Secretário adjunto é contra federalização de Casemg e Ceasa

O secretário adjunto de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Lima Bandeira, reafirmou nesta quint...

06/11/1999 - 07:18

Secretário adjunto é contra federalização de Casemg e Ceasa

O secretário adjunto de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Lima Bandeira, reafirmou nesta quinta-feira (04/11/1999), durante reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia, a posição da Secretaria de Estado da Agricultura contra a transferência da Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais (Casemg) e da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa) para o governo federal. A possibilidade de federalização das duas empresas está sendo discutida pelo secretário de Estado da Fazenda, José Augusto Trópia Reis, com técnicos do governo federal, como parte do pagamento da conta gráfica do Estado com a União, que corresponde a 10% da dívida total de Minas Gerais com o governo federal.

A reunião foi realizada com a presença de representantes da Ceasa e da Casemg, do governo estadual e de sindicatos de trabalhadores e produtores rurais de diversos municípios do Estado. Caravanas de produtores vindas do interior lotaram o Auditório da Assembléia. O deputado João Batista de Oliveira (PDT), presidente da Comissão e autor do requerimento que deu origem à reunião, afirmou que a Ceasa é um exemplo de comercialização direta entre produtores e consumidores e que seria um risco transferir para a União a gestão das empresas. Além disso, o deputado destacou que o valor avaliado para a venda das duas empresas, cerca de R$ 330 milhões, representaria um abatimento muito pequeno na dívida do Estado. O deputado disse acreditar que o governador Itamar Franco não irá ceder às pressões do governo federal e fez um apelo para que sejam apresentadas ao governo do Estado outras alternativas. João Batista apontou como uma possibilidade a transferência, para a União, do Grande Hotel de Araxá.

PAPEL ESTRATÉGICO
O secretário adjunto da Agricultura afirmou que a Ceasa desempenha um papel estratégico de escoamento da produção agrícola no Estado e é um órgão essencial para o funcionamento de todo o processo produtivo. "Não adianta uma política definida para a produção se o produtor não tiver onde escoar os produtos", afirmou. Segundo ele, a agricultura no Estado é um conjunto harmônico de empresas, que se complementam para o bom funcionamento do sistema. Antônio Bandeira Lima afirmou que a posição da Secretaria de Agricultura é a defesa da permanência da Ceasa e da Casemg no sistema de agricultura do Estado.

Representando a Secretaria Municipal de Abastecimento de Belo Horizonte, Afonso Damazzio Soares também se posicionou contra a transferência das empresas e disse "confiar mais em uma privatização feita pelo governo do Estado". Já o presidente da Associação Comercial da Casemg, Wander Melo, foi o único que se posicionou favorável à privatização das empresas. Ele afirmou ser contra a federalização porque não conhece uma política efetiva do governo federal de incentivo aos produtores agrícolas, mas disse ser a favor de que a Casemg e a Ceasa sejam administradas pela iniciativa privada.

CRÍTICAS À FEDERALIZAÇÃO
Os representantes da Casemg e da Ceasa também se colocaram contra a federalização e uma possível privatização das empresas. O diretor Técnico Operacional da Casemg, Ricardo Saud, disse que o governo federal "não está preparado para tomar conta de companhia". Segundo ele, a Casemg é a maior empresa armazenadora oficial do País, com 27% de toda a armazenagem do Estado, e 26 unidades em Minas Gerais. "A comercialização é a parte mais importante e difícil do processo. Nós buscamos a parceria com o homem do campo e não podemos correr o risco de perder essa parceria", afirmou. O presidente da Casemg, Geraldo Costa Pereira, também se colocou contra a transferência das empresas e disse que "confia na sensibilidade do governador de Minas para defender as causas do Estado" .

O diretor técnico da Ceasa, Carlos Henrique Filizolla, disse que a grande preocupação é que, com a federalização, os produtores não tenham o apoio que têm hoje para a comercialização dos produtos. Filizola criticou também uma possível privatização da empresa pelo governo federal. Segundo ele, abastecimento é uma questão estratégica e que deve ficar sob a responsabilidade do Estado.

O complexo operacional da Ceasa/MG compreende, segundo Filizola, as unidades de Contagem, Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares e Caratinga, que movimentam cerca de 2,5 milhões de toneladas de produtos alimentícios e não alimentícios e 1,5 milhão de toneladas de hortifrutigranjeiros, gerando um movimento financeiro da ordem de R$ 1,6 bilhão. Nos dias de grande movimento, a Ceasa de Contagem chega a receber 70 mil pessoas. Ainda de acordo com o diretor técnico da empresa, a Ceasa gera 15 mil empregos diretos e 60 mil empregos indiretos no Estado. Juntas, as unidades da empresa comercializam 80% do que é consumido em hortigranjeiros no Estado. Filizola destacou, também, que a Ceasa desenvolve projetos de caráter social e outros destinados à melhoria do sistema de comercialização e abastecimento do Estado .

O presidente do Sindicato de Produtores de Hortifrutigranjeiros das Ceasas do Estado de Minas Gerais (Aphcemg), Antônio Lopes Rodrigues, também demonstrou a preocupação dos produtores com a transferência das empresas para o governo federal. Segundo ele, a federalização e a privatização das empresas irá representar prejuízos aos produtores. Antônio Lopes destacou que uma das conquistas do setor é o Mercado Livre do Produtor (MLP), que funciona em um galpão dentro da Ceasa e onde os produtores podem comercializar diretamente com os consumidores, sem a presença de atravessadores. Com a federalização, Antônio Lopes acredita que esse comércio direto seria prejudicado.

DEBATE
Após a fase inicial da reunião, foi aberto o debate, quando representantes de funcionários das Casemg e da Ceasa e de trabalhadores rurais se revezaram ao microfone e manifestaram posição contrária à federalização das empresas. O deputado João Paulo (PSD) leu documento que irá enviar ao governador Itamar Franco, pedindo que as empresas não sejam repassadas à União. O deputado disse que a possível venda da Ceasa e da Casemg contrasta com a política de preservação do patrimônio público do governo do Estado e afirmou acreditar que o governador Itamar Franco não irá levar a questão adiante.

O deputado Edson Rezende (PSB) afirmou que alimentação é uma questão de segurança e que, por princípio, deve estar nas mãos do Estado. "A Casemg e a Ceasa representam uma concepção mineira de ver o produtor e essa concepção não se transfere", disse. O deputado criticou a carência de políticas por parte do governo federal que apóiem os produtores rurais.

Presenças - Participaram da reunião os deputados João Batista de Oliveira (PDT), que a presidiu, Rogério Correia (PT), Edson Rezende (PSB), Antônio Roberto (PMDB), João Paulo (PSD), e Dimas Rodrigues (PMDB). Também participaram da reunião, o representante dos funcionários da Ceasa, Walter Martins Santos; o presidente da Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Ceasa, Antônio Lopes Rodrigues; o diretor técnico Ceasa, Carlos Henrique Filizola; o presidente da Casemg, Geraldo Costa Pereira; o secretario Adjunto de Agricultura Pecuária e Abastecimento, Antônio Lima Bandeira; o diretor Operacional da Casemg, Ricardo Saud; o presidente da Associação Comercial da Ceasa, Wander Melo; o representante da Sociedade Mineira de Agricultura, Divaldo Jardim; o diretor administrativo da Casemg, Amilcar Campos Padovani; além de representantes de funcionários da Casemg e da Ceasa; de produtores e trabalhadores rurais e vereadores de vários municípios do Estado.


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