Inserção social da raça negra é tema de audiência
pública
"A Inserção Social da Raça Negra - O Negro e a
Educação" foi o tema da audiência pública realizada pela Comissão de
Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, nesta terça-feira
(20/11/2001), Dia Nacional da Consciência Negra, data comemorativa
ao aniversário da morte de Zumbi dos Palmares. A privação do ensino
fundamental às crianças negras e a amnésia histórica foram apontados
como alguns dos principais fatores que impossibilitam o negro de
participar efetivamente do contexto social. O deputado Paulo Piau
(PFL), presidente da Comissão, disse que é hora de parar com os
diagnósticos e partir para ações e projetos objetivos. "A questão é
uma prioridade, vamos fazer da Comissão um quilombo", declarou. A
reunião foi encerrada com a apresentação de Maculelê pelo Grupo
Meninos e Meninas da Sinhá.
O superintendente da 11ª Secretaria Regional de
Educação de Diamantina, Herildo do Nascimento, disse que a exclusão
social faz com que os negros não possam reconstruir a própria
história. Para ele, a participação política do negro foi negada
desde a abolição. Nascimento salientou a necessidade de revisão do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (Fundef) e de criação de novos quilombos,
grupos de consciência da identidade negra. Segundo ele, a formação
de consciência propicia a lucidez necessária para a transformação da
realidade. "Falta mobilização e participação. As comunidades negras
têm que se unir pela inserção social. Basta ver o processo de
desaparecimento dos dialetos afro-brasileiros e o número de negros
nas universidades", comentou.
Construção de identidade na educação
De acordo com Nascimento, a Academia está afastada
de projetos que visam a integração do negro com a sociedade. "Temos
dois tipos de inserção social, a integração e a inclusão. No
primeiro, a pessoa deve mudar para ser inserida e, no segundo, o
espaço é que deve ser modificado e é este que nós queremos", disse.
A professora Rosa Margarida de Carvalho Rocha, da Rede Municipal de
Ensino de Belo Horizonte, falou que as escolas são um espaço adverso
para a construção da identidade dos jovens negros e estão longe da
cultura deles. Para a professora, só haverá mudança dessa realidade
se houver a formulação de políticas públicas que possibilitem
condições dignas de trabalho aos profissionais educadores.
Exclusão - O professor da
Faculdade de Direito da PUC/MG, José Antônio Carlos Pimenta, disse
que, historicamente, as maiores transformações sociais foram
conseguidas pelas classes oprimidas e que, portanto, os negros devem
aproveitar o peso de sua herança cultural para promover a
conscientização e a mudança da sociedade. A jornalista Márcia Maria
da Cruz, do Jornal "O Tempo", apresentou alguns dados sobre a
exclusão social do negro no país. Segundo ela, 60% dos negros são
analfabetos; apenas 18% tem possibilidade de chegar à universidade;
e a expectativa de vida do negro é menor em cinco anos em relação ao
branco, além das condições de moradia serem quatro vezes pior. "O
debate deve ser permanente. A vida está longe dos jovens negros e a
educação está ainda mais distante", afirmou.
Estabelecimento de cotas é importante, mas não
representa solução
O estabelecimento de cotas para estudantes negros
nas universidades foi defendido pelo ex-reitor da UEMG e UFMG,
professor Aluísio Pimenta. Para ele, não seria a solução definitiva,
mas um instrumento de formação de uma massa crítica que
possibilitaria o exercício de uma pressão social. A solução, segundo
Pimenta, seria investimentos que dessem condições dignas a todos.
"Com o fortalecimento da Educação o Brasil seria um país fácil de
governar, difícil de dominar e impossível de escravizar", declarou.
O diretor jurídico do Conselho de Participação e
Integração da Comunidade Afro-Brasileira de Uberaba, Ronaldo Reis,
disse que é preciso criar mecanismos para que os negros possam
aproveitar essas cotas. De acordo com Reis, seria necessário o
fortalecimento das bases educacionais e o estabelecimento de
condições sociais que possibilitem aos jovens negros viver de
maneira respeitosa e digna. Para o representante do Diretório dos
Estudantes da UEMG, Wanderson Paiva, o estabelecimento de cotas
também não representa a solução, mas constitui uma forma de impactar
a sociedade para que ela assuma os questionamentos sobre a exclusão
social do negro.
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