Comissão debate ações para fortalecer a Educação
Infantil
O apoio dos deputados estaduais na aprovação das
leis que virão regulamentar a Educação Infantil, seja no âmbito
federal ou estadual, foi a principal reivindicação encaminhada pelos
representantes de entidades mineiras, envolvidas com a Educação
Infantil no Estado, à Comissão de Educação, Cultura, Ciência e
Tecnologia. A audiência pública foi realizada nesta quarta-feira
(17/10/2001), a pedido do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB).
Segundo o deputado, que participou do último Fórum Mineiro de
Educação Infantil, realizado no mês de setembro passado, é
fundamental ampliar o debate sobre essas questões e comprometer a
Assembléia Legislativa no encaminhamento de ações que são da sua
atribuição, para minimizar o quadro de carências deste segmento.
Os representantes das entidades fizeram um relato
sobre as dificuldades que este segmento da Educação vem enfrentando,
desde o início do processo de municipalização da Educação Infantil,
que provocou o fechamento de várias escolas e o funcionamento
precário das demais, em função da falta de prioridade e de recursos
para investimento neste segmento. O representante da União Nacional
dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-MG), o professor
Sebastião Neto, afirmou que, na transferência para os municípios da
responsabilidade sobre a Educação Infantil, que abrange o
atendimento às crianças de 0 a 6 anos, não se definiu o grau desta
responsabilidade para cada um dos entes federados e nem as fontes de
financiamento deste segmento, comprometendo a continuidade deste
atendimento em vários municípios.
Sebastião Neto citou que hoje existem perto de 17
milhões de crianças na faixa de 0 a 6 anos que estão fora da escola.
Apesar da Educação Infantil não ser obrigatória, mas uma opção dos
pais, a demanda por vagas é grande, e boa parcela destas 17 milhões
de crianças estariam buscando essas vagas se elas existissem.
Citando uma pesquisa norte-americana, que demonstra que para cada
US$ 1 não investido em Educação Infantil são necessários US$ 7 para
reparar a falta de atendimento naquele período, Sebastião Neto
afirmou que os municípios não estão se recusando a assumir essa
responsabilidade, mas não têm como viabilizar o programa de Educação
Infantil por falta de verbas e de fontes para financiá-los. "E essa
não é uma situação exclusiva dos pequenos municípios, mais carentes,
mas de todos eles" - afirmou o professor.
Municipalização promoveu a privatização da educação
infantil
A professora da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Lívia Fraga, afirmou que houve uma perda grande do
número de vagas na Educação Infantil durante o processo de
transferência das vagas estaduais para os municípios. Em 1998, essa
redução chegou a 35 mil vagas e, em 2000, ficou em 27 mil vagas, com
uma pequena recuperação, mas ficando ainda abaixo dos números de
1993. Só em Belo Horizonte, essa redução chegou a 11 mil vagas.
"O que observamos nesse processo é que está havendo
uma desresponsabilização do Estado pela educação infantil, ao mesmo
tempo em que registramos um aumento crescente da oferta de vagas nas
escolas privadas" - denunciou a professora. Lívia Fraga propôs à
Comissão de Educação que faça uma pressão junto aos deputados
federais de Minas para que regulamentem um dispositivo da
Constituição Federal, que prevê o regime de colaboração entre os
entes federados, viabilizando parcerias mais efetivas entre eles na
condução das políticas públicas.
A representante do Fórum Mineiro da Educação
Infantil, a professora Gláucia Sander, fez também um relato sobre as
carências deste segmento, citando que a grande dificuldade que
enfrentam hoje é a mudança da orientação sobre esse atendimento,
antes operacionalizado pela assistência social e destinado àquelas
parcelas necessitadas da população, e, agora, reconhecido como um
direito educacional das crianças, o que exige a maior qualificação
da mão-de-obra que atua no setor e maior oferta de vagas.
Outra necessidade, na avaliação da professora, que
já poderia estar equacionada, é a da identificação da demanda do
setor, pois o fato de existirem crianças na idade de 0 a 6 anos não
significa que todas irão precisar desse atendimento. O conhecimento
dessa demanda é, no entanto, fundamental, para que o município
planeje seus investimentos e atividades para esse segmento. "A
quantificação dessa demanda poderia ser obtida juntamente com o
cadastro escolar, mas a Secretaria do Estado da Educação não aceita
incluir essa questão no cadastro, pois teme estimular uma demanda
que amanhã não poderá ser atendida" - explicou a professora,
questionando, no entanto, o posicionamento da Secretaria.
Representante dos pais sugere instalação de CPI
O presidente da Federação das Associações de Pais
de Alunos do Estado de Minas Gerais (Fapaemg), Mário de Assis,
lembrou o início do processo de municipalização da Educação Infantil
e das condições que foram anunciadas na época para estimular essa
transferência, como a garantia de recursos do Fundef e a manutenção
dos professores nas escolas. "O próprio governador Itamar Franco,
durante a campanha eleitoral, prometeu dar prioridade à educação
infantil, mas o dinheiro não apareceu, as professoras voltaram para
o Estado e até agora nada foi feito para este segmento da Educação"
- afirmou Mário de Assis, defendendo a instalação de uma CPI da
Educação para investigar os desacertos das políticas de educação em
Minas.
O Brasil está vivendo um estelionato social
O juiz de Direito da Infância e da Juventude,
Geraldo Claret, defendeu que a legislação brasileira é clara ao
definir a prioridade absoluta do atendimento das necessidades das
crianças e dos adolescentes e a responsabilidade dos municípios de
implementar a Educação Infantil. Para ele, se os municípios não
estão cumprindo essa determinação constitucional, o Poder Judiciário
deve ser acionado para garantir esse cumprimento. "Qualquer
associação com mais de um ano de atividade, ou o Ministério Público,
estão em condições de assinar uma ação judicial para garantir o
atendimento dessas crianças" - disse ele.
O juiz da Infância e da Adolescência afirmou que a
falta de regulamentação de alguns dispositivos constitucionais não
pode ser argumento para o descumprimento da lei maior do País, que é
a Constituição brasileira de 1988, e, mesmo a falta de verbas para
investir no segmento, não é uma justificativa aceitável, pois os
recursos existem, o que falta é definição de prioridade para
aplicação desse dinheiro. "E a Constituição, no seu artigo 127, já
determinou que a prioridade absoluta é o atendimento da criança" -
insistiu Claret, citando que, é imoral e inconcebível que se asfalte
um quilômetro de estrada que seja, enquanto houver uma criança com
fome no País.
Geraldo Claret ponderou ainda que a classe dos
excluídos é a que mais paga imposto no País, se for considerado o
princípio da proporcionalidade. Do que se gasta para a compra de uma
cesta básica, em torno de R$ 26,00, quase R$ 13,00 são impostos que
são recolhidos aos cofres públicos. O preço de uma lata de óleo, que
está em torno de R$ 1,20, embute pelo menos R$ 0,60 de impostos e
assim é com todos os serviços que são utilizados pelas famílias mais
pobres, como luz, água e outros. "Esses impostos são cobrados e
arrecadados junto à população carente brasileira, mas são
distribuídos de acordo com as prioridades das classes mais ricas.
Por isso digo que estamos vivendo no Brasil um verdadeiro
estelionato social" - afirmou o juiz.
Ele frisou, ainda, que o tempo da criança é hoje,
porque a medida em que os dias vão passando as suas necessidades vão
mudando e o mal torna-se irreparável. "É preciso que cessem as
discussões em torno de quem deve assumir essa responsabilidade,
sobre qual fonte vai financiar o segmento. É preciso fazer cumprir a
lei e a lei é clara: a responsabilidade é do município e a
prioridade é a criança" - defendeu ele.
Várias professoras e dirigentes de creches na
Região Metropolitana de Belo Horizonte deram o seu depoimento
durante a audiência pública, reivindicando a atuação da Comissão de
Educação para encaminhar as propostas que poderão vir minimizar o
quadro de carências deste segmento. O presidente da Comissão de
Educação, deputado Paulo Piau (PFL), coordenou os trabalhos e
reafirmou o compromisso da Assembléia Legislativa de se engajar
nessa luta.
Parecer aprova concessão de ingressos gratuitos em
eventos esportivos
Durante a reunião da Comissão de Educação, Cultura,
Ciência e Tecnologia, foi aprovado ainda o parecer favorável às
subemendas e emendas apresentadas em Plenário ao Projeto de Lei (PL)
521/99, de autoria do deputado Antônio Júlio (PMDB), que modifica a
legislação existente autorizando o Poder Executivo a conceder
ingresso gratuito a menores - de 5 a 12 anos de idade - e a
profissionais e autoridades, em competição esportiva realizada em
estádio e praça de esportes de propriedade do Estado. A alteração
visa estender o benefício aos árbitros de futebol.
Na fase de discussão do projeto em Plenário, o
deputado Mauri Torres (PSDB) apresentou a subemenda nº 1 à emenda nº
1 e a emenda nº 2, e o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) apresentou
a emenda nº 3. A emenda nº 1, apresentada pela Comissão de Educação,
aperfeiçoa o texto da proposição, especificando que o benefício se
destina aos árbitros de futebol devidamente registrados na Federação
Mineira de Futebol ou em ligas regionais e municipais. Segundo o
relator, deputado José Henrique (PMDB), a subemenda nº 1 à emenda 1,
apresentada em Plenário, é restritiva e não deve ser acatada, pois
passam a ter direito ao benefício apenas os árbitros registrados no
Sindicato dos Árbitros de Futebol.
A emenda nº 2 modifica o artigo 1º da proposição,
que altera a redação do art. 2º da Lei 12.186, de 5 de junho de
1996, trazendo uma inovação quanto ao controle de acesso ao local do
evento. Tanto a lei em vigor quanto o texto da proposição
estabelecem que o acesso deva ser feito por portaria especial. A
emenda nº 2 estabelece que o acesso será feito por meio de carteira
especial, a ser expedida pela Administração do Estádio do Estado de
Minas Gerais (Ademg). Mantendo a proposta de criação da carteira
especial, o relator apresentou, no entanto, uma subemenda à emenda
2, estendendo os benefícios aos ex-jogadores de futebol.
A emenda nº 3 restringe o benefício aos árbitros de
futebol que comprovem a presença nos eventos por motivos técnicos,
como participação em programas de televisão, redação de matérias
jornalísticas ou prestação de serviço a clubes amadores. No seu
parecer, o deputado José Henrique (PMDB) optou por não acatar essa
parte da emenda, mantendo, no entanto, na forma de uma subemenda, a
parte que altera a cláusula de vigência, estabelecendo, em
substituição, que a lei deverá ser regulamentada pelo Poder
Executivo no prazo de 120 dias. O parecer foi aprovado com a
abstenção do deputado Paulo Piau (PFL). A Comissão aprovou ainda
cinco projetos que dispensam a votação em Plenário e tratam de
declaração de utilidade pública.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Paulo Piau (PFL), presidente da Comissão,
Antônio Carlos Andrada (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva (PPB) e José
Henrique (PMDB).
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