CPI do Narcotráfico ouve traficante e faz reuniões de trabalho

Segunda-feira (03/01/2000) A CPI do Narcotráfico ouviu, durante uma reunião informal, na última segunda-feira (03/01/...

18/01/2000 - 14:22

CPI do Narcotráfico ouve traficante e faz reuniões de trabalho

Segunda-feira (03/01/2000) A CPI do Narcotráfico ouviu, durante uma reunião informal, na última segunda-feira (03/01/2000), o traficante Luiz Fernando Costa, o "Fernando Beira-Mar". O depoimento do traficante foi feito por telefone depois de um contato com os deputados Antônio Carlos Andrada (PSDB) e Paulo Piau (PFL), no dia 27 de dezembro de 1999. Fernando Beira-Mar se dispôs a ajudar a CPI em troca da reabertura do seu processo criminal pois, na sua avaliação, sua prisão foi forjada pelo agente da Polícia Federal Celso Figueiró. Uma parte da reunião foi aberta para a imprensa, depois os deputados conversaram secretamente com o traficante.

Durante o depoimento, o traficante denunciou seu antigo sócio em um Bingo em Itabuna, na Bahia, Wesley Silva, de ter envolvimento com o tráfico. Segundo Beira-Mar, Wesley é proprietário de um cartório em Betim. Ele questionou o fato do agente da Polícia Federal, Celso Figueiró, não ter feito um levantamento das propriedades de Wesley, assim como foi feito com ele. "Tem muita lama por trás do Bingo", afirmou.

O deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB) perguntou se ele teria conhecimento de quem comanda o tráfico em Minas. Fernando Beira-Mar informou que 80% do tráfico no Estado é comandado pela Polícia Civil e que poderia citar o nome de três policiais envolvidos. Ele acrescentou que não é santo, mas que não se envolveu com o tráfico em Belo Horizonte. "Sou pequeno. Quem me criou foi o "Figueiró". Tomei conhecimento de tudo durante os nove meses que passei preso aqui", disse. O traficante se comprometeu a revelar os nomes na parte secreta da reunião.

FUGA DO DEOESP
Fernando Beira-Mar cumpria pena de 12 anos no Departamento de Operações Especiais e no dia 26 de março de 1997 fugiu juntamente com três sequestradores. De acordo com o traficante, não tinha privilégios na prisão, somente a evidência que a imprensa lhe dava. O deputado Rogério Correia perguntou à Beira-Mar como foi a sua fuga do Deoesp. Ele relatou que quando estava preso no DI pagou para a facilitação de sua fuga, mas acabou recapturado e transferido para o Deoesp. No Departamento de Operações Especiais, Fernando disse que não pagou pela liberdade. "Estava no lugar certo e no momento certo. Tudo que eu fiz foi pedir um alicate para cortar o cadeado", afirmou.

O traficante informou, ainda, que saiu do Deoesp de táxi por volta das 3 horas da manhã. Ficou hospedado na casa de um amigo em Belo Horizonte por três dias, foi para o Rio de Janeiro, e, depois, para São Paulo, seguindo para o Paraguai. Durante o depoimento, o traficante citou várias vezes o nome dos traficantes Teobaldo e Santuza, lamentando por não terem a mesma oportunidade de se defenderem, como ele. Fernando Beira-Mar acusou, ainda, o delegado do Deoesp, João Reis, de tortura.

De acordo com os deputados, a participação de Fernando Beira-Mar na parte secreta da reunião não acrescentou nenhum fato ou nome novo, que justificasse a reabertura do seu inquérito. Segundo o relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT), Beira-Mar é um traficante extremamente perigoso, que sabe de muita coisa. O presidente da Comissão, deputado Marcelo Gonçalves (PDT), disse que os deputados tentaram um acordo com o traficante. propondo a reabertura do processo em troca dos nomes, mas o traficante não informou nada.

O presidente da Comissão informou que o traficante disse que vai entrar em contato com um dos deputados da CPI amanhã (04/01/2000). O relator, deputado Rogério Correia (PT), afirmou que a CPI se reunirá no próximo dia 13 de janeiro para ouvir um agente da Polícia Federal.

PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputados Marcelo Gonçalves (PDT), que a presidiu; Sargento Rodrigues (PL); Agostinho da Silveira (PL); Paulo Piau (PFL); Antônio Carlos Andrada (PSDB); Rogério Correia (PT) e o advogado de Fernando Beira-Mar na época de sua prisão, Adalberto Lustosa; o promotor do Ministério Público, André Albaldine; e o delegado da Polícia Federal, Cláudio Dornellas.

Terça-feira (04/01/2000)
LIGAÇÃO ROGÉRIO CORREIA
Na terça-feira (04/01/2000), conforme disse em seu depoimento por telefone, o traficante Fernando Beira-Mar entrou em contato com o relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT). O traficante ligou para o celular do deputado e a chamada não pode ser identificada. A ligação foi feita por volta das 12 horas e eles conversaram durante cerca de 40 minutos. De acordo com o deputado, Beira-Mar ligou para saber se a CPI vai ajudá-lo na reabertura do seu processo criminal. Segundo Rogério Correia, Fernando não informou nenhum nome à CPI e somente reforçou suas acusações a Wesley Silva, proprietário de um cartório em Betim e ex-sócio do traficante em um Bingo na Bahia.

WESLEY SE DEFENDE
O ex-sócio de Fernando Beira-Mar, Wesley Silva, entrou em contato, terça- feira (04/01/2000) com o presidente da CPI do Narcotráfico, deputado Marcelo Gonçalves (PDT) se dizendo surpreendido com as notícias publicadas nos jornais da Capital. Segundo o deputado, Wesley disse que Beira-Mar pode estar fazendo isso por vingança e que não tem nenhum envolvimento com o traficante. Ele se colocou à disposição da CPI para qualquer esclarecimento. O deputado Marcelo Gonçalves (PDT) informou que Wesley Silva chegou a ser investigado pela Polícia Federal, mas nenhuma irregularidade foi encontrada a seu respeito, sendo o inquérito arquivado. Ele ressaltou que o inquérito de Wesley Silva já foi solicitado ao delegado Cláudio Dornellas. "Vamos ver o inquérito. Todas as denúncias serão investigadas", afirmou o deputado.

Quinta-feira (07/01/2000)
DENÚNCIAS
Os integrantes da CPI do Narcotráfico se reuniram durante toda a tarde desta quinta-feira (07/01/2000) para discutir e esclarecer as denúncias do sub-relator da Comissão, deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), de ter sido vítima de uma armação, montada por grupos ligados ao tráfico de drogas em Barbacena, sua cidade natal, durante a passagem do ano. O próprio deputado solicitou a realização da reunião e, no final do encontro, a CPI divulgou uma nota oficial concluindo que o episódio, envolvendo o deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), trata-se de uma tentativa de desestabilização dos trabalhos em curso.

Segundo o deputado Antônio Carlos Andrada, na madrugada do dia 1º de janeiro, foi convidado por uma conhecida a ir até um bar depois da festa de reveillon. Ao chegar lá, de acordo com Antônio Carlos Andrada (PSDB), três pessoas fizeram o uso de cocaína na sua presença. O parlamentar procurou a polícia no mesmo dia e formalizou a denúncia registrando a ocorrência junto à Polícia Federal, considerando o fato como uma tentativa de envolvê-lo numa situação constrangedora, por estar atuando na CPI do Narcotráfico.

De acordo com o deputado Agostinho Silveira (PL), autor do requerimento que deu origem à CPI, os parlamentares já esperavam esta reação por parte dos traficantes. O deputado Marcelo Gonçalves (PDT), presidente da Comissão, informou que todo o inquérito aberto pelo deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB) será encaminhado para o Ministério Público Estadual para apuração. Ele acrescentou que os integrantes da CPI do Narcotráfico devem tomar mais cuidado e reforçar a sua segurança pessoal, pois o deputado Rogério Correia já recebeu a denúncia que seria o próximo. O relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT) também ressaltou a importância de um reforço na segurança.

O deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB) não acha que foi ingênuo se deixando levar para um bar, mas acredita que foi imprudente. "Deveria ter me recatado mais", lamentou. Segundo ele, a hipótese de se afastar da CPI não passou pela sua cabeça, "é isso que o tráfico quer", afirmou. Andrada não acredita que a armação tenha cunho político, mas sim sua repercussão. Na nota oficial apresentada, a CPI repudia quaisquer tentativas de explorações políticas em suas atividades com objetivos de aproveitamento partidário- eleitoral.


Responsável pela informação: Carolina Braga ACS (31) 2907812