Educadores querem a volta dos excluídos às escolas
Educadores de todas as regiões do Estado estão participando do Fórum Técnico "Educação de Jovens e Adultos", promovid...
08/06/2000 - 17:38
|
|
|
Educadores querem a volta dos excluídos às escolas Educadores de todas as regiões do Estado estão participando do Fórum Técnico "Educação de Jovens e Adultos", promovido pela Assembléia Legislativa com o apoio de 42 entidades ligadas ao ensino. Nesta sexta-feira (09/06/2000), a partir das 8h30min, acontecerá a última etapa do evento, com a exposição da secretária-adjunta de Estado da Educação, Maria José Feres; da coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Belo Horizonte, Liliane dos Santos Jorge; e da professora da Faculdade de Educação/UFMG Maria Amélia Giovaneti, que abordarão o tema " A Organização do Tempo Escolar na Educação de Jovens e Adultos". A coordenação dos trabalhos será do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSD). À tarde, na Plenária final, será votado documento conclusivo do Fórum, sob a coordenação do deputado Edson Rezende (PSB); com o encerramento cabendo ao presidente da Assembléia Legislativa, deputado Anderson Adauto (PMDB). A implementação de uma proposta renovadora para a recuperação dos excluídos do ensino; a implantação de um modelo pedagógico próprio para atender aos jovens e adultos e o resgate de uma dívida histórica de exclusão de índios, negros e trabalhadores braçais dos bancos escolares foram discutidos no primeiro dia de realização do Fórum Técnico pelos especialistas em educação. A abertura do evento ocorreu na noite desta quarta-feira (07/06/2000), a cargo do presidente da Assembléia, deputado Anderson Adauto (PMDB). Ele afirmou que o Fórum é uma seqüência do Seminário Legislativo "Construindo a Política de Educação Pública em Minas Gerais, que a Casa realizou em outubro do ano passado. Ele assinalou que "o binômio educação-saúde é a chave para o resgate social do País". Já o deputado Edson Rezende (PSB), autor do requerimento que deu origem ao fórum, ao observar o Plenário e as galerias tomadas por educadores, afirmou que Minas Gerais confirma a tradição de estar sempre sintonizada com o tema. PROPOSTA PEDAGÓGICA RENOVADORA A primeira expositora da noite de quarta-feira, Maria Auxiliadora Machado, integrante do Conselho Estadual de Educação, representou o secretário de Estado da Educação, Murílio Hingel. Ela destacou idéias básicas originárias de estudos feitos pelo Conselho, como o compromisso político dos órgãos centrais na construção de espaços e na oferta de oportunidades de educação. Revelou que são essenciais o conhecimento do jovem, a percepção de suas reais necessidades e as experiências que trazem para a escola, possibilitando a elaboração de uma proposta pedagógica renovadora. Auxiliadora falou, ainda, sobre qual o perfil de professor necessário à implementação dessa proposta pedagógica: ele precisa ter condições de trabalho e conhecer bem o jovem e o adulto, além de dispor de tempo para implementar essa nova idéia. DÍVIDA HISTÓRICA Carlos Roberto Jamil Cury, integrante do Conselho Nacional de Educação e relator de parecer sobre Educação de Jovens e Adultos elaborado pelo CNE, revelou que o documento conceituou uma nova proposta de educação de jovens e de adultos como etapa da recuperação dos excluídos - índios, negros e trabalhadores braçais -, com intuito de resgatar uma dívida histórica. Outra função seria trazer de volta aqueles que foram obrigados a deixar as escolas para trabalhar ou foram vítimas de metodologias inconseqüentes que os fizeram abandonar os estudos. O objetivo, segundo Jamil Cury, é colocar, novamente, nos bancos escolares aqueles que foram excluídos por diversas circunstâncias. O educador defendeu, também, a implantação de um modelo pedagógico próprio para atender aos jovens e adultos, diferente dos modelos destinados às crianças. A inclusão do ensino de língua estrangeira também foi considerada componente básico na educação dos jovens e dos adultos, além da adoção de pressupostos para a educação profissional. NÚMEROS SÃO CITADOS Os problemas conjunturais das políticas da educação do jovem e do adulto foram abordados pelo professor da Universidade Federal do Mato Grosso João Monlevade. Ele citou alguns números para mostrar a realidade brasileira. Segundo o professor, o Brasil, com uma população de 165 milhões atualmente, contabiliza 80 milhões com idade entre 19 e 59 anos. Desses, apenas 20 milhões têm instrução completa. Sessenta milhões de brasileiros não têm o ensino fundamental completo, enquanto 50 milhões estão entre aqueles caracterizados como demanda reprimida. Monlevade revelou, ainda, que, dos 165 mil estabelecimentos de ensino existentes no País, apenas 18 mil funcionam à noite, principalmente na zona rural. Do PIB ( Produto Interno Bruto) de R$ 1 trilhão, 4% são destinados à educação. Desse total de R$ 40 bilhões, R$ 10 bilhões vão para a educação superior e R$ 30 bilhões para a educação básica, enquanto R$ 31 bilhões são destinados, anualmente, para o pagamento dos juros das dívidas interna e externa pelo governo federal, frustrando as esperanças de canalização de mais recursos para a educação. CONCEITOS ULTRAPASSADOS "A Formação do Docente para a Educação de Jovens e Adultos" foi a temática da manhã desta quinta-feira (08/06/2000), com a participação do professor da Faculdade de Educação da UFMG Leôncio José Gomes Soares e da coordenadora da Educação de Jovens e Adultos do Rio Grande do Sul, Liana Borges. A coordenação dos trabalhos foi da deputada Maria Tereza Lara (PT). Professora da rede estadual de ensino, Maria Tereza Lara defendeu "a erradicação do analfabetismo, mesmo que seja um desafio utópico que merece o esforço de todos os segmentos da sociedade". O professor Leôncio Soares criticou conceitos antigos na educação de jovens e de adultos, que prevalecem desde 1947, como os chavões "educação compensatória, com reposição do tempo perdido" e "alfabetização como mera assinatura ou simples decodificação de letras". Outras definições arcaicas, segundo Soares, são as de que é mais fácil, mais rápido e mais simples ensinar a adolescentes e adultos do que ensinar crianças e de que qualquer um que saiba ler e escrever pode converter-se em alfabetizador. Ele citou vários documentos, como a Declaração de Hamburgo de 1997 e o Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (Eneja/Rio 1999), segundo o qual a formação de educadores de jovens e adultos vem sendo assumida progressivamente pelas universidades, com programas amplos, decorrentes de convênios com entidades da sociedade civil; por Ongs e instituições privadas com tradição na área. O professor da UFMG mencionou, ainda, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (CNE 2000), do Conselho Nacional de Educação, estabelecendo que o preparo e a formação docente para a educação de jovens e adultos deve incluir, além das exigências de formação para todo e qualquer professor, aquelas relativas à "complexidade diferencial" dessa modalidade de ensino. O professor deve interagir com essa parcela de estudantes e estabelecer o exercício do diálogo. Jamais deve ser um professor motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado idealista, mas um docente que se nutra do geral e, também, das especificidades que a habilitação requer. EXPERIÊNCIA DO RIO GRANDE DO SUL Liana Borges, coordenadora da Educação de Jovens e Adultos (Eja) do Rio Grande do Sul, fez uma avaliação do trabalho realizado em seu Estado. Ela citou cinco aspectos básicos que norteiam a política de educação mantida pela Secretaria Estadual de Educação direcionada aos jovens e aos adultos. O primeiro eixo está voltado para garantir a democratização do acesso à escola pública; o segundo eixo é o da democratização do conhecimento para garantir que todos freqüentem a escola e permaneçam nos cursos. O terceiro eixo trata da democratização da gestão, envolvendo comunidades, escolas, pais, alunos, professores e funcionários, todos ligados ao projeto de ensino. O quarto eixo é o da valorização dos trabalhadores do ensino e o quinto diz respeito aos regimes de financiamento do ensino pelas esferas federal, estadual e municipal. Liana Borges abordou a extensão da educação de jovens e adultos no Rio Grande do Sul, lembrando que, em 1999, foram inscritos 100 mil alunos nos exames supletivos, sendo que 60% não compareceram às provas e, dos que compareceram, 15% foram aprovados. O programa, em seu Estado, já envolve cinco mil professores. Para a professora gaúcha, o sucesso do programa está consubstanciado na sensibilização e na reflexão para mudar as propostas pedagógicas por meio da realização de seminários, buscando discutir, rediscutir e reescrever conceitos e metodologias para superar desafios. CURRÍCULO DOMINANTE O professor da Faculdade de Educação da UFMG Geraldo Magela Pereira Leão, ao tratar do tema "O currículo na educação de jovens e adultos: escolhas, ênfases e omissões", disse que, em geral, o currículo foi deixado para segundo plano nas discussões sobre educação. Essa situação, que prevaleceu durante todo o século XX, começou a ser mudada a partir da década de 70. A noção de currículo que prevalecia anteriormente era a técnica, guiada pela idéia de um "conjunto de conteúdos naturais". Nos anos 70, questionou-se, entre outros aspectos, o silenciamento sobre determinados conteúdos, o que deu corpo à idéia de que a seleção curricular não era neutra, nem natural, mas que o currículo traduzia as concepções do que os grupos dominantes entendiam que devia ser aprendido pelos alunos. Para Geraldo Leão, ainda hoje os currículos são problemáticos, ainda mais se tratando de educação de jovens e adultos. Os currículos colocam em segundo plano saberes populares e a vivência dos próprios destinatários do conhecimento - os jovens e adultos. O problema das escolhas curriculares também continua a refletir a expectativa de cidadão que a escola quer formar, seja o técnico para o mercado, seja o cidadão crítico. No caso dos aspectos específicos da educação de jovens e adultos, é preciso levar em conta a experiência prévia de sociedade, de educação e de aprendizagem que o próprio aluno viveu. Um erro é olhar, segundo Magela Leão, a educação de jovens e adultos com uma visão compensatória, que leva o educador a erros como o de pensar em aceleração do ensino para recuperar o tempo perdido; ou a idéia de facilitação de conteúdos, repetindo os mesmos erros de uma escola que, incapaz de lidar com o aluno, transferiu para ele os problemas de aprendizado, confirmando o estereótipo do aluno que não consegue aprender, quando é a escola que não aprendeu a ensinar. Para o professor, os prejuízos desses equívocos serão do aluno e terão reflexo na sua auto-estima. EXPERIÊNCIA NOS SINDICATOS DE SÃO PAULO A assessora da Ong Ação Educativa Maria Clara di Pierro falou sobre as experiências na iniciativa privada para garantir a alfabetização em sindicatos de São Paulo e na periferia da capital paulista, bem como de outras cidades onde o programa foi implementado. Ela revelou que sentiu dificuldades de formular a teoria nas salas-de-aula, por isso a empresa criou um instrumento de mediação entre a teoria e a prática. Três escolhas predominaram como subsídios ao programa implementado pela organização não governamental: participação ampliada da alfabetização como um processo ligado ao letramento; o subsídio segundo o qual a educação básica tem que ser instrumento para a vida; e o fortalecimento da auto-estima dos alunos como instrumento para uma participação crítica consciente das possibilidades que os aguardam. A professora Lenita Ferreira de Oliveira, da Faculdade de Educação da UFMG e da Pós-Graduação do Cepemg/ Newton de Paiva, abordou aspectos dos diversos currículos como meios de os alunos concluírem sua formação; currículos como espaço de justiça, onde se percebe a divisão do conhecer e do saber; e currículos estimuladores da auto-estima dos alunos para o amanhã. Para ela, a ação do professor no fortalecimento da auto-estima dos alunos é primordial, porque ela funciona como um agente imunológico da consciência. Responsável pela informação: Eustáquio Marques - ACS - 31-2907715 |
|