Depoente nega teor de entrevista na CPI do Narcotráfico
A CPI do Narcotráfico tomou, nesta terça-feira (14/12/1999), o depoimento de Emerson Vieira da Silva, de Uberlândia, ...
16/12/1999 - 06:08Depoente nega teor de entrevista na CPI do Narcotráfico
A CPI do Narcotráfico tomou, nesta terça-feira (14/12/1999), o depoimento de Emerson Vieira da Silva, de Uberlândia, que, em entrevista ao jornal "Estado de Minas", no último domingo, acusou policiais militares e civis daquela cidade de envolvimento com tráfico de drogas e de corrupção para soltura de presos. No depoimento aberto ao público e com a presença de policiais, o depoente manteve a versão de que, na entrevista ao jornal, suas respostas foram orientadas por um tenente da PM, cujo nome alegava desconhecer. Em depoimento reservado com os integrantes da CPI, Emerson Silva confirmou a veracidade da entrevista e, segundo o presidente da Comissão, deputado Marcelo Gonçalves (PDT), prestou um "depoimento importantíssimo", cujo teor será encaminhado, sob sigilo, ao Ministério Público, para providências imediatas, conforme requerimento do relator Rogério Correia (PT), aprovado pela Comissão.A reunião da CPI teve início às 16 horas e passou a ser reservada por volta das 18h30. Os trabalhos foram reabertos às 21h50. O presidente Marcelo Gonçalves informou que a mulher e os filhos de Emerson já estavam sob proteção do destacamento da Polícia Militar de Uberlândia, que foi solicitada durante a reunião secreta.
A Comissão aprovou ainda requerimentos do deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), pedindo ao Comandante da Polícia Militar para fornecer o nome do militar que autorizou o contato de Emerson com o jornalista Ilson Lima, autor da entrevista, e do deputado Sargento Rodrigues (PL), também ao Comandante da Polícia Militar, pedindo a apuração das informações prestadas pelo depoente à CPI, a respeito do envolvimento de policiais militares em atos ilícitos.
Do relator Rogério Correia (PT) foram aprovados também um requerimento pedindo ao Instituto Médico Legal o envio do exame de corpo de delito a que foi submetido, ontem, Emerson Silva, e outro, para que o depoente fosse colocado sob a custódia da Polícia Federal, para proteção pessoal. Mesmo requerimento, o parlamentar menciona que a família do depoente deverá ser protegida pela Polícia Militar.
A CPI vai ouvir na próxima quinta-feira o diretor do Deoesp, delegado Marco Antônio Abreu Cedib, e o corregedor da Polícia Civil, Clóvis Filho. Na sexta-feira, deverá ser ouvido o promotor Gilvan Alves Franco sobre a fuga do traficante Fernando Beira-Mar do Departamento de Operações Especiais (Deoesp).
REVIRAVOLTA
No depoimento aberto ao público, Emerson disse à CPI que, na entrevista, dada sob o codinome "Formiga", e em que é apresentado como traficante, suas respostas foram preparadas por um tenente da Polícia Militar, cujo nome alega desconhecer. No entanto, ele disse aos deputados que pode levá-los à casa do tenente. Ele disse, no início do depoimento, achar que a entrevista foi uma forma de policiais militares de Uberlândia tentarem desmoralizar os policiais civis da cidade. Mais tarde, indagado outra vez sobre o motivo da entrevista, disse que não tinha "noção", mas que queria os R$ 50,00 para pagar a conta de luz de sua casa.
Emerson disse aos deputados que é informante da polícia, categoria conhecida como "X-9". Ele negou que seja traficante ou usuário de drogas. Os nomes apontados na entrevista ao jornal como de grandes traficantes, eram, segundo afirmou, "traficantes de botequim". Ele disse também que foi levado a uma praça, por uma viatura da Rotam, e depois a um local ermo, e que o tenente disse que ele ganharia R$ 50,00 para dizer o nome de três traficantes para jornalistas de Belo Horizonte.
"Mandaram eu ensaiar o que dizer, e como minha luz estava no escuro, topei", disse Emerson. Ele declarou que vive com a segunda mulher, com quem tem uma filha de um ano de três meses e um bebê prematuro de 15 dias. Ele confirmou que parte da entrevista é verdade e reafirmou a denúncia contra um soldado da PM que teria uma boca de cocaína no terminal rodoviário da cidade. O depoente declarou também que foi preso e condenado, duas vezes, por roubo e assalto. Passou cinco meses preso em Minas e três em Goiás, de onde foi solto, segundo afirmou, por bom comportamento e porque os presídios estavam lotados. Na prisão, disse ele, conheceu os traficantes que citou na entrevista.
Emerson declarou que a fita da entrevista era interrompida para que ensaiasse as respostas. Na reprodução da fita, ficou evidente que há algumas interrupções, mas também longos trechos em que ele fala fluentemente. O deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB) chegou a apresentar um requerimento pedindo a realização de perícia técnica na fita. O requerimento foi retirado pelo parlamentar depois que o depoente confirmou, no depoimento reservado, a veracidade das declarações prestadas ao jornalista. O depoimento público de Emerson Silva foi acompanhado, em parte, por representantes do Ministério Público, da Polícia Federal e da Corregedoria de Polícia.
Depois que os parlamentares declararam que nada mais tinha a perguntar ao depoente, o relator Rogério Correia requereu à Comissão a transformação da reunião em reunião reservada, com a presença apenas dos parlamentares e do depoente. O depoimento reservado começou por volta de 18h30 e mais de três horas. O teor do depoimento, que não foi revelado, e será encaminhado ao Ministério Público, mudou a situação de Emerson. Pedida a custódia da Polícia Federal, ele deixou o prédio da Assembléia, sem falar com a imprensa, numa viatura da Polícia Federal.
PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputados Marcelo Gonçalves (PDT), Rogério Correia (PT), Antônio Carlos Andrada (PSDB), Paulo Piau (PFL), Sargento Rodrigues (PL), José Henrique (PMDB), Agostinho Silveira (PL) e Marco Régis (PPS).
Responsável pela informação: Francisco Mendes - ACS - 31-2907715