CPI do Preço do Leite ouve donos de indústrias de
laticínios
Audiência pública da CPI do Preço do Leite, com a
participação de diversos representantes de indústrias de laticínios,
foi realizada nesta terça-feira (16/10/2001), dando continuidade à
série de reuniões que a Comissão está realizando com o objetivo de
colher subsídios para as investigações. A produção do leite longa
vida; o futuro fechamento da fábrica da Parmalat em Itamontes e o
fechamento de fábricas da Nestlé na região de Montes Claros; além do
preço pago, pela indústria, aos produtores foram alguns dos aspectos
abordados na reunião. A CPI foi criada para apurar os mecanismos de
formação do preço do leite na indústria e no comércio e investiga
indícios existentes de cartelização.
O presidente da Cooperativa Central dos Produtores
Rurais (CCPR) e da Itambé, José Pereira Campos Filho, afirmou que a
empresa processa 3 milhões e 500 litros de leite por dia, sendo a
terceira maior indústria de laticínios do País. Segundo ele, nos
últimos 10 anos, houve uma mudança no perfil da produção do
segmento, o que gerou grandes desvantagens, obrigando o produtor a
modernizar suas atividades para competir no mercado externo. José
Pereira disse que o leite longa vida responde por apenas 6% da
produção da indústria. Ele afirmou que a empresa paga ao produtor,
pelo litro de leite, aproximadamente R$ 0,35 e que o valor médio de
venda para os supermercados é de R$ 0,86, dependendo da compra.
O presidente da Vigor, Carlos Alberto Mansur, disse
que a indústria tem uma baixa participação no mercado mineiro, mas
compra 50% do leite em Minas Gerais. Ele afirmou que o preço pago
pelo litro de leite em embalagem longa vida é de R$ 0,23, em
média.
Anúncio do preço - Já o
gerente de Assuntos Políticos da Nestlé, Pedro Simão Filho, afirmou
que a participação da empresa na produção de leite longa vida é
baixa e que a companhia trabalha com mais de 1,2 mil produtos.
Segundo ele, 50% do leite são captados em Minas e a quantidade de
leite comprado já cresceu 15%, se comparada ao ano passado. Pedro
Simão salientou que a empresa anuncia 30 dias antes o preço pago a
todos os produtores, "o que é uma oportunidade de o produtor saber
se o preço lhe interessa ou não". Ele disse que os baixos preços
pagos aos produtores devem-se à crise energética e afirmou, ainda,
que o preço cresceu 13% nos últimos meses. "Em média, pagamos entre
R$ 0,28 e R$ 0,36 por litro ao produtor e R$ 0,26 pela embalagem",
afirmou.
O gerente nacional de Política Leiteira da Danone,
Fernando Friederichs, disse que a empresa adquire 500 mil litros de
leite por dia e aproximadamente 50% são captados em Minas e que o
preço da embalagem varia entre R$ 0,23 e R$ 0,24. O presidente da
Cemil, Mozart Pacheco, afirmou que a empresa só trabalha com leite
longa vida, sendo todo ele adquirido em Minas Gerais e que o preço
da embalagem é responsável por 27% de todo o custo.
PARMALAT JUSTIFICA FECHAMENTO DE INDÚSTRIA EM
ITAMONTES
O diretor da Parmalat, Jorge Parente, criticou a
falta de política governamental em relação ao setor leiteiro e
afirmou que apenas 7,5% da compra do produto são feitas no Estado.
Questionado pelo relator da CPI, deputado Luiz Fernando Faria
(PPB), sobre o futuro fechamento da indústria em
Itamontes, ele justificou o fato pela complexidade do mercado,
ausência de modernidade empresarial, a falta de apoio do governo
estadual e grande concorrência. Segundo ele, em média, o preço pago
ao produtor é de R$ 0,34, sendo o item vendido por R$ 0,84 aos
supermercados. Justificativa no mesmo sentido foi feita pelo
representante da Nestlé ao deputado Márcio Kangussu (PPS) quanto ao
fechamento de fábricas na região de Montes Claros.
Faemg - O presidente da Federação da
Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Gilman Viana
Rodrigues, que está acompanhando todas as reuniões da CPI,
questionou o baixo preço pago aos produtores e a manutenção do preço
aos consumidores. Segundo ele, o consumo do leite será incentivado
com a diminuição do preço. O relator, deputado Luiz Fernando Faria
(PPB), solicitou, por meio de requerimento, a indústrias
beneficiadoras e transformadoras de leite, as planilhas de custos do
mix de produtos lácteos e informações
sobre o volume de leite adquirido para a fabricação de cada um
desses componentes. Ele indagou sobre o diferencial pago pela Nestlé
ao produtor, tendo recebido de Pedro Simão Filho a informação de que
o preço varia de acordo com volume e gordura produzida, entre outros
aspectos.
RELAÇÃO ENTRE INDÚSTRIA E SUPERMERCADOS
"A CPI deve tratar de toda a cadeia do leite, não
apenas do leite longa vida", opinou o deputado Antônio Andrade
(PMDB). Ele solicitou das indústrias participantes da reunião desta
terça-feira informações sobre a participação das empresas (ou sobre
a existência de convite às mesmas) em reuniões para definição de
preços pagos aos produtores de leite, nos últimos 24 meses. Na
oportunidade, todos os representante afirmaram desconhecer convite
nesse sentido.
O presidente da Comissão, deputado João Batista de
Oliveira (PDT), perguntou sobre o preço pago a produtores e o
vendido nos supermercados, indagando sobre a margem de lucro das
indústrias. Questão no mesmo sentido foi feita pelo deputado
Cristiano Canêdo (PTB). João Batista de Oliveira afirmou, ainda, que
o leite vendido em supermercados e padarias tem diminuído o preço
após o início dos trabalhos da CPI. O deputado Márcio Kangussu (PPS)
questionou a relação entre indústrias e supermercados. O presidente
da Itambé, José Pereira Campos Filho, afirmou que 70% do produto é
vendido aos supermercados e que cada um possui uma forma de
negociação para compra.
REQUERIMENTOS APROVADOS
Ainda durante a reunião, foram aprovados outros
três requerimentos. O deputado Paulo Piau (PFL) pede que seja ouvido
o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(Fiemg), Stefan Bogdan Salej, e que seja convidado a participar dos
trabalhos da Comissão o presidente da Cooperativa Agropecuária Vale
do Rio Doce, do município de Governador Valadares, Wellington
Siveira de Oliveira Braga. Já o deputado Márcio Kangussu (PPS), em
requerimento, solicita que sejam convidados a prestar
esclarecimentos sobre o comércio de importação de leite em pó e
derivados os representantes da empresa Alterosa Armazéns
Gerais.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados João Batista de Oliveira (PDT), presidente;
Paulo Piau (PFL), vice-presidente; Luiz Fernando Faria (PPB),
relator; Antônio Andrade (PMDB), Cristiano Canêdo (PTB), Márcio
Kangussu (PPS), Dimas Rodrigues (PMDB), Jorge Eduardo de Oliveira
(PMDB) e Mauro Lobo (PSB). Além dos convidados já citados,
participaram da reunião o promotor Amauri Artimos da Matta, da
Promotoria de Justiça do Procon Estadual da Área de Alimentação; o
diretor comercial da Cotochés, João Maroca Russo; o presidente da
Vigor, Carlos Alberto Mansur; o gerente administrativo da Dona Vaca,
Roneyson Brito de Oliveira, prefeitos, vereadores e proprietários
rurais de diversos municípios.
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