Seminário discute caminhos e descaminhos do voluntariado

O Seminário sobre o Voluntariado, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, teve prosseguimento na manhã...

11/12/2001 - 17:56
 

Seminário discute caminhos e descaminhos do voluntariado

O Seminário sobre o Voluntariado, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, teve prosseguimento na manhã desta terça-feira (4/12/2001), com o tema "Caminhos e Descaminhos do Voluntariado: Gestão, Sustentabilidade e Alternativas Viáveis". Os convidados apresentaram questões relativas aos mitos que envolvem o trabalho voluntário, à sua complexidade e aos dilemas e possibilidades que oferece. O debate foi coordenado pelo deputado Sávio Souza Cruz (PMDB). Nesta quarta-feira (5), será realizada a plenária final, com a apresentação da síntese das propostas dos grupos de trabalho e votação do documento final do Seminário.

Crescimento - Para o articulador de Redes do Programa Voluntários de São Paulo, Francisco de Almeida Lins, o voluntariado é um fenômeno mundial e seu eixo está se enriquecendo, não sendo mais considerado, apenas, como uma conseqüência da pobreza e da marginalidade, e sim, uma ferramenta para o crescimento individual e social. "Não precisamos de grandes organizações. A questão do voluntariado tem muito de sonho com um futuro melhor. A soma dos esforços individuais é que gera resultados", declarou.

Francisco Lins disse que o voluntário não é uma mão-de-obra barata para substituição e que suas ações não eximem o Estado de suas responsabilidades. "O trabalho voluntário é complementar. A carga horária recomendada é de 2 a 4 horas semanais", comentou. O articulador sugeriu a realização de estudos pelas universidades como forma de conhecer o perfil do trabalho voluntário no País. Ele citou, ainda, algumas iniciativas recomendadas pela ONU, para o Poder Público, em relação ao voluntariado, como o desenvolvimento de abordagens estratégicas por meio da criação de núcleos de articulação, o financiamento de pesquisas, adequação dos sistemas legais e fiscais, além da promoção do voluntariado jovem.

Segundo o professor de Mestrado em Ciências Sociais da PUC/MG Sérgio Azevedo, os custos da participação, como o gasto pessoal de energia, dificultam o desenvolvimento do trabalho voluntário. O professor disse que o trabalho voluntário está vinculado à cidadania pela dimensão cívica de preocupação com a sociedade. Azevedo salientou a necessidade de combate ao cooperativismo clássico, para que não haja monopólio de recursos. Para ele, as gestões devem possuir formatos diferentes, de acordo com a tradição local. "A administração pública é muito importante para ficar só na mão do Estado", declarou.

Professor critica modismo do voluntariado

O professor e pesquisador do Centro de Referência para o Terceiro Setor da PUC/MG, Armindo dos Santos de Souza Teodósio, disse que o trabalho voluntário se tornou um modismo empresarial e que grande parcela das empresas com programas nesse sentido estão atuando por simples modismo, sem possuir metodologias ou oferecer treinamento adequado. "Há empresas praticamente obrigando seu empregado a realizar atividade voluntária. O termo voluntário virou estereótipo de bom funcionário", comentou. Para ele, além dos projetos empresariais contribuírem para formar uma melhor imagem da empresa perante à sociedade, trazem desenvolvimento de habilidades aos funcionários. Entre essas habilidades está o espírito de mobilização e liderança desenvolvido pelo trabalho em equipe, o aprendizado sobre como trabalhar com recursos escassos, além do conhecimento de outro universo cultural, que possibilita a focalização do trabalho na realidade do cliente. "O brasileiro é, sim, um povo solidário", concluiu.

De acordo com ele, o trabalho voluntário não oferece compensação financeira, mas, em contrapartida, gera retribuição emocional, ideológica e simbólica, além de promover o desenvolvimento pessoal e profissional. O professor criticou, no entanto, a literatura existente sobre o tema, dizendo que, ou a obra é ufanista ou deixa de apresentar as informações necessárias para que o leitor possa agir de maneira prática. Segundo ele, o modelo de gestão dos trabalhos voluntários deve passar pela lógica da transparência e da prestação de contas. "O voluntariado é uma tendência social, mas não é sinônimo de cidadania e solidariedade", afirmou o professor Teodósio.

 

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