Os supermercados não formam cartel de preços para a
comercialização do leite e de seus derivados. A afirmação é do presidente
da Associação Mineira dos Supermercados, Antônio Claret Nametala, que
participou da reunião desta terça-feira (25/9/2001) da CPI do Preço do
Leite, na Assembléia. Ele afirmou que "os supermercados não se reúnem com
fornecedores para negociar preços", que, segundo ele, são definidos por
cada estabelecimento, de acordo com sua conveniência comercial e a de seu
público consumidor. "Os supermercados não são o vilão da economia e lutam
por preços competitivos ao consumidor", disse ele.
Participaram da reunião representantes das principais
redes de supermercados de Belo Horizonte - Carrefour/Champion (que são da
mesma empresa), Epa/Mart Plus (também a mesma empresa), Hiper Via Brasil,
Extra e Wal Mart. Todos apresentaram à CPI notas fiscais solicitadas por
meio de requerimento, relativas às compras de leite nos meses de agosto e
setembro. Mas os deputados não ficaram satisfeitos com as informações
recebidas, porque várias das perguntas feitas aos participantes ficaram
sem resposta. Por isso, foi aprovado requerimento do deputado Márcio
Kangussu (PPS) convocando para outra reunião presidentes ou diretores das
mesmas empresas que estejam capacitados a responder aos
questionamentos.
Alguns dos pontos que ficaram sem resposta, porque os
participantes afirmaram que não sabiam dizer, foram sobre a existência de
desconto para os supermercados que pagam seus fornecedores em dia; se o
pagamento da publicidade de um supermercado é feito pelo fabricante de
determinado produto que apareça na peça publicitária; se as indústrias
contribuem com os supermercados com verbas para publicidade; e o que são
as chamadas "verba de enxoval", "verba de fidelidade", "verba de quebra",
"custo de distribuição", "pmz ou preço margem zero" e outras expressões
consideradas jargões no meio supermercadista. O presidente da Amis,
Antônio Claret Nametala, disse desconhecer o que sejam essas verbas,
porque "a entidade não participa de questões comerciais".
PREÇO É DETERMINADO PELA CONCORRÊNCIA
Gotardo Gomes de Castro, gerente de contabilidade do
Carrefour, afirmou que a empresa não cobra das indústrias por melhor
localização ou exposição dos produtos nas gôndolas e que a alteração dos
preços do leite nas últimas semanas deveu-se a uma série de promoções
feitas pela rede Carrefour, em função do aniversário da empresa. A mesma
explicação foi dada por Roberto Carlos Evangelista, gerente de compras do
Champion, supermercado que pertence à rede Carrefour. Ele afirmou ainda
que já ouviu falar sobre "verba enxoval", que seria uma verba cobrada
quando um estabelecimento novo seria inaugurado, mas disse que a prática
não existe nas redes Champion e Carrefour.
José Manoel Barbosa da Silva, diretor comercial das redes
EPA e Mart Plus, disse que o preço final de um produto é determinado pela
concorrência e pela demanda do consumidor. A mesma afirmação foi feita
pelos demais presentes: Jairo Aimorés, gerente-geral do Extra; Ideli
Pacífico, do Wal Mart, e Judemar Rodrigues de Castro, diretor do Hiper Via
Brasil. Todos afirmaram também que os supermercados, atualmente, não
trabalham com praticamente nenhum produto importado, uma vez que a
conjuntura econômica tornou as importações inviáveis para o comércio, já
que o preço final ao consumidor fica muito alto. Antônio Claret ressalvou,
contudo, que, no início do Plano Real, vários produtos eram importados,
inclusive o leite, para oferecer preços mais competitivos ao consumidor.
DEPUTADO COBRA EXPLICAÇÃO
Questionado por que os supermercados não se unem para
comprar apenas produtos mais baratos, favorecendo assim, inclusive os
pequenos produtores, Antônio Claret Nametala disse que a sugestão será
apresentada aos proprietários de supermercados, mas disse também que o que
determina a variedade de produtos oferecida ao consumidor é o próprio
consumidor. Ele disse que não sabe quais são os custos das indústrias e
que, por isso, não pode explicar a razão da diferença de preços para
produtos iguais. Mas afirmou que levará aos supermercados a sugestão da
CPI de que as empresas não comprem produtos caros.
O deputado Antônio Andrade (PMDB) cobrou uma explicação
dos supermercados para o fato de a margem de lucro, ou refaturamento, dos
supermercados sobre o preço do leite ser de aproximadamente 300%,
atualmente, ao passo que, quando o preço do leite era tabelado, a margem
ficava em torno de 40%. "A diferença de preço é absurda, e o pequeno
produtor está sendo aniquilado", disse o deputado.
Indagados pelo deputado Paulo Piau (PFL), os
representantes dos supermercados falaram qual é a margem bruta de lucro
das empresas com a venda de leite: no Via Brasil, de 15% a 18%; EPA, de 5%
a 20%; Wal Mart, de 5% a 17%; Champion, 4% a 14%; Extra, 3% a 20%. Paulo
Piau perguntou ao gerente do Carrefour, Gotardo Gomes de Castro, a razão
de os preços variarem de loja para loja, na rede. Gomes de Castro disse
que cada loja tem autonomia para definir os preços de acordo com o perfil
do consumidor, promovendo ainda ofertas de ocasião.
Márcio Carvalho, assessor econômico da Faemg, também
presente à reunião, disse que a CPI é a única instância que pode fazer com
que as empresas falem. O setor de produção, segundo ele, não quer ver
nenhuma parte da cadeia produtiva prejudicada, mas os produtores se sentem
injustiçados, porque são os mais prejudicados, disse ele. Márcio Carvalho
ressaltou ainda que esse trabalho de coordenação entre diversos setores da
cadeia produtiva deveria ser feito pelo Poder Executivo, que não está
cumprindo seu papel, que está sendo assumido pela Assembléia. Ele
cumprimentou a CPI por seu trabalho, assim como todos os demais presentes,
que colocaram-se à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.
O promotor Amauri Artimos da Matta, da Promotoria de
Justiça do Procon Estadual da Área de Alimentação, também acompanhou a
reunião e fez algumas intervenções. Ele cobrou dos representantes de
supermercados informações mais precisas e que respondam, de fato, aos
questionamentos dos deputados. O promotor disse também que o Ministério
Público está empenhado em somar esforços com a CPI para ajudar no
cruzamento de informações que possam esclarecer as dúvidas.
REQUERIMENTOS APROVADOS
Foram aprovados os seguintes requerimentos:
- do deputado Cristiano Canêdo (PTB), solicitando aos
representantes de supermercados documentos e informações sobre os preços
pagos e quantidades adquiridas de produtos lácteos, de acordo com os
respectivos fornecedores nacionais ou estrangeiros, entre outubro de 1999
e setembro de 2001, com os respectivos documentos comprobatórios, e os
preços ao consumidor, dos mesmos produtos, praticados no período
mencionado;
- do deputado Antônio Andrade (PMDB), requerendo aos
representantes de supermercados presentes à reunião as notas de compra
relativas à aquisição de leite, leite "in natura" e seus derivados, das
empresas Parmalat, Nestlé e Itambé, nos últimos 15 meses;
- do deputado Márcio Kangussu (PPS), convocando
presidentes ou diretores das redes de supermercados presentes à reunião e
que sejam os responsáveis pela política de preços do leite e demais
produtos lácteos para os consumidores nessas empresas;
- do deputado Antônio Andrade (PMDB), requerendo que seja
ouvido José Aloísio Teixeira de Souza, presidente da Empresa Nacional
Comércio Empreendimentos Ltda.;
- do deputado Marcelo Gonçalves (PDT) , solicitando que
seja realizada audiência pública da CPI na cidade de Divinópolis;
- da deputada Elbe Brandão (PSDB), solicitando reunião
extraordinária da CPI no dia 3 de outubro, para receber a comitiva de
deputados que compõem a União dos Parlamentares do Mercosul;
- do deputado Cristiano Canêdo (PTB), para que sejam
intimados a participar de reunião da Comissão a Associação Mineira da
Indústria da Panificação e representantes de diversas panificadoras,
munidas de respectivas notas fiscais de compra de leite longa vida e tipo
C, no período de agosto a setembro desse ano.
PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputados João Batista de
Oliveira (PDT), presidente da CPI; Paulo Piau (PFL), vice-presidente; Luiz
Fernando Faria (PPB), relator; Antônio Andrade (PMDB), Cristiano Canêdo
(PTB), Kemil Kumaira (PSDB), Márcio Kangussu (PPS), todos integrantes da
Comissão; e ainda Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB), Carlos Pimenta (PSDB),
Elbe Brandão (PSDB), Ivair Nogueira (PMDB), Dimas Rodrigues (PMDB) e
Agostinho Silveira (PL).