Seminário discute caminhos e descaminhos do
voluntariado
O Seminário sobre o Voluntariado, promovido pela
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, teve prosseguimento na manhã
desta terça-feira (4/12/2001), com o tema "Caminhos e Descaminhos do
Voluntariado: Gestão, Sustentabilidade e Alternativas Viáveis". Os
convidados apresentaram questões relativas aos mitos que envolvem o
trabalho voluntário, à sua complexidade e aos dilemas e
possibilidades que oferece. O debate foi coordenado pelo deputado
Sávio Souza Cruz (PMDB). Nesta quarta-feira (5), será realizada a
plenária final, com a apresentação da síntese das propostas dos
grupos de trabalho e votação do documento final do Seminário.
Crescimento - Para o
articulador de Redes do Programa Voluntários de São Paulo, Francisco
de Almeida Lins, o voluntariado é um fenômeno mundial e seu eixo
está se enriquecendo, não sendo mais considerado, apenas, como uma
conseqüência da pobreza e da marginalidade, e sim, uma ferramenta
para o crescimento individual e social. "Não precisamos de grandes
organizações. A questão do voluntariado tem muito de sonho com um
futuro melhor. A soma dos esforços individuais é que gera
resultados", declarou.
Francisco Lins disse que o voluntário não é uma
mão-de-obra barata para substituição e que suas ações não eximem o
Estado de suas responsabilidades. "O trabalho voluntário é
complementar. A carga horária recomendada é de 2 a 4 horas
semanais", comentou. O articulador sugeriu a realização de estudos
pelas universidades como forma de conhecer o perfil do trabalho
voluntário no País. Ele citou, ainda, algumas iniciativas
recomendadas pela ONU, para o Poder Público, em relação ao
voluntariado, como o desenvolvimento de abordagens estratégicas por
meio da criação de núcleos de articulação, o financiamento de
pesquisas, adequação dos sistemas legais e fiscais, além da promoção
do voluntariado jovem.
Segundo o professor de Mestrado em Ciências Sociais
da PUC/MG Sérgio Azevedo, os custos da participação, como o gasto
pessoal de energia, dificultam o desenvolvimento do trabalho
voluntário. O professor disse que o trabalho voluntário está
vinculado à cidadania pela dimensão cívica de preocupação com a
sociedade. Azevedo salientou a necessidade de combate ao
cooperativismo clássico, para que não haja monopólio de recursos.
Para ele, as gestões devem possuir formatos diferentes, de acordo
com a tradição local. "A administração pública é muito importante
para ficar só na mão do Estado", declarou.
Professor critica modismo do voluntariado
O professor e pesquisador do Centro de Referência
para o Terceiro Setor da PUC/MG, Armindo dos Santos de Souza
Teodósio, disse que o trabalho voluntário se tornou um
modismo empresarial e que grande parcela das empresas com programas
nesse sentido estão atuando por simples modismo, sem possuir
metodologias ou oferecer treinamento adequado. "Há empresas
praticamente obrigando seu empregado a realizar atividade
voluntária. O termo voluntário virou estereótipo de bom
funcionário", comentou. Para ele, além dos projetos empresariais
contribuírem para formar uma melhor imagem da empresa perante à
sociedade, trazem desenvolvimento de habilidades aos funcionários.
Entre essas habilidades está o espírito de mobilização e liderança
desenvolvido pelo trabalho em equipe, o aprendizado sobre como
trabalhar com recursos escassos, além do conhecimento de outro
universo cultural, que possibilita a focalização do trabalho na
realidade do cliente. "O brasileiro é, sim, um povo solidário",
concluiu.
De acordo com ele, o trabalho voluntário não
oferece compensação financeira, mas, em contrapartida, gera
retribuição emocional, ideológica e simbólica, além de promover o
desenvolvimento pessoal e profissional. O professor criticou, no
entanto, a literatura existente sobre o tema, dizendo que, ou a obra
é ufanista ou deixa de apresentar as informações necessárias para
que o leitor possa agir de maneira prática. Segundo ele, o modelo de
gestão dos trabalhos voluntários deve passar pela lógica da
transparência e da prestação de contas. "O voluntariado é uma
tendência social, mas não é sinônimo de cidadania e solidariedade",
afirmou o professor Teodósio.
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