Relatório lista irregularidades na terceirização em carvoarias

O consultor João Paulo Pires Vasconcelos, contratado pela CPI das Carvoarias, apresentou nesta terça-feira (26/2/2002...

26/02/2002 - 15:35
 

Relatório lista irregularidades na terceirização em carvoarias

O consultor João Paulo Pires Vasconcelos, contratado pela CPI das Carvoarias, apresentou nesta terça-feira (26/2/2002), em reunião da comissão, o relatório de uma inspeção técnica realizada na região dos municípios de Paracatu e João Pinheiro, entre os dias 28 de janeiro e 2 de fevereiro. De acordo com o relatório, as empresas Companhia Mineira de Metais (CMM S/A), do Grupo Votorantim; Vallourec & Mannesmann (V&M); Tube S/A e White Martins S/A estariam cometendo irregularidades no processo de terceirização do trabalho nas carvoarias.

Convocação - Foi aprovado requerimento do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da CPI, solicitando a convocação dos representantes legais das três empresas para prestar esclarecimentos à Comissão sobre as denúncias contidas no relatório. A inspeção realizada pelo consultor João Paulo Pires Vasconcelos teve a participação do consultor da Assembléia Lincoln Alves Miranda e do auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Thomaz Jamison Miranda da Silveira, além do apoio da subdelegada do MTE em Paracatu, Dália Maria Chaves Ulhoa.

O QUE DIZ O RELATÓRIO SOBRE JOÃO PINHEIRO

No município de João Pinheiro, na Fazenda Nova Esperança, foi inspecionada a empresa V&M S/A. Segundo as informações contidas no relatório, o carvão produzido na fazenda é utilizado na usina siderúrgica instalada em Belo Horizonte. A empresa contrata os empreiteiros e estes recrutam os trabalhadores, que recebem pagamento pela lenha e carvão produzido e são remanejados constantemente.

A jornada de trabalho é sempre prorrogada, com a realização de, pelo menos, 10 horas diárias. A atividade é penosa e insalubre e as condições são muito precárias, não alcançando os padrões mínimos de nutrição, habitação e saúde, segundo o consultor. Os trabalhadores ficam desamparados de assistência social, não dispondo de assistência à saúde, para si e para suas famílias, em razão da falta de vínculo empregatício e da descontinuidade do trabalho.

Votorantim - No mesmo município, na Fazenda Santa Cecília, foi inspecionada a empresa CMM S/A, do Grupo Votorantim. A empresa alega nada ter com a produção de carvão, ou seja, não mantém empreiteiros como as demais, tendo apenas clientes a quem vende a madeira em pé. Para a empresa, os problemas de natureza trabalhista dizem respeito às obrigações de seus clientes. No entanto, a empresa não explicou como faz funcionar, permanentemente, a sua indústria de empacotamento de carvão, na Fazenda Bonsucesso, município de Vazantes. Não foram encontradas notas fiscais da venda de carvão de seus clientes para a própria indústria empacotadora.

Na inspeção, foram encontrados apenas dois trabalhadores vinculados à CMM, sendo o restante empregados de clientes, utilizando toda a estrutura e matéria-prima da fazenda para a produção do carvão. Uma menor de 15 anos foi encontrada no trabalho de enchimento e descarga de fornos e outro menor, no transporte de lenha, todos sem os equipamentos de proteção individual. A jornada de trabalho é de, no mínimo, 16 horas, além de não possuírem, sequer, um veículo para transporte em caso de acidente. As instalações e condições de higiene também são precárias, segundo o relatório.

CONDIÇÕES DE TRABALHO EM PARACATU

Na Fazenda Santo Aurélio, município de Paracatu, foi inspecionada a empresa White Martins S/A. O relatório denuncia que os trabalhadores são "barbaramente explorados", com uma jornada de trabalho de 16 horas diárias. Cada trabalhador é obrigado a apresentar a produção de dois fornos por dia, recebendo, ao final, apenas R$ 12,00. Eles são contratados em localidades distantes e levados aos locais de trabalho, onde permanecem isolados nos alojamentos, sendo dispensados após dois ou três meses, quando então recebem o pagamento. Essa descontinuidade do trabalho inviabiliza a aquisição de qualquer direito ou benefício trabalhista. Os alojamentos são cobertos de telhas, sem forro, e possuem o piso de cimento. Há apenas uma instalação sanitária, sem porta, e uma cozinha sem os mínimos requisitos de higiene.

A Comissão Parlamentar de Inquérito das Carvoarias foi instalada a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB) e outros, para investigar as condições de trabalho dos profissionais que atuam na indústria extrativa de Minas Gerais.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Fábio Avelar (PPS), Elbe Brandão (PSDB), relatora da CPI; Bilac Pinto (PFL), Dalmo Ribeiro Silva (PPB), Wanderley Ávila (PPS) e Paulo Piau (PFL).

 

 

 

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