Alemg realiza ciclo de debates sobre educação para
surdos
O Ciclo de Debates "A educação que nós, surdos,
queremos", promovido pela Assembléia Legislativa, lotou o Plenário
da Assembléia nesta segunda-feira (10/12/2001). O evento foi aberto
pela deputada Elaine Matozinhos (PSB), que defendeu o trabalho dos
pioneiros na linguagem dos sinais, que souberam mostrar ao mundo que
o idioma humano é muito mais rico do que a simples transmissão pela
linguagem oral. "A linguagem dos sinais é a mais viva memória da
comunicação humana", disse. Elaine Matozinhos representou o
presidente da Alemg, deputado Antônio Júlio.
O Ciclo de Debates foi requerido pelo deputado Luiz
Tadeu Leite (PMDB), com o objetivo de discutir a realidade das
pessoas surdas e o processo educacional destinado a elas, enfocando
aspectos como a adequação das escolas, o cumprimento e
aperfeiçoamento da legislação, a formação profissional e as relações
com a família e a comunidade. O parlamentar falou da importância da
luta, ao lado de entidades representativas dos surdos, para
aperfeiçoar as leis que já existem e propor outras que garantam o
reingresso dos surdos na sociedade, como cidadãos. "Este segmento
não pode ser vítima de discriminações, humilhações e limitações que
a sociedade freqüentemente lhe impõe", afirmou.
A subsecretária de Desenvolvimento Educacional da
Secretaria de Estado da Educação (SEE), Maria Stella Nascimento,
falou da criação de uma diretoria específica para atender este
segmento da sociedade. Segundo ela, a Secretaria, juntamente com a
Prefeitura de Belo Horizonte, busca a capacitação dos profissionais,
dos professores e técnicos que lidam com a educação dos surdos.
"Tornar a escola e a sociedade inclusivas é uma tarefa de todos
nós", ressaltou.
A política para o atendimento educacional aos
surdos na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte foi o tema
debatido pelo secretário Municipal de Educação de Belo Horizonte,
Antônio David de Souza Júnior. Segundo ele, a PBH vem implementando
diferentes programas de inclusão escolar, a partir de experiências
inovadoras e da ação pedagógica comprometida com o direito à
educação na perspectiva da diversidade. "A reflexão das experiências
com a escolarização de surdos, dentro e fora de BH, estabelece uma
atitude de pesquisa e investigação tendo em vista a formação dos
professores e a qualificação do atendimento aos alunos surdos na
RME", concluiu.
A diretora de Educação Especial da SEE, Tânia
Guimarães Mafra, definiu a escolarização dos surdos como um desafio
que atravessa o tempo, agregando nessa passagem os saberes
construídos, superados e/ou reafirmados. Durante sua exposição, ela
falou também sobre a Diretoria da Educação Especial (Desp), criada
este ano, que é responsável, na SEE, pela gestão da política de
educação especial junto às escolas estaduais em todos os níveis e
modalidade de ensino.
Cultura - A aceitação da
cultura surda como uma cultura diferente e a questão do
desenvolvimento língua de sinais são alguns assuntos com que o surdo
deve aprender a lidar desde criança. De acordo com a pedagoga e
professora, com especialização em educação de Libras do Cresa, Karin
Lilian Strobel, cada pessoa surda precisa, além de desenvolver a
cultura de sinais, conviver com pessoas que possuem a mesma
dificuldade, para entender que sua cultura não é inferior à dos
ouvintes, apenas diferente. "Aquele surdo que não tem acesso à
língua de sinais não se comunicará, nem com ouvintes, nem com
surdos", disse. Para a professora do Curso de Formação de
Professores de Nazaré da Mata, Tanya Amara Felipe de Souza, não
existe uma língua pobre ou rica, existe aquela que dá conta de seus
usuários. "Para entender a língua de sinais é preciso primeiramente
compreender a cultura dos surdos", afirmou. Como estudiosa da língua
de sinais, Tanya Souza afirmou que hoje a Libras tem uma gramática,
e que o paradigma da língua aumenta à medida que os usuários se
comunicam.
A importância do surdo conviver na comunidade surda
para, com isso, se aceitar melhor, foi defendida pela doutoranda em
Informática na Educação de Surdos pela UFRS, Mariane Stumpf. "Pessoa
surda é aquela que não tem comunicação, e o surdo se comunica
perfeitamente através da Libras", lembrou. Segundo ela, é preciso
que a sociedade se mobilize para que haja uma educação de qualidade
e uma pedagogia especializada para os deficientes. "A língua de
sinais deve ser ensinada à criança, antes mesmo da língua
portuguesa", disse. Ela lembrou, ainda, que os surdos têm que ser
preparados para estar cursando faculdade. "É através do conhecimento
que vamos mostrar o nosso valor", afirmou. O coordenador do Setor de
Educação da Feneis, Amauri Valle do Amaral Júnior, acredita que a
questão da inclusão social é diferente de inclusão educacional. "As
pessoas têm que entender que uma é causa e conseqüência da outra",
ressaltou. Amauri Valle apresentou ainda uma proposta da comunidade
surda ao Legislativo, em que é reivindicado o reconhecimento oficial
da Libras no Brasil, do intérprete enquanto profissional, e a sua
inclusão nos órgãos públicos. "A Libras é mais que um gesto, é uma
língua", concluiu.
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