Preocupada com a iniciativa do Ministério da Educação e
Cultura, que ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade,
através da Procuradoria Geral da República, contra as universidades
estaduais de Minas - Uemg e Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) - a Comissão Especial do Ensino Superior, presidida pelo
deputado Márcio Cunha (PMDB), ouviu nesta quinta-feira (6/9/2001),
representantes das duas universidades. A nota do MEC informa que a criação
das instituições foi baseada nos artigos 81 e 82 da Constituição do
Estado, que sujeita a Uemg e Unimontes à fiscalização Conselho de Estadual
de Educação, contrariando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Segundo
o MEC, a fiscalização das duas universidades é de competência do Conselho
Nacional de Educação e isto estaria causando um conflito de legislação
envolvendo a Constituição Mineira e a LDB.
O reitor em exercício da Uemg, professor José Antônio
Reis, considerou a atitude do MEC uma "trapalhada" que trouxe a
insegurança geral aos alunos, professores e dirigentes das duas
instituições de ensino. Segundo ele, houve um "equívoco" no questionamento
sobre as universidades. O reitor criticou a nota divulgada pela assessoria
de comunicação do MEC, que questiona a competência da fiscalização das
universidades, caracterizando-as de privadas. "O ato encerra um grandioso
equívoco e seria cômico se não fossem as conseqüências danosas à imagem
das duas instituições que já se fazem sentir no âmbito acadêmico e na
sociedade mineira", queixou-se.
De acordo com o reitor da Unimontes, José Geraldo de
Freitas Drumond, em matéria publicada na imprensa e distribuída durante a
reunião, a Constituinte Mineira deu à Unimontes uma roupagem jurídica mais
adequada às necessidades de sustentação orçamentária e financeira,
transformando uma fundação de direito público em uma autarquia, cuja
diferença jurídica é praticamente nenhuma, como prevê a Constituição
Federal. Disse, ainda, haver uma incoerência do Ministério da Educação,
uma vez que foi ele que promoveu o seu reconhecimento federal por meio da
Portaria 1.116, com base no parecer de n.º 232/94, do Conselho Estadual de
Educação de Minas Gerais, e que as duas universidades nunca foram
privadas.
Deputados indignados - O envio
da Adin causou reações de indignação nos deputados da Comissão. O deputado
Mauro Lobo (PSDB) considerou o ato "um escorregão do MEC" e informou que o
ministério voltou atrás e irá enviar uma outra ação, em regime de
urgência, caçando a primeira que tratava da inconstitucionalidade. O
deputado sugeriu que fosse apresentado requerimento de uma moção de
repúdio à atitude do MEC. O deputado José Braga (PMDB) disse que a
"soberania da Casa foi arranhada neste episódio" e classificou a ação como
um "excesso de formalismo". O deputado Sargento Rodrigues (PSB) afirmou
que o MEC deveria se preocupar com a greve da UFMG e não com as
universidades estaduais. "Foi uma ação direta de infelicidade", concluiu o
deputado Doutor Viana (PMDB). Sobre as informações de que o MEC iria
recapitular e retirar a ação, a deputada Maria José Haueisen (PT) disse
que consultou o jurista José Carlos Pimenta sobre o assunto e foi
informada que nada mais pode ser feito contra a Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Disse, ainda, estar preocupada com a má repercussão
que a medida causou nos meios acadêmicos.
Eleição - No início dos
trabalhos, a Comissão elegeu a deputada Maria José Haueisen (PT) para o
cargo de vice-presidente.
Presenças - Compareceram à
reunião os deputados: Márcio Cunha (PMDB), presidente; Maria José Haueisen
(PT), vice-presidente; Mauro Lobo (PSDB), José Braga (PMDB), Sebastião
Costa (PFL), Sargento Rodrigues (PSB), Doutor Viana (PMDB) e os
convidados: José Antônio Reis, reitor interino da Uemg; Paulo César de
Almeida, vice-reitor da Unimontes; Otacir Geraldo Moraes, assessor
jurídico da Uemg, professora Ana Adelina Lins, pró-reitora de Planejamento
da Uemg e José Gama Dias, pró-reitor de Administração da Uemg.
Requerimentos - Foram aprovados
os seguintes requerimentos: da Comissão, que requer seja enviado ao
Ministro da Educação moção de repúdio diante do questionamento judicial
acerca da legalidade da criação da Uemg e da Unimontes; do deputado
Sargento Rodrigues (PSB), requer seja oficiado ao governador do Estado
solicitação para o efetivo cumprimento da Lei 13.688 de 28 de julho de
2000, para lavratura de escritura de terreno para construção do Campus da
Uemg em BH; do deputado Doutor Viana, que requer seja constituído um grupo
de deputados para comparecer à presença do ministro da Educação para
discutir a ação direta de inconstitucionalidade que argüiu a legalidade da
criação da Uemg e Unimontes.