Comissão da Prostituição Infantil vai a Araxá
A Comissão Especial da Prostituição Infantil, que
está investigando denúncias de abuso sexual contra menores na cidade
de Araxá, entre outras, aprovou dois requerimentos na reunião desta
quinta-feira (28/2/2002), de autoria da relatora da Comissão,
deputada Elbe Brandão (PSDB). O primeiro solicita ao
procurador-geral de Justiça, Nedens Ulisses, o afastamento dos dois
promotores da Comarca de Araxá envolvidos na acusação, Armando
Lourenço da Silva e Luiz Alexandre Cruz Ferreira. O segundo requer a
participação da Comissão Especial da Prostituição Infantil na
audiência pública que será realizada em Araxá, em data ainda a ser
definida, e já aprovada pela Comissão de Direitos Humanos.
Durante a reunião, o presidente da Comissão
Especial, deputado Rogério Correia (PT), anunciou que o juiz Daniel
César Botto Collaço, autor das primeiras denúncias contra os
promotores, colocou-se à disposição da Comissão, dependendo apenas
da autorização do presidente do Tribunal de Justiça. O deputado
Rogério Correia vai agora definir uma data para ouvir o juiz, que já
estava convidado a participar da reunião desta quinta-feira, assim
como os dois promotores e o comandante da 3ª Companhia PM
Independente, major Reis. Todos justificaram a ausência, alegando
causas diversas.
O representante da Corregedoria Geral do Ministério
Público, Edson Firmino de Paula, que participou da reunião, informou
aos membros da Comissão Especial da Prostituição Infantil que os
dois promotores denunciados solicitaram à Procuradoria-Geral do
Ministério Público, na última quarta-feira (27), o seu afastamento
da Comarca de Araxá, até o final das investigações. O corregedor é
responsável pela apuração das denúncias e estava acompanhado do
sub-corregedor Geral do Ministério Público, Mário Drummond da
Rocha.
Ele confirmou ainda que já tomou 20 diferentes
depoimentos na cidade e que alguns apresentam contradições em
relação à primeira apuração do caso, realizada em outubro do ano
passado; outros confirmam o conteúdo da primeira investigação
conduzida pela Corregedoria do Ministério Público e arquivada, na
época, por falta de provas. "Estamos examinando toda a documentação
que temos em mãos e recebendo novas informações. Todo esse material
será examinado", garantiu o corregedor.
CONSELHEIRAS REAFIRMAM AS DENÚNCIAS
Na reunião desta quinta-feira (28), a Comissão
Especial ouviu ainda as representantes do Conselho Tutelar da
Criança e do Adolescente de Araxá, que confirmaram todas as
denúncias envolvendo os promotores Armando Lourenço da Silva e Luiz
Alexandre Cruz Ferreira, formalizadas a partir de depoimentos à
Justiça de Araxá, em meados do mês de outubro e no final de dezembro
de 2001. A conselheira Ângela Leitão Barreto encaminhou à Comissão
Especial, presidida pelo deputado Rogério Correia (PT), um pedido
para que os membros do Conselho Tutelar e as crianças que fizeram a
denúncia contra os promotores tenham a proteção especial da polícia
em Araxá, pois todos estão sendo ameaçados de morte.
Ângela Barreto informou ainda aos deputados que a
sede do Conselho Tutelar foi arrombada em outubro do ano passado,
logo após as primeiras denúncias do juiz da Infância e Juventude da
Comarca de Araxá, Daniel César Botto Collaço, contra os dois
promotores. "Nesse episódio, todos os documentos mais importantes,
que comprovavam o envolvimento dos promotores com o crime de abuso
sexual de menores e outras irregularidades, desapareceram dos
arquivos do Conselho Tutelar", disse ela. Naquela época, no dia 29
de outubro, as conselheiras prestaram depoimento à Justiça de Araxá,
acrescentando ao processo informações sobre fatos envolvendo os
promotores acusados.
Na reunião da Comissão Especial, Ângela Barreto leu
trechos desse depoimento e repassou à relatora da Comissão, deputada
Elbe Brandão (PSDB), uma cópia da íntegra do documento, que está
arquivado na Justiça de Araxá. Nele, as conselheiras citam nomes de
pessoas envolvidas com a rede de prostituição infantil que atua na
cidade, de menores que foram aliciadas e dos locais onde estes
programas são realizados.
A conselheira Liliam Joyce Mousinho de Moura, que
também participou da reunião, confirmou as denúncias e pediu
urgência na apuração dos fatos. Elas esclareceram ainda que, no
final do mês de outubro de 2001, quando foi realizada a primeira
investigação pela Corregedoria Geral do Ministério Público, as
conselheiras foram convidadas a prestar declarações, mas se
recusaram a falar, pois questionavam o comportamento dos promotores
corregedores enviados à cidade, que estavam constantemente
acompanhados dos promotores acusados, que participavam das
audiências. "Só agora tivemos confiança de falar novamente, pois os
novos corregedores indicados demonstraram seriedade no seu
trabalho", afirmou Ângela Barreto.
DEPUTADOS QUEREM APURAÇÃO RIGOROSA DOS FATOS
De posse de farta documentação, reunindo denúncias
contra Armando Lourenço da Silva, da Vara da Infância e Juventude e
Luiz Alexandre da Cruz Ferreira, promotores da Comarca de Araxá, o
deputado Durval Ângelo (PT) questionou a versão de que haveria um
complô na cidade, resultado de uma disputa política, para envolver
os dois membros do Ministério Público nessas denúncias. "Temos
provas suficientes de que estamos diante de um crime hediondo,
envolvendo aqueles que deveriam, justamente, estar protegendo essas
crianças", frisou o deputado.
Durval Ângelo informou à Comissão que, depois que
as investigações foram retomadas pelo Ministério Público, ele
encaminhou duas solicitações ao corregedor-geral, datadas do dia 25
de fevereiro deste ano, para que sejam ouvidos sete juizes que já
passaram pela Comarca de Araxá e fizeram algum tipo de representação
contra os promotores, todas arquivadas pela Corregedoria da Justiça.
Solicitou ainda que sejam ouvidos seis outros ex-membros do Conselho
Tutelar da Infância e Adolescente de Araxá, que ainda não foram
convidados a falar pelo Ministério Público.
O deputado questionou o depoimento do corregedor do
Ministério Público, Edson Firmino de Paula, que teria citado apenas
os depoimentos que estão em contradição com a primeira investigação
e que, de uma certa forma, favorecem os dois promotores acusados.
"Essa é a linha da apuração final?", indagou Durval Ângelo (PT). O
corregedor esclareceu que os pontos destacados no seu depoimento
foram aqueles sobre os quais ele próprio tem dúvidas e pretende
apurar com maior profundidade e que não houve intenção de favorecer
os envolvidos. Edson Firmino reafirmou o compromisso do Ministério
Público de fazer uma investigação isenta.
Depois dos questionamentos do deputado, o
corregedor informou à Comissão que vários dos depoimentos já tomados
pelo Ministério Público confirmaram irregularidades envolvendo a
Comarca de Araxá e que todas serão apuradas. Ele disse que as
menores reafirmaram as denúncias contra os promotores, bem como os
membros do Conselho Tutelar. "Mas como responsável pelas
investigações, não posso adiantar nenhuma conclusão, tenho de me
ater aos fatos", insistiu o corregedor.
O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) insistiu com a
presidência da Comissão Especial para atender à solicitação das
representantes do Conselho Tutelar de Araxá, de estender a proteção
policial especial para todos os membros do Conselho e para as
crianças que fizeram as denúncias. "E mais do que isso, atendimento
psicológico também a todas as crianças que foram envolvidas nessa
rede", pediu o deputado, sugerindo ainda que as investigações não
sejam conduzidas apenas pelo Ministério Público, que tem isenção
para fazê-las, mas que pode ser envolvido pelo espírito de corpo da
instituição.
Adelmo Carneiro Leão (PT) questionou também o fato
do processo, com o resultado da primeira investigação, ter sido
arquivado por falta de provas. Elogiando a atuação do Ministério
Público, reconhecido pela sociedade como uma das poucas instituições
públicas merecedoras de confiança na história recente do país, o
deputado ponderou que se as apurações forem estendidas a outras
instâncias de investigação, essa iniciativa virá fortalecer o
Ministério Público, evitando o risco de que ele tenha sua imagem
arranhada nesse processo.
O corregedor Edson Firmino reafirmou, por várias
vezes durante a reunião, que todo esse trabalho está sendo conduzido
com isenção e sem nenhuma tolerância, mas com bastante cautela, como
convém a um trabalho investigativo. Ele também não se opôs a que
outros órgãos façam as suas investigações e as comparem com o
resultado obtido pelo Ministério Público e citou o próprio trabalho
da Comissão Especial como uma instância alternativa de apuração.
Edson Firmino argumentou ainda que não teve tempo
de tomar conhecimento de toda a documentação envolvendo as denúncias
contra os dois promotores, pois o primeiro processo reúne mais de
800 páginas com vários documentos. Mas ele pediu aos deputados que
refaçam as apurações feitas até hoje sobre esse episódio, para que
possam obter fatos concretos em relação à culpabilidade ou inocência
dos promotores. Solicitou ainda à Comissão Especial que não cobre
celeridade do Ministério Público pois um processo investigativo
demanda tempo para ser concluído de forma consistente.
O presidente da Associação Mineira do Ministério
Público, Alceu José Marques, que também participou da reunião, não
comentou nenhuma das denúncias encaminhadas à Comissão Especial e
nem sobre o trabalho do Ministério Público. Na sua intervenção, ele
solicitou aos deputados que encaminhem as investigações com bastante
rigor e profundidade, mas com bastante cautela também, para que os
dois promotores não sejam condenados antes de serem julgados. Também
participou da reunião o representante do Conselho Estadual da
Criança e do Adolescente, Humberto Palhares.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Rogério Correia (PT), presidente da Comissão;
Elbe Brandão (PSDB), relatora dos trabalhos; Durval Ângelo (PT),
João Pinto Ribeiro (PTB) e Adelmo Carneiro Leão (PT). A reunião foi
suspensa às 14 horas da tarde e retomada às 16h, para a apreciação
dos requerimentos, com a presença também dos deputados Marco Regis
(PL) e Fábio Avelar (PTB).
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