Debate Público aborda lazer no trabalho

"Lazer, Trabalho e Qualidade de Vida" foi o tema do Debate Público promovido pela Assembléia Legislativa nesta segund...

05/12/2000 - 09:29

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Debate Público aborda lazer no trabalho

"Lazer, Trabalho e Qualidade de Vida" foi o tema do Debate Público promovido pela Assembléia Legislativa nesta segunda-feira (4/12/2000), sob a coordenação da deputada Elbe Brandão (PSDB). Em seu pronunciamento de abertura, a deputada destacou que muitas das doenças que atingem o homem no mundo atual são decorrentes da baixa qualidade de vida. Daí a importância de melhorar as condições de trabalho do cidadão, proporcionando-lhe lazer. Primeiro expositor do evento, Sérgio Bruno Zech Coelho, secretário de Estado de Esportes, disse que a área de esportes e a prática desportiva são fundamentais para o conceito de lazer vinculado ao trabalho. Ele falou também sobre a importância da área para a formação do cidadão, ressaltando que o esporte é fator de inserção social.

Sérgio Bruno afirmou que a Secretaria de Estado de Esportes tem duas linhas principais de trabalho. Uma delas é levar o esporte às comunidades carentes como promoção da educação, por meio de diversos projetos, o que está sendo feito inclusive com recursos do governo federal e que, até o ano de 2002, deve atingir 300 cidades mineiras e 80 mil crianças. A outra vertente é a retomada das competições esportivas em todo o Estado, nas mais diversas modalidades, o que, segundo ele, praticamente não existe mais. Sérgio Bruno ressaltou que Minas Gerais tem 152 praças de esporte que não estão sendo usadas, ou o estão para outros fins que não a prática desportiva. "É preciso resgatar as competições estudantis esportivas", disse ele.

Meily Assbú Linhares, professora do Departamento de Educação Física da UFMG, falou sobre a importância da adoção, pelos governos, de políticas públicas de lazer, ressaltando que o lazer é um fenômeno cultural e um direito social no âmbito da consolidação de um Estado promotor do bem-estar social. A professora lamentou que as distorções sociais e a miséria comprometam a compreensão do lazer como um direito social e excluam-no das prioridades de políticas públicas. Ela destacou que é preciso questionar "a que projeto de sociedade interessa a consolidação de práticas sociais orientadas pelo consumo passivo e pela hipercompetitividade".

JORNADA DE TRABALHO IMPOSTA AO BRASILEIRO É DURA

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/MG), Lúcio Guterres, falou sobre o mercado e o crescente índice de desemprego. Segundo ele, os brasileiros vivem sob condições duras de trabalho. "A jornada diária desse operário mostra a realidade que vive o brasileiro em suas profissões: são doenças psicológicas e acidentes de trabalho", disse Guterres. O sindicalista defende não só a instalação de políticas públicas de lazer, mas o incentivo à qualidade de vida do trabalhador. "Através da cidadania e da auto-estima, o nível e a qualidade da produção aumentam", ressaltou Lúcio Guterres.

O Brasil, segundo informou, é o campeão em acidentes de trabalho - "cerca de R$ 4 bilhões são gastos por ano em assistência médica e para pagar indenização aos invalidados". O presidente da CUT/MG acredita que esse valor poderia ser menor se os empregados tivessem direito às políticas de segurança adequadas, nas indústrias e empresas. "Isso aumentaria o estímulo para se produzir e também reduziria o número de acidentes", justificou.

LAZER COMO DIREITO SOCIAL

A coordenadora pedagógica do Centro de Estudos de Lazer e Recreação (Celar) da Escola de Educação Física da UFMG, Christianne Luce Gomes Werneck, falou sobre o significado do lazer como o inverso das obrigações de diferentes naturezas, principalmente das obrigações do trabalho produtivo, que vêm predominando na sociedade atual. "Entende-se o lazer como não-trabalho, tempo livre ou desocupado dedicado à diversão, à recuperação de energias, à fuga das tensões e ao esquecimento dos problemas que permeiam a vida cotidiana", salientou Christianne Werneck.

No entanto, o sentido de lazer, de acordo com a coordenadora pedagógica, é como um produto tomado como algo supérfluo e dispensável para muitas pessoas que não têm como obter nem mesmo patamares mínimos de dignidade, na luta pela sobrevivência. Para ela, o lazer constitui um objeto com seriedade, devendo receber atenção prioritária não somente por parte do Poder Público, mas também da iniciativa privada, da universidade, das diversas instituições sociais, e da comunidade.

Christianne Werneck destacou que o tema lazer está presente não apenas na Declaração de Universal dos Direitos Humanos, mas também na Constituição Federal, sendo previsto como um direito social, além de integrar o conjunto das políticas de alguns estados e municípios do País. "O lazer representa uma chance de produção de cultura, por meio da vivência lúdica de diferentes conteúdos", salientou. Para ela, essa vivência pode servir de estímulo aos indivíduos, "na luta pela conquista de autonomia e pela garantia de um viver digno".

IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DE VIDA

O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Maurício Roberto da Silva, falou sobre a importância da qualidade de vida dos indivíduos, destacando, para isso, o reconhecimento de seus direitos, entre eles ao lazer. Segundo ele, a qualidade passa pela satisfação das necessidades humanas mais elementares, considerando o lazer/lúdico no trabalho, uma forma de inclusão social e exercício de cidadania.

Representando a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o gerente de Lazer e Esportes, Antônio Eduardo Muzzi Machado, apresentou o programa do Sesi que promove sessões de atividades físicas no ambiente de trabalho. Na visão do Sesi, essas atividades devem ser voluntárias, bem planejadas, atrativas, eficientes, produtivas, coletivas e co-responsabilizadas, dividindo-se todo o processo entre trabalhadores, empresas e promotores dos exercícios. Segundo ele, os resultados têm sido positivos tanto para as empresas quanto para seus funcionários. Mostrando resultados de pesquisas e depoimentos das empresas que adotaram o programa, Machado comentou as vantagens até então contabilizadas, como aumento da produção, diminuição do número de acidentes de trabalho, redução das despesas médicas e, de um modo geral, a descontração física e mental.

Quando o programa é solicitado, o Sesi primeiramente faz um diagnóstico das atividades executadas pelos funcionários, identifica os pontos críticos e, só então, elabora a série de exercícios a serem promovidos na empresa e que serão trocados periodicamente. Para Eduardo Muzzi Machado, essa iniciativa pode atenuar os reflexos que as mudanças dos relacionamentos de trabalho promoveram na sociedade moderna, como o sedentarismo, a competitividade e, mais diretamente, doenças como depressão, estresse, ansiedade e obesidade.

 

 

Responsável pela informação: Cristiane Costa- ACS - 31-2907715