Transplantes em Minas são tema de reunião na Alemg

A falta de doadores e a pouca mobilização da sociedade são os principais problemas enfrentados, em Minas Gerais, para...

07/11/2000 - 18:52
 

 

 

 

 

 

Transplantes em Minas são tema de reunião na Alemg

A falta de doadores e a pouca mobilização da sociedade são os principais problemas enfrentados, em Minas Gerais, para a realização de transplantes. Essa é a opinião unânime de médicos e representante de entidade que participaram, nesta terça-feira (07/11/2000), de reunião da Comissão de Saúde da Assembléia. O índice das famílias que recusam fazer a doação é de 75%. "O grande gargalo é a doação, mas essa mudança envolve a sociedade e depende também, entre outros fatores, do bom atendimento na área da saúde", explica o médico Manoel Jacy Vilela Lima, da equipe de transplantes de fígado do Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte.

Descentralização -

Além da mobilização social, a descentralização das atividades foi apontada como uma solução para o problema de captação de órgãos no Estado. Segundo a coordenadora metropolitana do MG Transplantes, Aparecida Maria de Paula, essa regionalização - que já chegou também a Juiz de Fora, na Zona da Mata - é importante. O coordenador do MG Transplantes, João Carlos Oliveira Araújo, afirma que a descentralização possibilitará o acesso à captação de órgãos em maior número. Segundo ele, em médio prazo será possível instalar centrais em Uberlândia e no Sul de Minas. Em longo prazo, isso poderá ocorrer também em Montes Claros, no Norte - que ainda não possui laboratório para realização de exames imunológicos.

O presidente da Associação Transplante pela Vida em Minas Gerais (Transvida), Rubens Barbosa Soares, também defendeu a descentralização, ressaltando que hoje a perda de pessoas nas filas de espera chega a 40%. A mortalidade na lista para transplante de fígado é, segundo Manoel Jacy Vilela Lima, de 20 a 25%. Rubens Soares informou, ainda, que, entre os últimos meses do ano passado e fevereiro deste ano, praticamente não houve captação de órgãos no Estado.

CASO DE CAROLINA LOPES

Na reunião, foi também discutido o caso de Carolina Guedes Lopes, de 17 anos, de Juiz de Fora, que morreu quando esperava um transplante de fígado. O caso de Carolina, que aconteceu em setembro, foi noticiado amplamente pela imprensa e foi marcado por uma polêmica relativa ao transporte aéreo da equipe hospitalar até Blumenau (SC), onde estava o doador. A polêmica envolveu a funcionária Selma, do MG Transplantes, e o cabo Furst, plantonista do Gabinete Militar do governador do Estado. A funcionária teria ligado para o cabo a 1 hora da manhã do dia 6 de setembro, indagando sobre a possibilidade do transporte aéreo até Blumenau. O cabo alega que não recebeu o telefonema. Foi aberta sindicância, ainda não concluída, sobre o assunto.

O coordenador do MG Transplantes, João Carlos Oliveira Araújo, explicou que a equipe do Hospital das Clínicas estava disponível para ir até Blumenau, na noite do dia 5 para o dia 6 de setembro. "Não esperávamos, no entanto, que a Central Nacional nos acessasse com uma demanda nessa distância", ponderou. Segundo ele, em seis horas, desde a comunicação da existência de um doador (aos 57 minutos do dia 6), foram tomadas diversas providências, entre as quais as análises da viabilidade da doação e do grau de compatibilidade, bem como o acionamento da equipe médica. "Às 5h30min da manhã, no entanto, tivemos a notícia da Central de Santa Catarina informando que a família do doador não queria mais esperar uma equipe de captação de tão longe", informou.

O chefe do Gabinete Militar do governador do Estado, coronel Marco Antônio Nazareth, explicou que, na época do episódio com Carolina, não estava em vigor nenhum termo de cooperação entre a Secretaria de Estado da Saúde e o Gabinete Militar para a cessão de aeronaves para transporte de órgãos. O segundo termo de cooperação começou a vigorar em outubro deste ano e ampliou a abrangência das viagens para Rio de Janeiro e São Paulo, além de Minas Gerais. "Minha decisão seria, no entanto, de atendimento em caráter excepcional, pois tínhamos a aeronave e condições de atender", afirmou o coronel Nazareth. Segundo ele, teria havido um comunicado oficial às 7h30min da manhã do dia 6 e, às 9 horas, outra ligação do MG Transplantes, dispensando o transporte.

RECURSOS VÊM DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Os deputados Miguel Martini (PSDB), Edson Rezende (PSB), Cristiano Canêdo (PTB) e Pastor George (PL) fizeram vários questionamentos aos convidados. A necessidade de envolvimento dos profissionais da saúde, das universidades e a maior participação social foram temas abordados pelos parlamentares, além dos critérios para credenciamento dos hospitais. Outro tema discutido foram os recursos utilizados para a realização dos transplantes. Segundo João Carlos Araújo, o financiamento fica a cargo do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação do Ministério da Saúde, que tem "atendido satisfatoriamente". Problemas relacionados à forma de remuneração dos médicos também foram abordados pelo coordenador.

NÚMEROS DE TRANSPLANTES EM MINAS GERAIS

O MG Transplantes é uma central de notificação, captação e distribuição de órgãos. O órgão tem uma equipe de procura de doadores, e a captação propriamente dita fica a cargo das equipes dos hospitais que realizam os transplantes, em um esquema de rodízio e atendendo à lista única de receptores. Segundo dados apresentados pelo coordenador, João Carlos Oliveira Araújo, em 1999 foram realizados 502 transplantes de córnea. Até outubro deste ano, o número foi de 528. Quanto aos transplantes de rins, os números foram, respectivamente, 272 e 242. Transplantes de fígado chegaram a 26 até outubro deste ano; em 1999, esse número foi de 20. Os transplantes de medula óssea totalizaram 41, no ano 2000, e 43, em 1999. Greves na Polícia Federal e problemas com a importação de medicamentes impediram o maior número de operações, no caso dos transplantes de medula óssea, informou João Carlos Araújo.

Presenças -

Participaram da reunião os deputados Miguel Martini (PSDB), que a presidiu; Pastor George (PL), vice-presidente; Cristiano Canêdo (PTB) e Edson Rezende (PSB).

Responsável pela informação - Fabiana Oliveira - ACS - 31-32907715