CPI do Narcotráfico debate resgate de traficante em BH

A CPI do Narcotráfico ouviu, na reunião desta quarta-feira (14/06/2000), o depoimento das pessoas relacionadas ao res...

15/06/2000 - 12:39

alinfor.gif (4077 bytes)


 

CPI do Narcotráfico debate resgate de traficante em BH

 A CPI do Narcotráfico ouviu, na reunião desta quarta-feira (14/06/2000), o depoimento das pessoas relacionadas ao resgate do traficante Flávio de Souza. O traficante, que cumpria pena na Casa de Detenção Antônio Dutra Ladeira, foi pego por duas pessoas armadas enquanto aguardava atendimento odontológico particular no consultório da dentista Nilza Rodrigues Vicente no último dia 5 de junho. Um dos policiais civis responsáveis pela escolta de Souza, Luiz Carlos de Oliveira, foi rendido, ameaçado e preso no banheiro; enquanto o traficante e seus companheiros fugiam.

O primeiro depoente do dia foi o ajudante da dentista, Ronaldo Pereira, que presenciou o resgate do traficante. Ele informou que a consulta de Flávio estava marcada para as 13h15, mas o paciente chegou mais cedo, às 13 horas. Segundo Pereira, neste período os dois homens armados renderam o policial e ameaçaram atirá-lo pela janela. O policial rendido pelos seqüestradores, Luiz Carlos de Oliveira, foi o segundo a falar. Ele também relatou o acontecido, mas não confirmou o horário da consulta fornecido por Ronaldo Pereira.

De acordo com o policial, o traficante disse que a consulta seria às 12h30 e, por isso, chegaram no prédio por volta de 12h25. Segundo Oliveira, a consulta foi marcada pelo próprio Flávio, pois existe um telefone público à disposição dos detentos. A invasão, de acordo com os dados do policial, aconteceu por volta de 13h30. Ele informou, ainda, que os seqüestradores se referiam a Flávio como "patrão" e, inclusive, foi a pedido do traficante que eles desistiram de lhe atirar pela janela.

O próximo a depor foi o outro policial civil responsável pela escolta de Flávio de Souza ao dentista, Alexandre Tadeu Ramos. No momento da invasão, Alexandre não estava na sala, pois foi estacionar o veículo que trouxe o detento. Ramos confirmou o mesmo horário da consulta apresentado por Luiz Carlos Oliveira. Por este motivo, Ronaldo Pereira foi convidado a depor novamente. O ajudante reafirmou os horários dados anteriormente.

O diretor da Casa de Detenção Dutra Ladeira, Solon Eustáquio de Castro, também participou da reunião. Indagado pelos deputados, Solon não soube informar ao certo o artigo no qual o traficante estava enquadrado. Ele informou que a maioria dos detentos da Dutra Ladeira são provisórios. O diretor afirmou que nem todos os atendimentos podem ser feitos no local, por isso os presos são levados para atendimentos em outros locais, às vezes, particular. Solon Castro esclareceu que os pedidos de atendimento externos são levados ao diretor do anexo ao qual o preso pertence, e encaminhado ao inspetor responsável. Castro admitiu que os erros da Dutra Ladeira são estruturais. O responsável pelo anexo do qual Flávio fazia parte, Adalto Martins, também não soube precisar a condenação do traficante. Na sua avaliação, não houve participação de policiais na fuga do traficante, e também a dentista não está envolvida. "Não houve dolo no caso", afirmou.

Em vários momentos da reunião, o deputado Marcelo Gonçalves (PDT), presidente da Comissão, criticou a organização do sistema carcerário brasileiro. Segundo ele, nenhum grande traficante fica preso. O deputado Paulo Piau (PFL) disse ser um absurdo um diretor de presídio não conhecer os presos e sua condenação. Para ele, o sistema carcerário do País está podre, com problemas estruturais graves. "Parece-me uma desorganização ao extremo", disse.

Na opinião da dentista Nilza Rodrigues Vicente, o traficante a usou como "laranja" na sua fuga. Ela falou sobre o trabalho que desenvolve todas as quintas-feiras na Casa de Detenção, sem a devida proteção. Para Nilza, os presos são pacientes como outros e, por isso, entra nas celas e faz um trabalho preventivo e educativo, além de evangelização dos presos. O problema de Flávio era periodontal e necessitava de atendimento externo. A pedido dele, Nilza aceitou atendê-lo no seu consultório particular.

De acordo com a dentista, a consulta foi marcada para sexta-feira (2/06), mas por falta de condução Flávio não compareceu. Na segunda (5/06), ligou três vezes para o consultório pedindo que fosse atendido. Segundo Nilza, o seu dia estava cheio, mas se esforçou para atendê-lo no horário de almoço, por volta das 13 horas. Quando a dentista chegou para a consulta o resgate já havia sido feito. Ela afirmou que o seu ajudante, Ronaldo Pereira, era ex-presidiário da Dutra Ladeira e, pelo fato de haver algumas contradições no depoimento dos dois, os deputados pediram novamente a presença de Pereira. Neste momento, a reunião foi transformada em secreta.

Presenças

Participaram da reunião os deputados Marcelo Gonçalves (PDT) - presidente; Rogério Correia (PT) - relator da CPI; Paulo Piau (PFL); Marco Régis (PPS); José Henrique (PMDB); Carlos Pimenta (PSDB); Sargento Rodrigues (PL); Agostinho Silveira (PL); e Antônio Andrade (PMDB).

Responsável pela informação: Carolina Braga - ACS - 31-2907715