É necessário mudar a situação das universidades públicas
federais, principalmente no que tange aos salários dos servidores. A
opinião foi consenso entre os convidados que participaram da reunião da
Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia realizada nesta
quinta-feira (27/9/2001), na Assembléia, quando foi debatida a greve da
rede pública de ensino superior federal, iniciada no dia 25 de julho de
2001.
A União Nacional dos Estudantes (UNE), representada pelo
diretor Fernando Máximo, elaborou, conjuntamente com diretórios acadêmicos
de universidades de todo o país, uma proposta de reforma para a situação
educacional do Brasil. Iniciada em fevereiro de 2000 e concluída em maio
deste ano, a proposta, chamada de "Plano Emergencial 2001", reflete os
anseios dos acadêmicos federais e dos servidores das universidades. "Nós
queremos que o Brasil tenha um sistema de ensino qualificado e eficiente e
é fundamental que ele seja estendido a toda a população, para que a
democracia seja plena. O objetivo é solucionar os problemas por meio de
reformas estruturais amplas", afirmou Máximo.
O dirigente da UNE destacou que, enquanto o ensino
particular tem recebido incentivos do governo, fato que acarretou um
aumento de 59,1% nas matrículas das faculdades privadas no período de 1994
a 1999, as universidades federais vêm acumulando reduções orçamentárias.
"Com a redução no orçamento, o aumento das matrículas foi de apenas 21,8%
na mesma época", afirmou Fernando Máximo.
A lista de reivindicações da UNE se estende a todos os
níveis acadêmicos. Foram relacionadas na pauta de sugestões a necessidade
de autonomia universitária, a ampliação das bolsas de iniciação
científica, a abertura de concurso para a contração de mais professores e
funcionários técnicos-administrativos, a elaboração de um novo programa de
avaliação do ensino, o aumento de recursos para os hospitais
universitários, a abertura de uma assistência estudantil, a reforma
curricular e a extensão universitária. "A extensão tem uma função social
muito importante, pois ela contribui na formação profissional do aluno e
na produção de novos conhecimentos", disse o diretor Fernando Máximo.
GREVE É DECORRENTE DE PROBLEMAS
"Defendemos uma universidade pública, gratuita e de
qualidade, com um sério compromisso social e que acompanhe as
transformações que o país está sofrendo". Foi desta forma que o
coordenador geral da Federação de Sindicatos dos Trabalhadores do Ensino
Superior, Fernando Maranhão, se pronunciou sobre a necessidade de uma
resolução dos problemas nas universidades federais, que acabaram por
resultar na greve que vigora há dois meses. A Federação representa todos
os servidores técnicos-administrativos das universidades federais do
Brasil. Maranhão afirmou que os funcionários do setor administrativo não
recebem reposição salarial há sete anos e o fato causa inconformismo nas
pessoas envolvidas. "Estamos totalmente estagnados no que tange aos
salários. A realidade é grave e, como conseqüência, gera várias
dificuldades para o ensino", declarou o coordenador, que aponta uma
defasagem de 80% dos salários.
NEGOCIAÇÕES NÃO DÃO RESULTADO
"Não podemos exigir um curso com qualidade se os
rendimentos não são condizentes com o nosso trabalho. Como será a
motivação de um servidor que possui um péssimo soldo e sem perspectiva de
melhora?", questionou Maranhão. Para ele, as negociações com o governo
federal nunca se encerraram. "Apresentamos uma relação de propostas desde
1995, mas não fomos atendidos ainda. Nunca fecharemos as negociações e
espero que esta greve não perdure por mais tempo", afirmou o coordenador.
FRENTE PARLAMENTAR EM DEFESA DO ENSINO
Jairo Justino da Silva Filho, da Associação Nacional dos Docentes
do Ensino Superior (Andes), comentou que a greve é justa, pois o governo
federal faz vista grossa à situação das universidades federais
brasileiras. "A greve atinge 51 das 56 universidades federais do Brasil.
As verbas do Ministério da Educação estão sendo usadas em propagandas e
marketing. Nosso país está subordinado ao Banco Mundial e isso trava o
investimento no ensino", declarou Justino.
O deputado Durval Ângelo (PT) afirmou que todo movimento
social no Brasil é encarado como radical, sendo costumeiramente
repreendido de maneira incorreta e truculenta pela polícia. Ele sugeriu a
criação de uma frente parlamentar em defesa do ensino público, gratuito e
com qualidade. O presidente da Comissão, deputado Paulo Piau (PFL),
comentou a situação das universidades e disse que a Assembléia não irá se
furtar na fiscalização e no acompanhamento do processo da greve envolvendo
as universidades federais.
PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputados Paulo Piau (PFL),
presidente da Comissão; Dalmo Ribeiro Silva (PSD); Édson Rezende (Sem
Partido); Durval Ângelo (PT); Rogério Corrêa (PT).