A CPI do Narcotráfico ouviu, na reunião desta quinta-feira (18/05/2000), o ex-diretor da Penitenciária de Ipaba, em Ipatinga, o major da Polícia Militar Benedito Moreira de Souza. Ele afirmou que foi convidado a assumir o presídio, pois havia problemas na direção. De acordo com o major, com a saída do então diretor, sua administração ficou sem prestígio. "Não tive muito apoio, e os problemas dos presos acabaram sobrando para quem estava lá", disse. Ele dirigiu o presídio de agosto de 1999 a início de janeiro de 2000, quando foi afastado.

Segundo Benedito de Souza, assim que assumiu, foi feita uma batida para recolher objetos cortantes e bilhetes codificados pelos quais os presos trocavam dinheiro e maconha. Ele informou que também fez entrevistas com os detentos, procurando saber a instrução de cada um e o artigo do Código Penal no qual se enquadravam. "Muitos eram profissionais, por isso os retiramos das celas para trabalharem dentro das oficinas do presídio", disse.

Durante os quatro meses que dirigiu o presídio 14 presos fugiram, sendo quatro deles por "desobediência", tendo em vista que, após o juiz ter autorizado uma rápida saída, eles não voltaram mais. Para todas as fugas, segundo Benedito, foram abertas sindicâncias para apurar possíveis facilitações. De acordo com um relatório apresentado pelo major, em 1998 e 1999, 37 detentos fugiram e não foi feita nenhuma sindicância. Ele acredita que o relatório elaborado foi o motivo de seu afastamento. "Tive muita dificuldade, não era da região e não houve confiança por parte do juiz", avalia.

O relator da Comissão, deputado Rogério Correia (PT), informou que a CPI recebeu inúmeras denúncias de facilitação de fuga no presídio de Ipaba. O deputado perguntou ao major se alguns presos tinham privilégios e se poderia citar nomes de envolvidos. O depoente disse que alguns detentos podem ter considerado a escolha daqueles que iriam trabalhar como privilégios, mas, segundo o ex-diretor, foram obedecidos critérios como o tempo de cadeia para a escolha. Ainda respondendo o deputado, Benedito informou que, certa vez, autorizou dois presos a executarem serviços particulares na casa da diretora de Reeducação do presídio, Eliane Almeida de Castro Medeiros. Segundo ele, a própria diretora fez a solicitação, acatada pelo major. "Não acho correto, mas foi um serviço rápido", defendeu-se.

Questionado sobre a fuga do traficante Laudomiro Capato do presídio de Ipaba, Benedito disse que Capato saiu duas vezes para atender sua esposa - que estava doente -, mas saiu escoltado pelo diretor de Segurança, Tarcísio Ângelo. O deputado Rogério Correia (PT) afirmou que chegaram denúncias de falsificação de ocorrências no presídio, entre elas assinaturas de Capato no livro que controla a entrada e saída de presos. O major Benedito de Souza disse não ter conhecimento do fato, mas assumiu ter assinado a autorização da saída do traficante encaminhada pela diretora de Reeducação, Eliane Medeiros. O deputado Paulo Piau (PFL) pediu mais informações sobre o tráfico de drogas no presídio, e o ex-diretor disse que Eliane Medeiros poderia passar mais informações. O deputado Rogério Correia (PT) também falou sobre mais dois traficantes que fugiram do presídio de Ipaba - "Rogerão" e "Laporte" -, que, de acordo com a Polícia Federal, têm envolvimento com o traficante Fernando Beira-Mar.

A segunda parte da reunião foi secreta.

Foi aprovado um requerimento do deputado Rogério Correia (PT) pedindo o afastamento dos diretores do presídio de Ipaba, Eliane Medeiros e Tarcísio Ângelo, assim como a quebra dos sigilos bancários e telefônicos dos dois. Ele pediu, ainda, que a Comissão faça uma visita à Ipaba. Também foi aprovado um requerimento do deputado Paulo Piau (PFL) solicitando a quebra de sigilo bancário e telefônico de pessoas e empresas envolvidas com a conexão Croácia, sem divulgar, no entanto, os nomes.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Marcelo Gonçalves (PDT), presidente; Paulo Piau (PFL), Rogério Correia (PT), José Henrique (PMDB) e Marco Régis (PPS).