Demissão de jornalista é discutida em Comissão

A Comissão de Direitos Humanos reuniu-se, nesta terça-feira (11/9/2001), para ouvir o jornalista Ilson Lima sobre as ...

12/09/2001 - 09:15


 Demissão de jornalista é discutida em Comissão

 

A Comissão de Direitos Humanos reuniu-se, nesta terça-feira (11/9/2001), para ouvir o jornalista Ilson Lima sobre as supostas ameaças recebidas por ele nas dependências da Secretaria de Estado da Segurança Pública e sobre sua demissão do jornal Estado de Minas, onde atuava na Editoria de Polícia. Foi discutida também a relação desse fato com o trabalho de investigação de Ilson Lima no caso do jornalista José Cleves, também do Estado de Minas, acusado de ser o responsável pela morte de sua mulher, Fátima Aparecida de Abreu.

O diretor de Redação do jornal Estado de Minas, Josemar Gimenez de Rezende, não participou da reunião e justificou a ausência em telefonema ao presidente da Comissão, deputado Edson Rezende (sem partido). O convite ao secretário de Estado da Segurança Pública, Márcio Barroso Domingues, não teria chegado a ser feito oficialmente pela Assembléia, por decisão da Presidência da Casa. O deputado Edson Rezende (sem partido) e o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), questionaram, durante a reunião, a decisão.

JORNALISTA DÁ SUA VERSÃO PARA O FATO

Ilson Lima disse que, em agosto, esteve na Secretaria de Estado da Segurança Pública para confirmar a informação de que policiais civis estariam envolvidos no desaparecimento da bancária Daniela Cardoso, em Belo Horizonte, quando foram feitas "provocações" por parte de policiais. No dia seguinte ao fato, de acordo com Ilson Lima, o diretor de Redação do jornal Estado de Minas, Josemar Gimenez de Rezende, teria convocado uma reunião com quatro repórteres da Editoria de Polícia para falar de seu encontro com o secretário de Estado da Segurança Pública, Márcio Barroso Domingues. Dentre os profissionais convocados, estavam José Cleves e Ilson Lima - que não compareceu porque estava em reportagem externa.

Ilson Lima afirmou aos deputados que, de acordo com o relato dos jornalistas presentes à reunião, Josemar Gimenez disse ter se encontrado com o secretário para saber a opinião de Domingues sobre o inquérito relativo à morte da mulher de José Cleves. Segundo Ilson Lima, Márcio Domingues teria dito que estava insatisfeito com as matérias sobre corrupção policial veiculadas pelo jornal, que a redação era formada por viciados, delinqüentes e criminosos e que José Cleves estaria usando a estrutura do Estado de Minas para fazer uma investigação paralela à da Polícia.

"Existe censura no Estado de Minas a respeito de algumas matérias", completou Ilson Lima, que também condenou a atitude de Josemar Gimenez de falar com o secretário. "Não era papel dele fazer essa sondagem", afirmou. Ilson Lima disse ainda que seu editor, encarregado de demiti-lo, não sabia ao certo porque o fazia. Uma acusação foi feita, no entanto, por Ilson Lima: a de que o secretário teria ligado para Gimenez pouco antes dele ser despedido de suas funções no jornal. "A investigação paralela é um direito universal do jornalismo investigativo", enfatizou, também, Ilson.

Auxílio - O repórter demitido afirmou também que buscou ajuda do Sindicato dos Jornalistas, da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia e até da Polícia Federal, para que não ocorra o que aconteceu em 1997, quando foi vítima "de conluio entre a Polícia Militar e a Polícia Civil", sem detalhar o fato. "Eu não posso ser demitido desta forma. Fiquei 12 anos no Estado de Minas e recebi três Prêmios Esso", disse.

DEPUTADO E PRESIDENTE DO SINDICATO DOS JORNALISTAS TAMBÉM FALAM

Os indícios de que houve interferência indevida do secretário são muito fortes, de acordo com Ilson Lima e com os deputados que conduziram a reunião. Durval Ângelo (PT), vice-presidente da Comissão, falou sobre a atuação do jornalista na cobertura das atividades da Assembléia e condenou a atitude de Josemar Gimenez em consultar o secretário de Estado da Segurança Pública, Márcio Barroso Domingues. "O posicionamento de Ilson se pautava pela ética", afirmou.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Dinorah Maria do Carmo, falou da "troca de farpas" entre a Polícia e a Imprensa - que, segundo ela, ficam "medindo forças". "Ambas exercem papéis importantes para a sociedade, mas são papéis diferentes", ponderou. Dinorah defendeu a posição de Ilson Lima, que enviou carta ao sindicato relatando os fatos e pedindo garantia de vida. "Tomaremos todas as providências para protegê-lo. A ele e aos que precisarem", disse.

Nota - A presidente comentou também nota divulgada pela entidade, destinada, entre outros, à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e ao governador de Minas Gerais, Itamar Franco. A presidente do sindicato informou, ainda, aos deputados que recebeu uma carta de Gimenez comunicando a abertura de processo judicial contra ela por calúnia e difamação, em decorrência da divulgação da nota. Dinorah leu o texto e afirmou não ter sido leviana e nem inconseqüente em suas afirmações.

Durval Ângelo disse que vai requerer um relatório completo sobre o caso e enviá-lo ao governador e à Câmara dos Deputados para pedir providências.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Edson Rezende (sem partido), presidente da Comissão; Durval Ângelo (PT), vice-presidente; e os convidados acima.

 

 

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