A Campanha de Valorização da Residência Médica e as
reivindicações por ela apresentadas foram discutidas na reunião da
Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social desta terça-feira
(2/10/2001). Médicos residentes, que reivindicam a garantia dos direitos
previstos em lei federal, participaram da reunião.
A coordenadora da área da Saúde do Trabalhador da
Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, Jandira Maciel, apontou os
principais pontos considerados por ela fracos na formação do profissional
da medicina. Para a coordenadora, a saúde pública, informações sobre o
Sistema Único de Saúde (SUS) e a ética profissional "precisam entrar na
agenda de formação do médico desde o curso de graduação até a residência",
para a valorização do profissional.
Históricos mundial e nacional da residência médica foram
apresentados pelo presidente da Associação dos Médicos Residentes da
Fhemig, Ricardo da Cruz Lage. De acordo com os históricos, o conceito de
residência foi lançado, no mundo, no século XIX, mas, no Brasil ele só se
apresentou na década de 30. Na década de 40, já havia programas de
residência médica no País, mas só na década de 60, foi assinalado um
aumento de interesse e demanda pela residência. Segundo Ricardo da Cruz
Lage, na década de 60, houve o início da deturpação da residência médica,
quando os residentes começaram a ser vistos como mão-de-obra barata.
O presidente da Associação disse que a Campanha Nacional
de Valorização da Residência Médica apresentou a pauta de reivindicações
da categoria no início de 2000, no sentido de garantir o que já está
previsto na Lei Federal 6.932. Nela, além dos deveres dos médicos
residentes, estão os seus direitos, como bolsa de estudo, alimentação e
alojamento, benefícios previdenciários e "licença gestação". Mas, de
acordo com Ricardo da Cruz Lage, as negociações com o Ministério da Saúde
só foram abertas depois da decisão de paralisação por tempo indeterminado,
no dia 12 de agosto deste ano. O presidente disse que ficou acordado
reajustes das bolsas de estudo e discussão das demais reivindicações dos
médicos residentes. Para ele, "muita coisa pode ser feita no âmbito
estadual, como discutir a questão do auxílio moradias e zelar pela
qualidade da residência".
CRISE DECORRE DO MODELO ECONÔMICO
Para o conselheiro do Conselho Regional de Medicina de
Minas Gerais (CRMMG), Roberto Marini Ladeira, é impossível desassociar a
crise da residência médica ao modelo econômico do País. Ele disse que a
preocupação do CRM se inicia na fase de graduação do médico e não se
acaba, defendendo uma educação continuada do profissional. O conselheiro
criticou a proliferação das escolas médicas, que, segundo ele, acarreta um
contingente maior de pretendentes do que de vagas e leva os residentes a
realizarem cursos de especialização "de qualidade duvidosa".
A situação dos médicos residentes, também para o
presidente do Instituto Teotônio Vilela - Seção Minas Gerais, professor
Aluísio Pimenta, é um problema nacional. Ele disse que em 1964, quando foi
reitor da UFMG, 70% das vagas do ensino no País eram públicas e 30%
privadas e, hoje, a situação se inverteu. Ele prevê que em Minas Gerais,
em breve, o ensino privado seja detentor de 80% das vagas de ensino
superior. Pimenta apoiou a educação permanente e continuada do
profissional e dos médicos residentes.
O representante da Federação Nacional dos Médicos na
Comissão Nacional de Residência Médica, Guilherme Ribeiro Câmara, lembrou
que "o médico residente é um profissional fazendo pós-graduação". Ele
ressaltou a importância de se aumentar o número de residências em Minas.
De acordo com dados apresentados por ele, hoje são 676 residentes do 1º
ano no Estado, em 244 programas nas várias especialidades médicas.
PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputados Dalmo Ribeiro Silva
(PSD), presidente da Comissão; Bené Guedes (PDT), vice-presidente; João
Leite (PSB); e Luiz Menezes (PPS); além dos convidados já citados e ainda
Otaviano Correa da Veiga Lima, assessor da Diretoria de Ensino e
Pesquisa/Pós-graduação da Fhemig.