CPI das Carvoarias discute terceirização de trabalhadores
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das
Carvoarias discutiu, nesta terça-feira (6/11/2001), com dois
auditores fiscais do Trabalho, o conteúdo do relatório apresentado
pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT/MG) sobre a fiscalização
ocorrida entre 27 e 31 de agosto de 2001 nas áreas de extração de
carvão. Diante das denúncias feitas pelos sindicatos que representam
os trabalhadores da indústria extrativa do Estado, que acusaram
irregularidades na produção do carvão, o órgão viabilizou uma
vistoria na área de atuação da Acesita Energética. Segundo foi
constatado pelos fiscais, o principal problema diz respeito à
terceirização da mão-de-obra na produção carvoeira.
O sistema de utilização dos trabalhadores na
indústria extrativa foi a questão que mais chamou a atenção do
auditor fiscal Marcelo Gonçalves Campos, que coordena o grupo de
fiscalização rural da DRT/MG. Campos declarou que a prática da
terceirização é ilegal e acarreta, inclusive, graves conseqüências
para o trabalhador. "O modelo de exploração da mão-de-obra não é
permitido pela legislação. A atividade-fim de uma empresa não pode
ser objeto de terceirização, como, por exemplo, a faxina e a
segurança. Creio que os problemas enfrentados nascem em função dessa
irregularidade de cunho trabalhista. Na maioria dos casos, o vínculo
empregatício inexiste", afirmou o auditor.
Campos disse que as empresas que adotam o processo
de terceirização não assumem as obrigações sociais com o empregado.
"O prejuízo para a classe trabalhadora é enorme, pois ela não recebe
os benefícios e os direitos garantidos por lei, como o fornecimento
de cestas-básicas, tickets-refeição e assistência médica", salientou
Campos. "Averiguamos essas irregularidades e encaminhamos o
relatório para o Ministério Público do Trabalho, pois a competência
para se adotarem as providências cabíveis não é nossa. O nosso dever
é relatar e à Justiça Trabalhista cabem as sanções."
SUBDELEGADA CITA MODIFICAÇÕES NOS LOCAIS
AVERIGUADOS
Marcelo Campos informou que voltará em breve, junto
com o grupo de inspeção, ao local das atividades da indústria
extrativa para averiguar a situação depois da ação fiscal feita há 4
meses. Ele salientou ainda que, durante a visita, filmada pelos
auditores, não constatou os problemas colocados pelos sindicalistas
que denunciaram a situação dos carvoeiros. "No geral, as condições
de saúde, segurança e moradia encontradas são razoáveis, se
comparadas às acusações recebidas. É importante frisar que o
relatório espelha a situação de momento do local investigado,
portanto pode ter havido modificações relevantes. Tive a preocupação
de não desqualificar as denúncias do sindicatos", declarou.
A subdelegada do Trabalho de Betim, Valéria Guerra
Mendes, que também fez parte do grupo que inspecionou o setor de
trabalho da Acesita Energética, sendo responsável pela área médica,
corroborou a opinião de Marcelo Campos. Segundo ela, houve indícios
de que várias modificações foram feitas nos locais averiguados pelo
grupo de auditores. "Tive a impressão de que a Acesita promoveu
algumas mudanças e melhorou as condições dos trabalhadores. Percebi
construções novas nos locais destinados à refeição e aos sanitários.
No que diz respeito ao transporte, constatamos que os trabalhadores
eram levados em ônibus adequados", afirmou Valéria Guerra Mendes.
REQUERIMENTOS APROVADOS
Na reunião, foram aprovados ainda cinco
requerimentos. O primeiro, da deputada Elbe Brandão (PSDB), solicita
a realização de uma audiência pública na região de Capelinha com
lideranças políticas, sindicais e da sociedade para discutir a
situação dos trabalhadores terceirizados pela Acesita e outras
empresas. Outro requerimento apresentado pela mesma deputada convida
a participar de reunião da CPI o representante legal do Ministério
Público do Trabalho e do Tribunal de Justiça do Trabalho.
O deputado Márcio Cunha (PMDB) teve três
requerimentos aprovados. O primeiro solicita as filmagens e as
fotografias realizadas durante a visita dos auditores fiscais à área
da Acesita Energética. O segundo convoca Adib Teymene, Ramsés Regis
Duarte e João Paulo Mendes, da Delegacia Regional do Ministério do
Trabalho em Teófilo Otoni; e Geraldo Cezário, Renato César e
Jaqueline Borges Dinis, da Delegacia Regional de Curvelo. O último
requerimento convida a participarem de reunião da CPI os
representantes legais da Manesmann, Companhia Agrícola Florestal
(CAF), Suzano e Gerdal.
Presenças
Estiveram presentes à reunião os deputados Adelmo
Carneiro Leão (PT), presidente da Comissão; Fábio Avelar (PTB),
vice-presidente; Bilac Pinto (PFL); Dalmo Ribeiro Silva (PPB);
Márcio Cunha (PMDB); Doutor Viana (PMDB); Márcio Kangussu (PPS); e a
deputada Elbe Brandão (PSDB), relatora.
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