Os 70 Anos da Revolução de 30 debatidos na Assembléia
Políticos, pesquisadores, historiadores, militares, estudantes e descendentes de revolucionários participaram na manh...
07/12/2000 - 16:08
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Os 70 Anos da Revolução de 30 debatidos na Assembléia Políticos, pesquisadores, historiadores, militares, estudantes e descendentes de revolucionários participaram na manhã desta quinta-feira (07/12/2000) do Ciclo de Debates "70 Anos da Revolução de 30", promovido pela Assembléia Legislativa. Episódios relevantes do conflito e a influência política no pós-revolução foram expostos pelo presidente da Assembléia, deputado Anderson Adauto (PMDB), para quem "a Revolução de 30 foi o mais importante momento da vida republicana brasileira, quando as oligarquias rurais de São Paulo perderam a hegemonia do poder nacional, e os interesses urbanos, representados pelo empresariado industrial e pelas classes médias, assumiram a direção da vida republicana". Anderson Adauto detalhou o conflito, que teve como causa decisiva o rompimento de um compromisso entre São Paulo e Minas Gerais, conhecido como "Convênio de Taubaté", vigente desde 1907 e estabelecido pelas oligarquias rurais e políticas dos dois estados, com o propósito de defender o preço de seus produtos básicos, o leite e o café, acordo esse que previa também a tutela política do País a ser exercida pelos dois estados mais importantes, decidindo quem exerceria a Presidência da República. Pelo acordo, o presidente de Minas Gerais (nome dado ao governador do Estado, à época), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, teria a palavra mais forte na escolha do candidato a ser eleito e empossado em 1930. O então presidente da República, Washington Luiz, traiu o compromisso e decidiu fazer do governador de São Paulo, Júlio Prestes, o seu candidato à Presidência da República. Supunham os paulistas, sob o comando do presidente Washington Luiz, que não precisavam mais da aliança com os mineiros, e poderiam administrar o Brasil sozinhos. Isso conduziu os mineiros, gaúchos, pernambucanos e paraibanos, sob a chefia do líder João Pessoa, a iniciar entendimentos visando à resistência ao predomínio paulista. Foi lançada a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas, por indicação do presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Vargas venceu as eleições presidenciais, a despeito da falta de garantias do pleito nos estados aliados do presidente da República. Para Anderson Adauto, a Revolução de 30 "pode ser entendida como uma resposta nacionalista à primeira grande globalização econômica e cultural dos anos vinte". No seu entender, a Aliança Liberal era, assim, um movimento nacionalista em cujo programa constavam o desenvolvimento econômico e a justiça social, além da democratização da vida política no Brasil, o fortalecimento do espírito nacionalista e a reação contra a internacionalização da economia. ERA VARGAS Em mensagem à Assembléia Nacional Constituinte, em 15 de novembro de 1933, o então presidente da República Getúlio Vargas apontou, como fundamental para o Brasil, o cumprimento de duas tendências da tradição política de então: a federação e a representação popular. O presidente da Assembléia frisou que Vargas manteve a ordem, cultuou o direito e elevou a justiça social, além de purificar o ambiente moral da pátria. "Ele reduziu os compromissos do Tesouro Nacional; conservou baixo o custo de vida; melhorou as condições das classes menos abastadas; instituiu o voto secreto e a representação proporcional; estabeleceu o voto feminino, entre outras realizações, tidas como grandes conquistas do trabalhador", disse. Outro expositor, o senador gaúcho Pedro Simon (PMDB/RS), afirmou em sua exposição que "a Revolução de 30 foi o grande marco da história do País", e que todos os segmentos do Brasil começaram a existir depois de 1930. "De trinta para cá - disse Simon - o Brasil passou a ser realmente uma república, onde o povo exerceu o voto secreto, alcançou direitos sociais, surgindo daí a autêntica classe trabalhadora, a empresa nacional, e o povo brasileiro começou a se manifestar politicamente". Ao finalizar, ele criticou o governo "heterogêneo" do presidente Fernando Henrique Cardoso, com sua base parlamentar cheia de siglas partidárias. "Mesmo assim - concluiu o senador - o Brasil é viável. Se nos identificarmos com os problemas sociais, acabarmos com a impunidade e a falta de ética, resolveremos o problema da fome e do desemprego." Representando o governador Itamar Franco na solenidade, o deputado Sávio Souza Cruz (PSB) disse em sua exposição que "a Revolução de 30 marca, na visão de muitos historiadores, o início do Brasil moderno". Ele lembrou que o presidente Washingon Luiz, traduzindo o pensamento da maioria dos fazendeiros, empresários e políticos da época, assegurava que "a questão operária é uma questão de polícia", referindo-se aos revolucionários. Para Sávio Souza Cruz, hoje a insatisfação popular, que repudia o modelo econômico e denuncia desigualdades, é tratada pelo Governo Federal como um caso de polícia, haja vista que a ela veio associar-se o crescimento da violência. Para conter essa violência, não se recomendou, em nível federal, mais que a compra de revólveres e a construção de presídios. Da mesma forma que àquela época, concluiu Sávio Souza Cruz, "anseia-se hoje pela construção de um projeto nacional, capaz de resolver as questões sociais que nos flagelam, capaz de dar plena expressão a nossa cultura, capaz de modernizar os métodos administrativos, reformular as instituições e dar ao País um novo formato político. E, se àquela época, a República Nova não chegou a ser a República dos sonhos dos que a sonharam, nada impede que se volte a sonhá-la agora". O coordenador dos debates, deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), lembrou episódios envolvendo as tropas mineiras na região de Montes Claros, "pontilhados de heroísmo, como o envolvimento da enfermeira Dona Tiburtina, que enfrentou as tropas federais, tornando-se símbolo da revolta do povo mineiro contra o Governo Federal". O diretor do Instituto de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Vamireh Chacon, afirmou que a Revolução de 30 foi o único caso de rebelião da periferia contra o centro, que obteve êxito. O cineasta Sylvio Back enfocou diversos episódios do movimento, destacando a atuação do gaúcho Luiz Carlos Prestes em sua jornada pelo território brasileiro. Para ele, "a Revolução de 30 armou-se de uma tal aura de mistificação que acabou malbaratando as interpretações, malgrados os depoimentos e a suposta isenção de historiadores a seus audazes personagens e atores, na equidistância da fama que cerca as demais insurreições brasileiras". O professor de Sociologia da UFMG, Otávio Dulci, disse que o período pós-revolucionário foi marcado pelo fortalecimento da cidadania e das conquistas sociais trabalhistas e previdenciárias, além da desestatização da economia. MESA Compuseram a Mesa o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Anderson Adauto (PMDB); o deputado Sávio Souza Cruz (PSB), representando o governador Itamar Franco; o senador pelo Rio Grande do Sul, Pedro Simon; o deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), coordenador dos debates; os ex-senadores Ronan Tito e Alfredo Campos; o conselheiro do Tribunal de Contas, João Bosco Murta Lages; o diretor do Instituto de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Vamireh Chacon; o professor de Sociologia da UFMG, Otávio Dulci; e o cineasta e poeta Sylvio Back.
Responsável pela informação: Eustáquio Marques- ACS - 31-2907715 |
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