Inadequação de municípios impede a efetivação do Peti

A dificuldade de adequação dos municípios foi apontada, pelos convidados da Comissão do Trabalho, da Previdência e da...

11/12/2001 - 17:56
 

Inadequação de municípios impede a efetivação do Peti

A dificuldade de adequação dos municípios foi apontada, pelos convidados da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social na reunião desta terça-feira (30/10/2001), como o grande empecilho à efetivação do cadastramento de crianças no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) em Minas Gerais. O deputado Márcio Kangussu (PPS), autor do requerimento que originou a reunião, iniciou os trabalhos dizendo que é inconcebível e inaceitável que um programa de tamanho alcance social fique prejudicado por questões políticas, como vem sendo veiculado na imprensa. O deputado cobrou uma melhor articulação dos programas e um eixo nas políticas públicas, para que os recursos cheguem aos necessitados.

"É um problema mais operacional do que político", afirmou a superintendente de Assistência Social da Secretaria de Estado do Trabalho, Ação Social e da Criança e do Adolescente (Setascad), Tereza Delamare. De acordo com ela, a maioria das prefeituras não está apta a receber os benefícios do Programa, uma vez que, para tal, os municípios deveriam se capacitar, constituindo as Comissões para Erradicação do Trabalho Infantil e identificando e cadastrando as demandas existentes. A superintendente também disse que algumas prefeituras não possuem a Certidão Negativa de Débito, inviabilizando o repasse dos recursos pelo Governo Federal. "O Peti é um programa complexo, que exige participação dos municípios e da sociedade civil", comentou.

O Programa - Tereza Delamare informou que o Peti é destinado a crianças de 7 a 14 anos que realizam atividades degradantes. O Programa concede uma bolsa de R$ 40,00 para as famílias de municípios com mais de 250 mil habitantes e de R$ 25,00 para famílias de municípios com menos de 250 mil habitantes. Há, ainda, uma bolsa de R$ 20,00 por família para financiar a Jornada Ampliada, uma etapa do Peti que realiza atividades pedagógicas e oferece apoio psicológico às crianças, fora do horário escolar, com o objetivo de mantê-las longe do trabalho. O Peti atende de maneira efetiva, atualmente, 3.985 crianças, em 48 municípios. A meta, até o início de 2002, é que o Programa beneficie 182 municípios e cerca de 40 mil crianças no Estado.

CONTRAPARTIDA E PARTICIPAÇÃO

A gerente nacional do Peti, Nilda Lourdes Pala Moraes, do Ministério do Trabalho, disse que o objetivo do Programa não é substituir a renda da criança, mas, sim, complementar a renda familiar. "Não bastam medidas paliativas, é preciso tirar as famílias da situação de pobreza e vulnerabilidade", comentou. Para Nilda Moraes, o Programa foi concebido para se realizar de forma articulada entre as esferas federal, estadual e municipal. Ela citou, entre as dificuldades de efetivação dos cadastramentos, a viabilização da documentação das crianças que, muitas vezes, não possuem nem certidão de nascimento. Nilda Moraes informou que dos últimos 44 municípios que tiveram a expansão autorizada, apenas dez conseguiram se adequar para receber os recursos. Ela cobrou maior atuação das Comissões Municipais e da Comissão Estadual para a implementação do Programa. "As Comissões não funcionam efetivamente e os recursos só podem ser repassados quando as crianças estão na escola e na Jornada Ampliada", concluiu.

A representante do Ministério do Trabalho, Elvira Míriam Veloso de Melo, falou que a fiscalização vem sendo feita, mas que se faz necessária uma contrapartida do Estado e dos municípios. Ela salientou a necessidade de ampliação da equipe técnica de apoio ao Programa, que conta apenas com oito pessoas para os 853 municípios mineiros. Elvira Melo disse que a proposta só tem dado resultado em municípios onde há vontade política.

"O Programa, sozinho, não resolve a situação. Temos a Bolsa Escola, que libera R$ 150,00 para as famílias e não consegue erradicar o trabalho infantil. Falta coerência aos programas que levam receita às famílias destas crianças, como o Bolsa Escola, onde a criança pode estudar e continuar trabalhando", comentou Elvira Veloso. Ela também salientou a necessidade de maior participação das Comissões Municipais e Estaduais para Erradicação do Trabalho Infantil. Segundo Elvira Melo, no último relatório apresentado pelo Unicef foi apontado que 387 mil crianças em Minas Gerais são vítimas do trabalho infantil, ficando o Estado atrás, apenas, da Bahia.

Requerimentos

A Comissão também aprovou sete proposições que dispensam a apreciação do Plenário e dois requerimentos. O primeiro, do deputado Pastor George (PL), solicitando a realização de reunião conjunta da Comissão com a Comissão de Turismo, Indústria e Comércio, para discutir o Projeto de Lei (PL) 1.297/2000, do deputado Márcio Kangussu (PPS), que dispõe sobre a implantação e os valores do piso salarial de que trata o artigo 7º, inciso V, da Constituição da República, definindo piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho.

O outro requerimento, do deputado João Leite (PSB), pede a realização de visitas da Comissão aos municípios do interior do Estado, para verificar as condições de implantação do Peti, convidando representantes das centrais sindicais, da Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Infantil, do Ministério do Trabalho e da Previdência Social e do Ministério Público.

Presenças

Participaram da reunião os deputados Bené Guedes (PDT), Luiz Menezes (PPS), Márcio Kangussu (PPS) e João Leite (PSB).

 

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