Faltam gerenciamento e qualificação na cadeia produtiva do leite

Os problemas na cadeia produtiva do leite são o gerenciamento incipiente; a deficiência na assistência técnica; o alt...

11/12/2001 - 17:56
 

Faltam gerenciamento e qualificação na cadeia produtiva do leite

Os problemas na cadeia produtiva do leite são o gerenciamento incipiente; a deficiência na assistência técnica; o alto custo do frete e a falta de mão-de-obra qualificada, segundo o diretor de Planejamento de Política Leiteira da empresa gaúcha Elegê, Ernesto Ênio Budke. Ele foi um dos depoentes da CPI do Preço do Leite da Assembléia Legislativa de Minas, nesta terça-feira (13/11/2001). Segundo Budke, o que contribui significativamente para a crise é o crescimento desordenado da produção do leite; além do surgimento de novas marcas; da crise econômica na Argentina; e da retração do consumo.

O diretor sugeriu, como soluções para a crise, o treinamento dos produtores e da assistência técnica; melhoria da qualidade do leite; e a exclusão do leite importado em programas governamentais. Mas, a visão de cadeia integrada do leite é o que, em sua opinião, serviria para levar o País muito adiante na produção. Para barrar a entrada do produto que vem da Argentina e do Uruguai, de acordo com Budke, deveria haver atualização da legislação vigente e uma fiscalização sanitária maior para o leite de outros países. A inspeção do produto também não é feita com muito vigor no leite brasileiro. "O leite rejeitado no Rio Grande do Sul vai para miniusinas produtoras de queijo e não há inspeção", afirmou Ernesto Budke. Controlar os super-faturamentos também se faz necessário, segundo ele. "Na medida em que tais questões forem sanadas, tudo se resolve. Eles sabem que o Brasil representa ameaça para eles", afirmou.

A Elegê repassa produtos para Minas Gerais e detém 53% da participação no comércio do Rio Grande do Sul com a venda do leite longa-vida - principal produto analisado pela Comissão. Segundo Ernesto Budke, a empresa enviou apenas uma carga de leite para Minas Gerais no mês de setembro. A Elegê, antes Central, agora indústria privada, congrega 27 cooperativas. As vantagens dessa transformação foram, de acordo com Budke, a maior agilidade e flexibilidade. A média de preço por litro de leite pago ao produtor do Rio Grande do Sul, pela empresa, é de R$ 0,28 - o valor mais alto atualmente. Ele afirmou, ainda, a produção em 2001 foi a pior em 25 anos.

QUALIDADE DEFINE PREÇO

O diretor da Indústria de Laticínios Batavo, que é sócia da Parmalat e tem indústria no Paraná e em Santa Catarina, Arthur Gilberto, disse que o preço pago aos produtores é definido pela qualidade do produto. No entanto, o preço nos dois estados é diferente. Os 440 produtores do Paraná recebem mais porque produzem a mesma quantidade de leite que os 7 mil de Santa Catarina.

Arthur Gilberto disse que a associação com a Parmalat foi necessária porque a empresa estava pequena diante dos processos de globalização e da conseqüente competitividade exigida pelo novo modelo econômico. Essa também foi uma forma, segundo ele, de proteger o produtor da crise leiteira. A Batavo reúne seis cooperativas em Santa Catarina e duas no Paraná.

Importação - Um terço do leite importado pela Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo (CCPL) é de Minas Gerais, o que correspondeu a 10 milhões de litros em setembro. O diretor-geral, Oscar Otávio Bonilha, disse que a empresa fornece matéria-prima para a Danone e para a Paulista e reúne 18 cooperativas. A CCPL é a única das quatro empresas ouvidas que anuncia o preço pago ao produtor pelo litro do leite. Os deputados da CPI defenderam que todas as indústrias e cooperativas adotem essa medida.

LONGA-VIDA

O custo da embalagem do leite longa-vida, bastante debatido em outras reuniões da Comissão, incomoda muito, segundo o presidente da CPI, João Batista de Oliveira (PDT). Ele disse que o preço das embalagens é maior que o pago pelo litro de leite em muitos Estados, além de se tratar de uma embalagem nada econômica nem ecológica. Arthur Gilberto disse que mesmo tendo embalagem mais barata, o leite pasteurizado pode ser mais caro que o longa-vida, em alguns lugares.

João Batista também questionou as notas fiscais da Batavo e da Indústria de Laticínios Italac. Segundo ele, as notas de compra dos produtos por supermercados têm valor maior que o preço para o consumidor. Ele apresentou uma nota com valor de R$ 0,76 pagos pelo Carrefour à Italac, enquanto o produto era vendido por R$ 0,67 no supermercado. O representante da Italac, Gabriel Barros, disse que levará o caso ao conhecimento da empresa para que sejam tomadas providências.

Fraude - Também foi levantada na reunião a questão de fraude na industrialização do leite. A modificação do produto com soro importado é um fato e, na opinião de Ernesto Ênio Budke, da Elegê, inaceitável. As fraudes mais comuns, segundo os representantes das indústrias e cooperativas, são a nomenclatura, o superfaturamento, a modificação no produto, a falha na fiscalização e a sonegação fiscal.

Requerimentos - A Comissão aprovou, ainda, dois requerimentos. O deputado Luiz Fernando Faria (PPB) requereu reunião da CPI, no dia 3 de dezembro, para realização do 2º Fórum de debate do preço do leite por CPIs de outros Estados, na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais. O deputado Paulo Piau (PFL) pediu que seja encaminhado ofício ao Governo Federal, ao Ministério da Fazenda e da Agricultura, solicitando esclarecimentos sobre a origem, quantidade e destino do soro importado com relação à indústria leiteira.

A CPI do Preço do Leite foi criada para apurar os mecanismos de formação do preço do leite na indústria e no comércio e para investigar indícios existentes de cartelização. Os deputados presentes julgaram esta reunião como uma das mais esclarecedoras da Comissão.

Presenças - Participaram da reunião os deputados João Batista de Oliveira (PDT), presidente da CPI; Paulo Piau (PFL), vice-presidente; Luiz Fernando Faria (PPB), relator; e Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB). Os convidados: diretor de Planejamento de Política Leiteira da Elegê, Ernesto Ênio Budke; o diretor da Indústria de Laticínios Batavo, Arthur Gilberto; o diretor-geral da Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo, Oscar Otávio Bonilha; o representante da Indústria de laticínios Italac, Gabriel Barros; e o assessor da Faemg, Márcio Carvalho.

 

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