Ex-diretor do Bemge e Credireal fala à CPI

O ex-diretor Financeiro do Bemge e do Credireal, Ronaldo Lamounier Locatelli, afirmou, nesta quarta-feira (10/05/2000...

11/05/2000 - 15:26

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Ex-diretor do Bemge e Credireal fala à CPI

O ex-diretor Financeiro do Bemge e do Credireal, Ronaldo Lamounier Locatelli, afirmou, nesta quarta-feira (10/05/2000), que um dos principais problemas que levaram à privatização do banco foi a estabilização da economia. Ele participou da reunião da CPI do Sistema Financeiro, criada para investigar o processo de ajuste e as transformações no sistema financeiro público estadual, na década de 90, com destaque para a privatização do Bemge. O funcionário do BDMG, Márcio Favilla Lucca de Paula, também participou da reunião.

De acordo com o ex-diretor do Bemge, de 1980 a 1995 houve no Brasil uma escalada inflacionária muito alta. Segundo ele, os bancos intermediavam as operações de crédito, ou seja, eles recebiam o depósito do cliente à vista e emprestavam esse dinheiro. Como a inflação naquele período alcançava índices de mais de 1.000 %, os bancos viviam do lucro inflacionário deste tipo de operação. Ronaldo Locatelli informou que os bancos públicos chegaram a ter um lucro, em 1993, de cerca de R$ 13 bilhões, o que representava 2% do Produto Interno Bruto. "Era muito fácil ser banqueiro neste País", afirmou.

Com a estabilização da economia brasileira, depois da implantação do Plano Real, Locatelli disse que o lucro inflacionário desapareceu, gerando um prejuízo na ordem de R$ 100 bilhões. Os bancos privados, segundo o ex-diretor, se mantiveram neste contexto pois tinham mais capital, tecnologia, e produtos. "Os bancos públicos eram muito limitados. O Bemge nem cartão de crédito tinha; então a perda do lucro inflacionário o colocava em uma situação delicada", ressaltou. De acordo com Ronaldo Locatelli, o caminho escolhido para tentar um ajuste nos bancos mineiros foi expandir o crédito para compensar a perda. A redução de custos com pessoal também foi uma medida. Segundo Locatelli, o quadro de pessoal foi reduzido de 11 mil funcionários para 6 mil.

PROCESSO DE AJUSTE

O funcionário do BDMG, Márcio Favilla Lucca de Paula, explicou como foi feito o processo de ajuste do sistema financeiro do Estado. Segundo ele, como na época ainda não existia nenhum processo de privatização bancária, instituições financeiras internacionais foram consultadas para ajudar no processo. Desta forma, o BDMG, responsável pela assessoria interna do Estado no processo, inovou incluindo um edital de abertura antes do edital de leilão e também a forma dos lances durante a venda do banco.

CRÉDITOS DE LIQUIDAÇÃO

Favilla falou sobre os créditos de liquidação concedidos pelo banco que foram transferidos para a Minas Gerais Participações S/A (MGI). Os créditos de liquidação são dívidas provenientes de operações de créditos sem garantias, como, por exemplo, cheques sem fundo recebidos. Segundo Favilla, pelo fato de os créditos não terem valor nenhum para o banco eles foram retirados.

O presidente da Comissão, deputado Ronaldo Canabrava (PMDB), perguntou aos convidados se não houve má administração dos créditos de liquidação por parte das agências. O ex-diretor do Bemge e do Credireal respondeu que os créditos são muito antigos e, por isso, podem estar mal formalizados. Segundo Favilla, nas privatizações dos bancos estaduais de outros estados não houve transferência das carteiras de crédito. "O Estado teria um valor econômico maior retirando os créditos de liquidação do banco", analisou.

Os convidados responderam vários questionamento do relator, deputado Doutor Viana (PDT), entre eles o por quê do saneamento do Bemge da mesma forma como foi feito, sem sucesso, com o Credireal. De acordo com Ronaldo Locatelli, o Credireal estava em fase terminal quando começaram os trabalhos de saneamento, não restando muito a fazer. O relator afirmou que o Estado não soube administrar suas instituições financeiras.

REQUERIMENTOS

Durante a reunião foram aprovados dois requerimentos. Um do deputado Doutor Viana (PDT), que convida o diretor Financeiro do Banco do Brasil de Brasília, Vicente de Paula Diniz. O outro requerimento, do deputado Ronaldo Canabrava (PMDB), solicita a contratação de uma assessoria parlamentar jurídica especializada para dar apoio aos trabalhos da CPI.

PRESENÇAS

Participaram da reunião os deputados Ronaldo Canabrava (PMDB) - presidente; Doutor Viana (PDT) - relator; Alencar da Silveira Júnior (PDT); Dinis Pinheiro (PSD); e Maria Tereza Lara (PT).


Responsável pela informação: Carolina Brga - ACS - 31-2907715