Assembléia realiza ato público contra privatização de Furnas

"É com a responsabilidade de sermos o fermento que temos o dever de aumentar a massa da consciência do nosso povo, de...

14/12/1999 - 00:46

Assembléia realiza ato público contra privatização de Furnas

"É com a responsabilidade de sermos o fermento que temos o dever de aumentar a massa da consciência do nosso povo, de lutar e defender o que é nosso." Com essas palavras o presidente da Assembléia de Minas, deputado Anderson Adauto (PMDB), encerrou o Ato Público em Defesa de Furnas e Contra a Privatização dos Recursos Hídricos Brasileiros, realizado na sede do Legislativo mineiro nesta sexta-feira (10/12/99). O evento reuniu lideranças políticas de expressão nacional, como o ex-governador e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola; o deputado federal e líder do PT na Câmara dos Deputados, José Genuíno; o ex-governador e ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves; a ex-prefeita de São Paulo e líder do PSB na Câmara dos Deputados, Luíza Erundina; o deputado federal Vivaldo Barbosa (PDT), presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Brasil, que reúne 132 deputados federais e senadores; e o prefeito de Belo Horizonte e coordenador da Frente Nacional de Prefeitos, Célio de Castro (PSB).

O governador Itamar Franco foi representado pelo secretário de Recursos Humanos e Administração, Sávio Souza Cruz. O Ato foi convocado pela Assembléia e pela Frente Parlamentar Jorge Hannas Contra a Privatização de Furnas, que reúne 71 dos 77 deputados estaduais mineiros.

Todos os pronunciamentos destacaram a importância do ato como marco inicial de um grande movimento nacional contra a privatização de Furnas e das hidrelétricas, e o papel de vanguarda exercido por Minas Gerais nesta luta. Furnas é uma das maiores e mais lucrativas empresas da América do Sul, responsável por 43% de toda a energia consumida no Brasil, da qual dependem mais de 90 milhões de brasileiros.

Destino - Leonel Brizola taxou de irresponsável e leviana a política econômica do Governo Federal, falou sobre a importância da união de Minas e disse que "o destino está colocando nas mãos dos mineiros a oportunidade do desencadeamento de um movimento nacional de resistência". José Genoíno frisou o apoio do PT à "decisão firme do governador Itamar Franco de resistir à venda de Furnas", e destacou que "a privatização do setor hidrelétrico é muito mais grave do que todas as privatizações que aconteceram até agora", por atentar contra a soberania nacional, o domínio sobre o território e o controle de um bem essencial à existência, que é a água. "Apesar de Minas estar na vanguarda, a luta em defesa de Furnas não é só de Minas, é uma luta nacional e decisiva para que possamos ter um país soberano, democrático e justo", analisou.

Globalização - Em seu pronunciamento, Aureliano Chaves criticou o neoliberalismo e afirmou que a globalização, nos termos em que está posta, é sinônimo de falta de democracia e de ausência de bem-estar social. "A política de privatização não vem ao encontro do interesse nacional, mas, sim, de encontro aos interesses da Nação", disse, avaliando que o que une pessoas de diferentes matizes políticos na luta contra a venda de Furnas "é o amor ao Brasil", e que "é preciso dizer um não ao processo de privatização e levar esse não às últimas conseqüências".

Mobilização - A deputada federal Luíza Erundina avaliou que as privatizações anteriores não foram barradas porque não houve mobilização suficiente, mas que "agora é diferente". Ela ressaltou que é importante dar desdobramentos ao ato público e mobilizar a sociedade brasileira, para que as pessoas saiam às ruas e exijam mudanças na política econômica. "É inadmissível colocar um bem natural como a água sob a lógica do mercado. É preciso dar um basta à sanha assassina do Governo Fernando Henrique Cardoso", enfatizou. Segundo a ex-prefeita, o governador Itamar Franco não está isolado em sua luta: "O povo está com ele; e quando Minas lança seu grito de guerra, o País inteiro escuta. Salvar Furnas é salvar o Brasil!", sentenciou.

Resistência cívica - O líder do Governo na Assembléia, deputado Alberto Pinto Coelho (PPB), discursou em nome da Frente Parlamentar Jorge Hannas e falou que a manifestação era um ato de resistência cívica, de consciência cívica. Segundo ele, o Brasil está trafegando na contramão da história, pois os recursos hídricos são considerados patrimônio público nos mais diferentes países, e que "a questão da água é o grande desafio para o século XXI". O deputado federal Sérgio Miranda (PCdoB) condenou a transferência de bens públicos para as mãos da iniciativa privada e os benefícios tributários concedidos a investidores estrangeiros para adquirirem estatais brasileiras.

Caráter suprapartidário - O senador José Alencar (PMDB) afirmou que o ato era o início de uma grande mobilização nacional, de caráter suprapartidário, e lembrou que nem mesmo os Estados Unidos, país onde a iniciativa privada é mais valorizada, admitem a privatização das hidrelétricas, por sua importância estratégica. Ele também fez críticas às privatizações anteriores, como a da Vale do Rio Doce, vendida por um valor equivalente ao montante de 17 dias de juros da dívida pública interna. Discursaram, ainda, o coordenador do Fórum Nacional de Lutas, Carlos Calazans; o presidente do Sindifurnas, Ataíde Vilela; Fernando Máximo, da UNE; José Dalton Barbosa, prefeito de Guapé; e Vivaldo Barbosa, presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Brasil.

Presenças - Também participaram do Ato Público a presidente do PT/MG, deputada federal Maria do Carmo Lara; os deputados federais Virgílio Guimarães (PT/MG) e Olímpio Pires (PDT/MG); os secretários de Planejamento, Manoel Costa, de Meio Ambiente, Tilden Santiago, de Minas e Energia, Paulino Cícero; prefeitos, vereadores, sindicalistas e lideranças de mais de 20 municípios da Bacia de Furnas e deputados estaduais de diversos partidos. A viúva e a filha do ex-deputado Jorge Hannas, Cleunice Silva Hannas e Geórgia Silva Hannas, também estiveram presentes.

Show - Após o Ato Público, foi realizado, no Hall das Bandeiras, o show "Guerra das Águas", aberto pelo cantor e compositor Vilson Balbino cantando a música "Águas". Vinte e seis garrafas, com os nomes das bacias e sub-bacias de Minas Gerais, simbolizaram a união das águas do Estado. Balões e fogos de artifício completaram o show, que contou, ainda, com a participação dos artistas Haroldo e Zé Carlos Souza Lima, Lucinho Cruz e Marcus Túlio.


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