Aprovado relatório final da CPI da Saúde

Foi aprovado nesta quinta-feira (13/9/2001) o relatório final da CPI da Saúde. Entre as recomendações aprovadas está ...

13/09/2001 - 17:32

 


Aprovado relatório final da CPI da Saúde

 

Foi aprovado nesta quinta-feira (13/9/2001) o relatório final da CPI da Saúde. Entre as recomendações aprovadas está a criação da CPI do DNA, para investigar irregularidades na contratação e realização de exames para confirmação de paternidade nos processos judiciais que envolvem pessoas pobres; a instalação da CPI do Hospital de Venda Nova, para apurar problemas na construção do Hospital do Pronto-Socorro de Venda Nova; a realização de auditorias em diversos órgãos; a apuração de responsabilidades de servidores e contratados da Fundação Ezequiel Dias (Funed) na realização de contratos com dispensas e inexigibilidades de licitação; o afastamento de servidores e rescisão de contratos. O relator da CPI, deputado Edson Rezende (sem partido) ressaltou que o Poder Legislativo fez as investigações, está oferecendo vários indícios e que caberá aos órgãos competentes tomar providências quanto a possíveis irregularidades.

A CPI da Saúde apresenta uma série de recomendações aos Poderes Executivo e Judiciário, ao Tribunal de Contas (TCE), ao Ministério Público Estadual, ao Ministério Público Federal, ao Ministério da Saúde, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária e à Secretaria da Receita Federal, em Brasília, para correção das irregularidades constatadas. O relatório destaca, por exemplo, que o atual superintendente-geral da Funed, Tarcísio Campos Ribeiro, ocupa o cargo por designação do governador, expedindo atos, assumindo obrigações e respondendo pela entidade como representante legal sem que seu nome tenha sido previamente aprovado pela Assembléia, conforme estabelece o artigo 62, inciso XXIII , alínea "d" da Constituição Estadual. A CPI recomenda ao Executivo que encaminhe o nome para apreciação da Assembléia, para cumprimento do preceito constitucional.

IRREGULARIDADES EM EXAMES DE DNA

A Comissão constatou indícios de irregularidades na realização dos exames de DNA para investigação de paternidade nos processos judiciais em que o investigante for reconhecidamente pobre e recomendou a realização de auditorias nos contratos firmados entre o Núcleo de Pesquisas em Apoio Diagnóstico (Nupad) da Faculdade de Medicina da UFMG e a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os exames estão sendo realizados pelo Nupad desde 1997, por meio de contratações realizadas com dispensa de licitação, apesar de outros laboratórios no Estado estarem capacitados a realizar este tipo de exame. O último contrato firmado entre a SES e o Nupad prevê a realização de 200 exames por mês, em conformidade com o Decreto 41.420/2000, ao custo de R$ 300,00 por exame, perfazendo um valor anual de R$ 720 mil, a serem pagos com recursos provenientes do orçamento da Secretaria e do Fundo Estadual de Saúde.

O contrato com o Nupad é válido até o próximo dia 29 de setembro e, apesar de o Decreto 41.420/2000 determinar a realização de 200 exames por mês, a CPI apurou que os exames solicitados pela Justiça Estadual vêm sendo marcados para o ano de 2016. A SES declara estar atendendo a todas as solicitações judiciais, mas, segundo documentação da própria Secretaria, de janeiro a maio deste ano foram realizados somente 21 exames. Em janeiro de 2001, somente 6 foram realizados. Nos anos de 1999 e 2000, quando eram 25 os exames a serem custeados pelo Estado, mensalmente, raras vezes esse número foi alcançado. No mês de janeiro de 1999, foram realizados 12 exames e, em fevereiro do mesmo ano, apenas 5. Em março de 2000, foram realizados 6 exames e, em abril, 7. Além disso, não foram realizados exames em novembro e em dezembro de 2000.

ATUAÇÃO DA FUNED É QUESTIONADA

A CPI encontrou várias falhas na execução e controle dos contratos de fornecimento de medicamentos firmados entre a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a Fundação Ezequiel Dias (Funed). Por isso, recomenda ao TCE a realização de uma auditoria contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e operacional na Funed, no que se refere à execução de contratos para fornecimento de medicamentos da farmácia básica para a SES. A CPI também recomenda ao Poder Executivo a alteração dos critérios de fornecimento de medicamentos pela Funed à SES, visando ao atendimento do Programa de Assistência Farmacêutica Básica.

O relatório aponta que foi constatada, pela Superintendência Central de Auditoria Operacional da Secretaria de Estado da Fazenda (SCAO/SEF), a prática de intermediação e comércio, pela Funed, na aquisição de medicamentos de terceiros, onerando o Fundo Estadual de Saúde (FES). Outra recomendação é eliminar a intermediação da Funed na aquisição, pela Secretaria, de medicamentos não produzidos pela Fundação e a adoção de critérios de planejamento e controle sobre a produção e o fornecimento dos fármacos da cesta básica de medicamentos para os municípios.

Biolarvicida - Apesar de o combate direto a epidemias não ser atividade da entidade, a Funed adquiriu do laboratório cubano Labiofam S.A., por US$ 170 mil, 8,5 mil litros do biolarvicida Bactivec H-14, com recursos repassados pela SES, para controle e erradicação de larvas do mosquito da dengue, o Aedes Aegypti. A compra foi feita sem licitação, durante a gestão do ex-superintendente da Funed, Francisco Rubió. Várias irregularidades chamaram a atenção da CPI, entre elas a forma e o custo do transporte do biolarvicida de Cuba para o Brasil: o Bactivec foi trazido em um vôo charter pela "Aero Caribbean", com custo de US$ 20.970,00. A CPI questiona, entre outras coisas, qual será o destino dado ao restante do produto, 4,7 mil litros estocados na Funed e com validade até setembro de 2001.

Outras recomendações sobre a Funed são:

" planejamento global das aquisições de matéria-prima, para evitar compras com dispensa de licitação;

" determinar a real capacidade de produção de medicamentos, de pesquisas e de testes;

" reorganização da Fundação;

" auditoria para verificar o uso de R$ 2 milhões destinados pelo Tesouro à Funed, com compromisso de ressarcimento não cumprido;

" capacitar integrantes das comissões permanentes de licitação dos órgãos e entidades estaduais;

" realização de concurso público para a Funed, com a rescisão dos contratos administrativos;

" verificação de irregularidades nos pagamentos a servidores, como dupla remuneração;

" análise de contratos firmados pela Fundação.

REFORSUS, HOSPITAL DE VENDA NOVA E FHEMIG

Os projetos financiados com recursos do Programa de Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde (Reforsus) devem ser acompanhados pelo Poder Executivo Estadual e sofrer auditorias e investigações. A CPI da Saúde recomenda ao TCE a realização de auditoria contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e operacional da construção do Hospital de Pronto Socorro de Venda Nova, envolvendo o Departamento Estadual de Obras Públicas (Deop), a SES e a Fhemig, desde 1990. A recomendação de investigações sobre essas obras é feita também ao Ministério Público Estadual e Federal.

Apenas ao Poder Executivo, a CPI faz 16 recomendações sobre a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Entre elas, o envio à Assembléia de um projeto de lei reorganizando a Fundação; o planejamento da aquisições de material e contratação de serviços para evitar a dispensa de licitação; apuração de irregularidades na aquisição de materiais, vale-transporte, serviços de lavagem de roupa e fornecimento de lanches e refeições; estabelecimento de diretrizes próprias para o combate às zoonoses no Estado; concurso público e rescisão de contratos administrativos; e definição do gestor do Hospital Pronto Socorro de Venda Nova.

Também ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas são feitas recomendações. Entre elas estão:

" verificação dos procedimentos que possibilitaram à empresa de consultoria Vaz de Mello o acesso aos processos licitatórios da Fhemig;

" auditoria para verificação dos procedimentos adotados pela Fhemig com custeio do Hospital Pronto Socorro de Venda Nova;

" auditoria contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e operacional na Fundação.

CRÍTICA E CONVOCAÇÃO

O relatório ressalta a relevância das instituições de saúde do Estado, especialmente a Secretaria de Estado da Saúde, a Funed e a Fhemig e explica que a crítica tem a finalidade de inciair um processo de redefinição de suas missões e de reorganização de suas estruturas. Recomenda, portanto, várias medidas de controle da administração pública, como o estabelecimento, mediante projeto de lei, de estruturas de auditoria interna nos órgãos e entidades da administração pública direta e indireta do Estado que não as possuam; a realização de concurso público para provimento dos cargos de auditor; a adoção de procedimentos de controle, pela Secretaria de Recursos Humanos e Administração, das entidades da administração pública indireta; auditoria na folha de pagamento dos órgãos e entidades da administração pública direta e indireta; e a criação imediata do cadastro geral de imóveis do Estado.

O relatório propõe que a Comissão de Saúde da Assembléia convoque o secretário de Saúde para, trimestralmente, prestar informações sobre a execução financeira e orçamentária dos recursos destinados à saúde em Minas, a fim de que os deputados possam acompanhar a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. Apresenta, também, um Projeto de Resolução (PRE) sustando os efeitos de duas Portarias do ex-superintendente da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Francisco Rubió, que criaram duas novas gerências na instituição; e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sustando os atos dos titulares de autarquias e fundações designados pelo governador cujos nomes não forem aprovados pela Assembléia no prazo de 60 dias da indicação.

Fórum - O relatório propõe ainda, a realização de um Fórum Técnico para discutir alternativas a serem adotadas pelo gestor do SUS no Estado para implantação do modelo regionalizado de atenção à saúde, conforme determina norma do Ministério da Saúde. Outra proposta é que a Procuradoria Geral da Assembléia estude a viabilidade da apresentação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra dispositivo do artigo 4º da Lei Complementar 105/2001, que trata do sigilo das operações de instituições financeiras.

HISTÓRICO DA COMISSÃO

A Comissão Parlamentar de Inquérito foi criada para apurar denúncias formuladas pelo deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), ex-secretário de Estado da Saúde, sobre corrupção naquela Secretaria. As denúncias abrangem desde a emissão de notas falsas até o superfaturamento na Fundação Ezequiel Dias (Funed), além da terceirização desnecessária para lavagem de roupas da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Trabalhos - Os trabalhos da CPI começaram em julho de 2000, mas o prazo de funcionamento da Comissão, previsto para 120 dias, foi prorrogado devido à necessidade de aprofundamento das investigações. A CPI realizou 33 reuniões, quando foram colhidos depoimentos e aprovados requerimentos. Os deputados analisaram 18.486 páginas de documentos encaminhados à CPI, aprovaram 143 requerimentos e ouviram 56 pessoas. O relatório final tem 1.242 páginas, incluindo os documentos anexados. Foram realizadas, ainda, três visitas, sendo duas à Funed e uma ao Hospital de Venda Nova, além de visitas feitas por técnicos da Assembléia às Secretarias de Estado da Fazenda e do Planejamento e Coordenação Geral e à Coordenação do Reforsus, em Brasília, para análise de documentos.

Composição - A CPI é presidida pelo deputado Hely Tarquínio (PSDB) e tem como relator o deputado Edson Rezende (sem partido). Também integram a Comissão, como membros efetivos, os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), Alberto Bejani (PFL), Doutor Viana (PMDB), Marcelo Gonçalves (PDT) e Marco Régis (PPS).

Presenças - Participaram da reunião desta quinta (13) os deputados Hely Tarqüinio; Edson Rezende; Adelmo Carneiro Leão e Doutor Viana.

 

 

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