Deputados pedem proteção policial para jornalista

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Edson Resende, esteve nesta terça-feira (14/8/2001) com o Chef...

16/08/2001 - 10:45


Deputados pedem proteção policial para jornalista

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Edson Resende, esteve nesta terça-feira (14/8/2001) com o Chefe do Estado-Maior da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Severo Augusto da Silva Neto, para pedir proteção policial e garantia de vida para o jornalista José Cleves, que está sendo acusado de matar a sua mulher, em dezembro do ano passado, e para o taxista Rogério Márcio, que testemunhou o assalto sofrido pelo jornalista, quando sua mulher teria sido atingida por um dos assaltantes.

Na reunião da Comissão de Direitos Humanos desta terça-feira (14/08/2001), o jornalista José Cleves fez um relato para os deputados com sua versão sobre tudo o que aconteceu naquele dia 10 de dezembro de 2000, quando teria sido abordado por dois assaltantes na Via Expressa, na altura do bairro Camargos, em Belo Horizonte. Ele detalhou ainda todo o processo de montagem do inquérito, que está agora em fase de instrução para ser encaminhado à Justiça, e que o incrimina como responsável pela morte da sua esposa, Fátima Aparecida.

Segundo o jornalista, logo depois de encerrado o trabalho de campo da polícia, no local onde ocorreu o assalto, ele imediatamente se ofereceu para prestar um primeiro depoimento e para fazer os exames de praxe, como o que comprova ou não a presença de pólvora no seu corpo, entre outros, e que deram resultado negativo. O jornalista comentou que, apesar da polícia estar agindo com isenção, até aquele momento, ele já temia que houvesse alguma distorção na condução das investigações, em função dos desafetos que ele, José Cleves, teria na instituição, devido às matérias investigativas que publicara no jornal "Estado de Minas", envolvendo denúncias de maus policiais.

JORNALISTA APONTA INCORREÇÕES

No seu trabalho como jornalista, José Cleves acompanhou, por exemplo, as atividades da CPI da Carteira de Habilitação, instalada na Assembléia Legislativa, fazendo uma apuração independente, de investigação jornalística, e constatando o envolvimento de policiais na venda de carteiras, num trabalho que, inclusive, subsidiou as ações da CPI. Na mesma linha investigativa, o jornalista assinou, por exemplo, matérias sobre a atuação das casas de bingos; sobre uma quadrilha de assaltantes de bancos que envolvia policiais; e outra, mais recente, sobre venda de armas.

No seu relato, o jornalista apontou para os deputados várias incorreções do processo que trata da investigação do assalto e morte de sua esposa. A começar, o inquérito foi encaminhado primeiro à Delegacia Especializada de Roubo a Banco, quando deveria ter sido remetido à Delegacia de Homicídios. Dois dias depois do crime, o despacho que autorizava as buscas no local onde ocorreu o assalto já determinava que ali deveria ser encontrada a arma do crime, o que de fato aconteceu, como relata o laudo de busca, juntamente com outros objetos: uma tiara, uma agenda, um prendedor de cabelo, uma figa e um pedaço de papel.

Neste relato, não há nenhuma referência a um par de luvas, que depois é citada no inquérito, e apresentada numa foto, mostrando, sobre elas, o revólver encontrado. A foto contraria, inclusive, o depoimento das testemunhas arroladas para acompanhar a busca dos policiais, no local do crime, no dia 12 de dezembro do ano passado, que negaram a existência da luva.

PONTOS QUESTIONADOS

José Cleves questionou também vários pontos do processo de investigação para identificar o dono da arma. Apesar de ter passado por várias mãos, para todas essas operações existe um recibo de venda e compra do revólver, excluindo a última. Essa venda teria sido efetuada pelo segurança de uma casa de bingo, Natalício Ramos, último proprietário da arma, segundo registro da polícia. E ele a teria vendido, segundo consta no inquérito, a uma pessoa, a pedido do jornalista.

"Mas, estranhamente, o dono do registro desta arma, Natalício Ramos, não sabe dizer o nome da pessoa para quem vendeu o revólver, seu endereço ou qualquer outra informação. E ninguém, até agora, conseguiu identificar essa pessoa" - observou o jornalista, ponderando o risco que existe numa situação desta, já que a arma poderia estar sendo comprada exatamente para um crime, que acabaria envolvendo o dono do seu registro. José Cleves confirmou que esteve com essas pessoas, inclusive, Natalício Ramos, durante a apuração da matéria que estava concluindo, sobre a venda ilegal de armas, mas defendeu-se relatando os encontros que teve com essas pessoas.

José Cleves foi, então, intimado a prestar depoimento à polícia, e durante mais de 6 horas relatou tudo que teria acontecido naquele dia, sem cair em nenhuma contradição com depoimentos anteriores e com os que tem feito a partir de então. Apesar disso e dos exames negativos do dia do crime, o inquérito, presidido pelo delegado Edson Moreira concluiu pelo indiciamento do jornalista por homicídio doloso qualificado.

INVESTIGAÇÃO PARALELA

O jornalista questionou ainda o fato de não ter tido oportunidade para identificar os criminosos que o assaltaram naquele dia e criticou a forma como o delegado o colocou na mídia, como sendo culpado, ainda que não houvesse provas nesse sentido. José Cleves iniciou, a partir de então, uma investigação paralela e chegou a identificar, na Delegacia de Contagem, os assaltantes que o teriam abordado naquele dia e atirado em sua esposa. Essas informações, no entanto, não foram levadas em consideração no inquérito montado pelo delegado Edson Moreira.

Durante a reunião, o taxista Rogério Márcio fez também um relato dos acontecimentos daquela noite em que o jornalista foi assaltado. Ele disse que estava passando no local, quando ouviu um tiro e, logo depois, foi abordado por duas pessoas, uma delas armada. Mas, como estava com passageiros, um casal de idosos, os dois rapazes o liberaram e fugiram à pé pela via expressa. Ele disse que, durante um tempo, teve medo de se envolver no caso, mas vendo que o jornalista estava sendo acusado do crime, resolveu se apresentar. Ele relatou também que está se sentindo ameaçado, desde então, e teme pela sua vida. "Mas, ainda assim - disse ele - continuarei defendendo a verdade, pois essa é a minha obrigação. Esse jornalista, que não conhecia antes, é inocente" - afirmou.

Os deputados João Leite (PSDB) e Durval Ângelo (PT), que participaram da reunião, falaram do trabalho do jornalista José Cleves, durante a cobertura das reuniões da CPI da Carteira de Habilitação e de outras audiências públicas promovidas pela Assembléia, destacando a seriedade e a postura profissional do jornalista. Eles defenderam, mais uma vez, a criação da perícia técnica independente, que já foi sugerida no relatório final das CPIs do Sistema Penitenciário e da Carteira de Habilitação e em projeto que tramitou na Assembléia.

A deputada Elbe Brandão (PSDB) destacou a importância da atuação do Poder Legislativo e da Comissão de Direitos Humanos na defesa da vida. Também participaram os deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSD) e Luiz Tadeu Leite (PMDB). A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Minas Gerais, Dinorah Carmo, também fez um depoimento emocionado na defesa da imprensa, que não pode ter o seu trabalho cerceado, por pressões e outros tipos de coação ou ainda pela censura. Ela destacou o trabalho sério, de jornalismo investigativo, que sempre caracterizou a atividade do jornalista José Cleves.

PRESENÇAS

Participaram da reunião os deputados Edson Rezende (PSB), presidente da Comissão; Durval Ângelo (PT), Luiz Tadeu Leite (PMDB) e Elbe Brandão (PSDB).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31-32907715