Procurador confirma denúncias de fraude em licitações

O procurador de Justiça Gilvan Alves Franco, da Procuradoria de Justiça Especializada em Crimes de Prefeitos Municipa...

06/03/2002 - 17:05
 

Procurador confirma denúncias de fraude em licitações

O procurador de Justiça Gilvan Alves Franco, da Procuradoria de Justiça Especializada em Crimes de Prefeitos Municipais, confirmou, na reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária desta quarta-feira (6/3/2002), as denúncias que estão sendo veiculadas pela imprensa sobre a existência de crime de fraude em licitações para execução de obras com recursos do orçamento da União. Segundo o promotor, as investigações realizadas até o momento apontam irregularidades em 32 municípios mineiros e a existência de 23 empresas fantasmas. O deputado Rogério Correia (PT) disse, na reunião, que estuda a possibilidade de solicitar a instalação de Comissão Especial da Alemg para apurar as denúncias. Ele e a deputada Maria José Haueisen (PT) foram os autores do requerimento que solicitou a reunião.

Após a requisição, pelo procurador, de todos os processos licitatórios do Estado ocorridos a partir de 2000, verificou-se que havia sempre a participação das mesmas empresas. Segundo Franco, essas empreiteiras não existem de fato, mas apenas "no papel". As licitações eram vencidas sempre pelas mesmas cinco ou seis empresas, e as obras eram realizadas pela Construtora Ponto Alto, de Governador Valadares. Essas empresas fariam uma espécie de revezamento, para legitimar as licitações. Até o momento não se sabe quem é o proprietário da empresa. "Até os erros de português nas notas de empenho eram os mesmos em vários municípios", comentou.

De acordo com o procurador, ocorria ajuste prévio para beneficiar uma determinada empresa, o que eliminava o caráter competitivo das licitações, caracterizando o crime de fraude. Para Gilvan Alves Franco, as investigações caminham para a descoberta de um esquema de desvio de verbas, caracterizando crime de improbidade administrativa. Segundo ele, muitas obras estão inacabadas. O procurador disse ter encaminhado as denúncias ao Ministério Público Federal, à Corregedoria da Câmara dos Deputados e à Procuradoria-Geral da República, uma vez que suas atribuições se limitam ao âmbito estadual.

DEPUTADO FEDERAL NEGA ENVOLVIMENTO

O deputado federal João Magalhães (PMDB) negou qualquer participação no esquema de favorecimento de empresas nos processos de licitação. Segundo ele, o Ministério Público deve aprofundar as investigações para encontrar os responsáveis e puni-los. O deputado disse que todas as obras encaminhadas por meio de suas emendas foram realizadas, à exceção de três ou quatro que estariam em fase final. Magalhães afirmou não ter conhecimento dos processos licitatórios, uma vez que eles são realizados após a liberação dos recursos.

João Magalhães afirmou que as obras realizadas pelas empresas investigadas não resultam apenas de emendas de sua autoria, mas também de emendas de diversos deputados. Ele disse que não se consegue a liberação de recursos apenas com ofícios emitidos pelas prefeituras, mas também com a aprovação do respectivo Ministério, que confere os planos de trabalho e o custo da obra. De acordo com o deputado, 70% dos recursos federais são liberados via Caixa Econômica Federal (CEF), o que impede o superfaturamento das obras. "Os recursos só são liberados pela CEF após visita e medição das obras", afirmou.

CASO DE ÁGUAS FORMOSAS

O ex-prefeito de Águas Formosas João Augusto Fernandes informou que foi contactado por Márcio Passos, ex-assessor do deputado João Magalhães, sobre a possibilidade de liberação de R$ 100 mil para a construção de dois postos de saúde no município. De acordo com o ex-prefeito, antes da liberação da verba o assessor teria lhe comunicado a alteração do valor do convênio para R$ 80 mil, além da mudança de sua finalidade - que passaria a ser de reforma e ampliação de um posto de saúde já existente. A prefeitura entraria com uma contrapartida de R$ 16 mil.

Após o empenho da verba, Fernandes soube que a empresa vencedora da licitação era a Construtora Chaves e Rangel. O assessor teria informado anteriormente que a empresa Ponto Alto era responsável apenas pela elaboração de projetos e por agilizar a liberação dos recursos. Ao fim de seu mandato, o ex-prefeito ficou sabendo que a obra estava sendo realizada pela Ponto Alto. "Tentaram me envolver em atos ilícitos por meio de assinaturas falsas", declarou. O prefeito admitiu ter autorizado a execução da obra antes de entregar o cargo, sem tomar os devidos cuidados. A obra foi concluída, mas há suspeitas de superfaturamento.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Mauro Lobo (PSB), presidente da Comissão, Rogério Correia (PT), Maria José Haueisen (PT), Ivair Nogueira (PMDB), Luiz Fernando Faria (PPB), Rêmolo Aloise (PFL), Márcio Kangussu (PPS), Ermano Batista (PSDB) e Eduardo Brandão (PL).

 

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