Corregedor relata experiência de Polícia de Nova York

Uma corporação que funciona como uma empresa, com metas a cumprir e clara distribuição de responsabilidades, e um pro...

26/02/2000 - 00:42

Corregedor relata experiência de Polícia de Nova York

Uma corporação que funciona como uma empresa, com metas a cumprir e clara distribuição de responsabilidades, e um profissional que busca a aproximação com a comunidade - considerada uma espécie de "acionista da empresa". Assim definiu o trabalho da Polícia de Nova York o corregedor da corporação, James Young, que falou, nesta quinta-feira (24/02/2000), sobre "Ética, qualidade e formação policial: a experiência de Nova York", durante o Ciclo de Debates sobre Segurança Pública promovido pela Assembléia Legislativa. Antes do evento, o corregedor concedeu entrevista coletiva à Imprensa.

Durante o debate, realizado no Teatro e presidido pelo deputado Durval Ângelo (PT), 2º-vice-presidente da Alemg, foi distribuída cópia de documento produzido pelo Legislativo com sugestões para atuação dos órgãos públicos do Estado na área da segurança pública. O documento, intitulado "Como a segurança pode, de fato, ser pública - a Assembléia propõe soluções", foi entregue, no último dia 15, pelo presidente Anderson Adauto (PMDB), ao governador Itamar Franco. A principal proposta é a integração das ações das Polícias Militar e Civil. Segundo Durval Ângelo, o documento é uma coletânea de propostas discutidas em diferentes painéis promovidos pela Assembléia, como ciclos de debates e seminários legislativos - e está aberto a novas sugestões da sociedade, também pelo telefone do serviço "Fale com as Comissões" (0-XX)31- 290.7828 ou pelo fax (0-XX)31-290.7670.

TOLERÂNCIA ZERO
Na abertura do Ciclo de Debates, Durval Ângelo ressaltou que Nova York é uma cidade que apresenta bons resultados no combate da criminalidade e, por isso, pode trazer subsídios para a discussão da segurança pública. "Esse assunto merece toda prioridade. Não é uma questão para ser tratada somente pelos policiais", acrescentou. O deputado informou, ainda, durante o evento, que a Assembléia vai realizar em breve duas pesquisas de opinião pública sobre o assunto: com a população e os policiais civis, militares e bombeiros, a serem ouvidos fora dos quartéis. O objetivo é ampliar a discussão do tema, atingindo pessoas com diferentes níveis salariais e de escolaridade.

Em Nova York, cidade com 8 milhões de habitantes, eram registrados, há sete anos, 2,5 mil assassinatos por ano. Com as reestruturações ocorridas na Polícia e a implantação do modelo "tolerância zero", os números caíram para menos de 600 assassinatos, em 1999. O modelo apóia-se, entre outros aspectos, segundo James Young, em concentrar forças na resolução dos pequenos crimes, com a participação da comunidade; e na adoção do sistema japonês de qualidade, com a melhoria contínua de processos, como ocorre nas indústrias. "Os policiais de cada regional têm que cumprir metas e manter a criminalidade baixa na sua área de atuação, além de buscarem a comunidade para ouvir o que ela tem a dizer", explicou o corregedor. Ele citou o exemplo do Japão, onde a relação com a comunidade é mais intensa. Naquele país, os oficiais de Polícia moram no próprio bairro onde trabalham.

COMANDO ÚNICO
O processo de admissão na Polícia é, segundo Young, rigoroso e caro. Os candidatos passam por testes com psicólogos, são submetidos a detectores de mentira e têm o passado avaliado. Quando são admitidos, podem integrar a polícia uniformizada ou o grupo de investigadores, cujo comandante é único. O estágio inicial da carreira é no grupo da polícia uniformizada (encarregada de crimes mais brandos, cujas condenações não ultrapassam um ano). Depois de quatro anos, os policiais podem integrar o quadro de detetives. Ao longo da carreira, os profissionais podem atuar tanto em um ou outro grupo. "Assim eles podem entender as dificuldades de cada lado", afirmou.

Na Corregedoria de Polícia de Nova York, há dois setores: o de reclamações da população e de inspeções. O primeiro investigou, em 1999, 850 reclamações. Segundo Young, quando a queixa é encaminhada, a Corregedoria entrevista a pessoa em questão; colhe depoimentos de testemunhas (que têm valor jurídico) e somente no final do processo entrevista o policial envolvido. As punições - caso comprovado o delito - podem chegar a demissão, processo e prisão. Já o trabalho de inspeção implica o envio de questionários e telefonemas à clientela para verificar se há problemas. Todo policial, quando recebe uma queixa ou denúncia, deve encaminhá-la à Corregedoria, sendo punido se não o fizer.

SALÁRIOS E CORRUPÇÃO
Indagado sobre os salários dos policiais novaiorquinos, Young respondeu que o oficial de Polícia recebe, inicialmente, US$ 25 mil por ano, com uma jornada semanal de 40 horas, além das horas extras. Os vencimentos anuais podem chegar a US$ 40 mil. Ao responder sobre a relação entre o nível salarial dos policiais e a ocorrência de corrupção, o corregedor lembrou que os investigadores do setor de narcóticos podem ganhar até US$ 100 mil por ano. "Se houvesse relação entre a integridade e o dinheiro, esses investigadores não seriam corruptos. E há casos", ilustrou.

Antes do Ciclo de Debates, durante a entrevista coletiva à imprensa, o corregedor informou também que a greve é proibida e, para cada dia não trabalhado, o policial sofre desconto de dois dias no salário. Os sindicatos dos trabalhadores podem ser processados nesses casos e pagar multas altas, sem possibilidade de cancelamento.

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
O comandante-geral da PMMG, Mauro Lúcio Gontijo, que integrou a Mesa dos trabalhos, afirmou que não há como importar modelos prontos. Ressaltou, por outro lado, que é possível promover adequações para usufruir experiências como a de Nova York. "Nosso investimento maior hoje é no policiamento comunitário", disse. O comandante do Corpo de Bombeiros militar, José Maria Gomes, ressaltou, após a palestra, os conceitos de qualidade total; e o secretário- adjunto de Estado da Segurança Pública, Márcio Domingues Barroso (que também estava na coletiva), elogiou a Assembléia por trazer notícias novas sobre o assunto.

Participaram do Ciclo de Debates representantes de entidades de defesa dos direitos humanos, militares, policiais civis, além de vários deputados, bem como o auditor-geral do Estado, Ayrton Maia (que também estava na coletiva), o secretário-adjunto de Estado da Justiça, Weber Americano; e o ouvidor de Polícia do Estado, José Roberto Gonçalves Resende.


Responsável pela informação: Fabiana Oliveira-ACS-312907812