneladas empacotadas por cada período equivalente.

O auditor fiscal do Ministério do Trabalho, Thomaz Jamison Silveira, lembrou que, desde 1995 fiscaliza a empresa, quando ela ainda mantinha contrato com empreiteiras e as condições de trabalho ali encontradas foram as mais degradantes possíveis. Estes contratos foram agora descaracterizados e substituídos pelos contratos de compra e venda da madeira em pé, mas as condições de trabalho não mudaram.

Na Fazenda Santa Cecília, segundo Thomaz Jamison, os fiscais identificaram várias irregularidades, inclusive de trabalho infantil. As condições dos alojamentos são precárias: faltam instalações sanitárias; os trabalhadores dormem no chão; e a qualidade da água para consumo humano é bastante questionável. Esse relatório foi encaminhado ao Ministério do Trabalho que ainda vai emitir o seu parecer. O auditor fiscal acrescentou ainda que constatou, na inspeção realizada na empresa, que a maioria dos trabalhadores das empresas "clientes" não são da região e seus contratos têm a duração média de três meses, justamente para descaracterizar qualquer vínculo empregatício com a contratante.

Melhorias - O representante da White Martins, Carlos José Macedo, esclareceu que a empresa é uma tradicional produtora de gases industriais. No processo de produção do acetileno, primeira atividade da empresa, são empregados ingredientes que demandam o carvão vegetal para sua obtenção e, por isso, a empresa passou a investir na sua produção. Em 1985, a White Martins fez o seu primeiro corte destinado a produção de carvão vegetal.

Pela importância do carvão vegetal na sua linha de produção, a empresa não considera essa como sendo uma atividade final da sua unidade florestal. "Na Fazenda Santa Alegre, em Paracatu, não consideramos a produção do carvão como atividade fim e, sim, a produção de gases industriais. Ele confirmou a autuação que a empresa recebeu do Ministério do Trabalho, mas esclareceu que várias providências já foram tomadas.

Os banheiros femininos já funcionam adequadamente; a jornada de trabalho de 6 horas está sendo respeitada, mas o registro de entrada e saída é flexível. "Alguns preferem chegar às cinco da manhã, outros mais tarde" - disse ele, completando que a política de segurança na empresa é forte, e as fazendas não têm registro de acidentes nos dois últimos anos. "Procuramos sempre cumprir a lei" - concluiu.

O representante do Ministério do Trabalho, Thomaz Jamison Silveira, confirmou que houve uma melhora. "Em meados de 1992 foi feita uma fiscalização e as condições eram muito degradantes; o trabalho poderia ser considerado de aliciamento; a alimentação era bem pior. Recentemente encontramos na fazenda da White Martins, esgoto aberto, banheiro com fossa e números insuficientes de moradia. A maioria das 44 rescisões contratuais eram dos trabalhadores que pediam conta, mas tudo indica que eles estavam assinando os documentos em branco. O ideal é que existisse uma cláusula obrigando os empreiteiros a assumirem os direitos dos trabalhadores, mas elas não têm condições financeiras para dar o mesmo tratamento que é dado pela grande empresa. Hoje 90% deles são terceirizados e portanto não recebem seus direito" - afirmou o auditor.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da CPI das Carvoarias, comunicou aos membros da Comissão que já solicitou a prorrogação do prazo de trabalho da CPI por mais 60 dias, devido ao grande número de atividades previstas para o esclarecimento do caso. Ele solicitou ao representante do Crea/MG, que acompanhava a reunião, que a entidade faça um estudo sobre o a relação do preço do carvão produzido pelas empresas que respeitam as leis trabalhistas e por aquelas que não cumprem esses direitos. O objetivo do estudo seria o de verificar se o lucro do setor está sendo obtido às custas da exploração dos trabalhadores.

O deputado Dalmo Ribeiro (PSD), autor do pedido de instalação da CPI, questionou o pequeno número de auditores no quadro do Ministério do Trabalho, e disse que o Estado poderia fazer uma fiscalização mais intensa. O auditor fiscal informou que, realmente, o número de auditores foi drasticamente reduzido, mesmo tendo suas metas mantidas. A deputada Elbe Brandão (PSDB) perguntou aos convidados se as empresas mantém algum departamento responsável pelo estudo das condições das fazendas de propriedades próprias. "Como são empresas de capital internacional, bem organizadas, elas poderiam compartilhar esse trabalho de fiscalização, na busca de um país mais justo", disse.

Requerimentos - Durante a reunião, foram aprovados requerimentos que viabilizaram a participação dos representantes das empresas e também, um de autoria da deputada Elbe Brandão (PSDB), solicitando que sejam intimados a prestarem depoimento na Comissão os representantes legais das empresas Bunge Fertilizantes e Fosfértil e do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Extração Mineral de Araxá.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão; Elbe Brandão (PSDB), relatora; Márcio Cunha (PMDB), Marco Regis (PL) e Dalmo Ribeiro Silva (PPB).

 

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