Supermercado fala à CPI do Preço do Leite
sobrebonificação
Os supermercados negociam com indústrias para
adquirirem as chamadas bonificações - "verba de enxoval", "luvas",
"verba de aniversário" e outras expressões consideradas jargões no
meio supermercadista. A afirmação foi feita por representantes das
principais redes de supermercados de Belo Horizonte,
Carrefour/Champion, Epa/Mart Plus, Hiper Via Brasil e Extra, além
das Casas Sendas, em reunião desta terça-feira (6/11/2001) da CPI do
Preço do Leite. A CPI tinha convidado os presidentes dessas
empresas, mas apenas o presidente do Hiper Via Brasil, Levy
Nogueira, compareceu. Ele afirmou que as práticas de promoção, como
verbas de aniversário, são atitudes "internacionais e legais".
Crítica - "Essa é uma
prática abusiva; o dinheiro sai do produtor para subsidiar as
grandes redes", contrapôs o presidente da CPI, deputado João Batista
de Oliveira (PDT). A reunião desta terça-feira (6/11) foi o
desdobramento de encontro realizado em 25 de setembro, quando
representantes de supermercados afirmaram que as redes não formam
cartel de preços para comercialização do leite e de seus derivados.
Os deputados não ficaram, no entanto, satisfeitos com as informações
recebidas, porque várias das perguntas ficaram sem resposta. Por
isso, foi aprovado requerimento do deputado Márcio Kangussu (PPS)
convocando para a reunião desta terça presidentes ou diretores das
mesmas empresas que estivessem capacitados a responder os
questionamentos.
PAGAMENTO DE PROMOÇÕES É DETALHADO
O relator da CPI, deputado Luiz Fernando Faria
(PPB), indagou quais os segmentos penalizados com a prática de
pagamento de "promoções", ressaltando que os produtores poderiam ser
prejudicados. O diretor nacional de Perecíveis do Carrefour, Odair
Silvério, afirmou que a promoção tem como objetivos diminuir o preço
de determinado produto para o consumidor; dar suporte à inauguração
de uma nova loja do supermercado; ou aumentar a compra de produtos
da indústria. "Se isso afeta o produtor de leite desconheço; a
negociação é diretamente com a indústria", disse. Segundo Levy
Nogueira, o produtor de leite é mal remunerado, "mas o setor
varejista não é o vilão". Ele disse não saber aonde está o
problema.
Sendas é questionada - O
diretor de Controle das Casas Sendas, Nildo Pires Alves, cuja
atuação é, principalmente, no Estado do Rio de Janeiro, disse que
essa operação permite ter preços competitivos. Alves ponderou,
ainda, que a tributação é que prejudica os produtores. O relator,
deputado Luiz Fernando Faria (PPB), leu documento recebido pela CPI
que comprovaria que um supermercado da Rede Sendas, comemorando seu
aniversário, solicitou R$ 40 mil das indústrias fornecedoras. Nildo
Pires Alves afirmou que não conhece o documento, mas que a empresa
opera nessa modalidade de promoção. O deputado leu, também,
documento intitulado "Acordo Nacional de Compras", relativo ao
supermercado Carrefour. Segundo Odair Silvério, o documento
refere-se a um tipo de acordo utilizado freqüentemente pela
rede.
DEPUTADO FALA SOBRE MARGEM DE LUCRO DOS
SUPERMERCADOS
O presidente da CPI, deputado João Batista de
Oliveira (PDT), afirmou que, de acordo com notas de comercialização
do leite nos supermercados, em setembro eles teriam praticado altas
margens de lucro - que podem chegar de 40% até 75%. Levy Nogueira
contestou a informação e disse que os índices variam de 2% a 12%.
"Duvido que haja lucro de 75% num produto básico como o leite longa
vida", completou. Segundo João Batista de Oliveira, a realidade
prova, no entanto, o contrário.
O diretor de Compras Regionais do Extra, Márcio
Milan, afirmou que a empresa vem perdendo lucratividade nos últimos
anos devido à queda do poder de compra do consumidor. Segundo ele, o
supermercado tem, em média, 16% de margem bruta sobre o leite.
"Podemos trabalhar com margens menores, mas nunca abaixo do que
compramos".
O diretor Nacional de Perecíveis do Carrefour,
Odair Silvério, disse que a margem comercial no hipermercado sobre o
leite longa vida é de 7,90% e, nos supermercados, foi de 12,90%,
entre janeiro e setembro de 2001. Já o custo médio de distribuição
varia de 16,87% a 27,97%. Segundo ele, a título de exemplificação,
se o supermercado compra um produto por R$ 100,00 e vende por R$
130,00, o lucro não é de 30%, já que estão incluídos nesse valor
custos de impostos, entre outros. Odair Silvério disse que os preços
variam de acordo com a marca do produto. "Queremos ser competitivos,
ter melhor preço para o cliente, mas respeitando a margem de venda",
salientou.
O diretor de Controle da Sendas, Nildo Pires Alves,
afirmou que a empresa tem apenas uma loja funcionando em Minas
Gerais e disse, ainda, que a margem sugerida não é fixa e depende da
concorrência. "Nossa margem de lucro já chegou a 0%, tendo como
objetivo vender mais barato".
Indagado pelos deputados Márcio Kangussu (PPS) e
Cristiano Canêdo (PTB) sobre a venda de leite com a marca Carrefour
e a diferença do preço, se comparado a produtos de outras marcas,
Odair Silvério disse que a rede cobra valor abaixo do líder de
vendas, tendo, por outro lado, segundo ele, as vantagens da
qualidade e do acompanhamento da produção por um funcionário da
empresa. Márcio Kangussu (PPS) perguntou, ainda, sobre a compra de
produtos lácteos de outros Estados. Esse questionamento teve como
resposta de Levy Nogueira que essas aquisições são motivadas pelo
sistema tributário em vigor em Minas Gerais.
REQUERIMENTOS APROVADOS
Ainda durante a reunião, foram aprovados quatro
requerimentos. Três do deputado Luiz Fernando Faria (PPB): o
primeiro solicita às empresas varejistas presentes à reunião
demonstrativos detalhados da formação dos preços de leite praticados
em suas lojas nos dias a serem posteriormente indicados; o segundo,
que a empresa Carrefour apresente cópias dos acordos nacionais de
compra e fornecimento firmados com fornecedores mineiros de produtos
lácteos no presente ano; e o terceiro requerimento convida a
participar da reunião, no dia 8 de novembro, na cidade de Passos, a
Cooperativa de Laticínios de São Sebastião do Paraíso e a empresa
Manteiga Aviação Ltda. Já o deputado Cristiano Canêdo (PTB)
requisitou à Secretaria de Estado da Fazenda o envio de relatório
informando as aquisições e outras operações de transferência
patrimonial, como fusões, incorporações e outras, de
estabelecimentos de laticínios e de grandes redes de supermercados
ocorridas no Estado nos últimos cinco anos, inclusive com o nome das
pessoas jurídicas envolvidas. Requereu, ainda, informações sobre a
situação fiscal atual dessas empresas e se prosseguem na atividade
ou não.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados João Batista de Oliveira (PDT), presidente
da CPI; Luiz Fernando Faria (PPB), relator; Antônio Andrade (PMDB),
Cristiano Canêdo (PTB), Márcio Kangussu (PPS), Bilac Pinto (PFL),
Paulo Piau (PFL), todos integrantes da Comissão; e ainda Jorge
Eduardo de Oliveira (PMDB), Bené Guedes (PDT) e Rêmulo Aluise (PFL),
além de Márcio Carvalho, da Faemg (Federação da Agricultura), e de
Amauri Artimos da Matta, da Promotoria de Justiça do Procon Estadual
da Área de Alimentação.
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