Problemas do Rio das Velhas são debatidos em Comissão

Tornar público o diagnóstico de saúde e meio ambiente da Bacia do Rio das Velhas e discutir o Projeto Manoelzão foram...

05/11/1999 - 07:20

Problemas do Rio das Velhas são debatidos em Comissão

Tornar público o diagnóstico de saúde e meio ambiente da Bacia do Rio das Velhas e discutir o Projeto Manoelzão foram objetivos da Audiência Pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, realizada nesta quarta-feira (03/11/1999). "O programa tem os objetivos de aumentar a consciência ambiental e ser um instrumento de atuação em defesa do ambiente, da educação e da promoção da saúde em todas as cidades da bacia", explicou o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Marcus Vinícius Polignano, um dos responsáveis pela elaboração do Projeto Manoelzão - uma iniciativa do Internato Rural da Faculdade -, juntamente com os professores Apolo Heringer Lisboa e Antônio Leite Alves.

Segundo o professor Apolo Heringer, o projeto, que começou há dois anos e meio, hoje engloba cerca de 51 municípios, atingindo aproximadamente 4 milhões de pessoas. Para ele, o Rio das Velhas conserva a história de Minas, mas é também um espelho da sociedade atual. "O rio reflete a sujeira e os maus hábitos da população que depende dele", explicou o professor. Na opinião de Heringer, o maior problema de poluição da bacia não é o lixo ou o esgoto, mas a falta de consciência do homem. "A água é o símbolo da terra; ela traz informações de tudo o que está acontecendo naquela área, é ela que manifesta o que há de errado", argumentou o professor. Ele lembrou que nem mesmo os animais silvestres que habitam a bacia podem beber a água do rio - que também não serve para irrigação. "A economia dos municípios está ameaçada pela qualidade da água," afirmou.

O deputado Edson Rezende (PSB) relacionou a qualidade da água na bacia com o modo de produção capitalista. "A busca do lucro não pode resultar para nós, seres humanos, uma terra inabitável", avaliou, afirmando que o modo de concepção capitalista de produção resulta em prejuízos ao meio ambiente, com conseqüências desastrosas. "Devemos fazer uma parceria com a mídia para, desta forma, estimularmos a consciência da preservação. Prevenir ainda é o melhor remédio", alertou o deputado. Edson Rezende também levantou outra questão: empresas nacionais e multinacionais poderiam estar comprando fazendas onde há nascentes da Bacia do Rio da Velhas. "A situação pode ficar ainda pior, estamos perdendo o que é nosso", opinou.

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Segundo o professor Marcus Vinícius Polignano, Belo Horizonte é a grande responsável pela degradação ambiental da Bacia do Rio das Velhas, pois a maioria dos córregos canalizados da cidade foram transformados em esgotos sanitários despejados no Rio Arrudas, que, por sua vez, lança todos os resíduos no Rio das Velhas. "Nós ainda não conseguimos criar um modelo de urbanização que não se aproprie do meio ambiente. É impossível ter qualidade de vida sem ter meio ambiente saudável", avaliou.

Na opinião dele, a destinação dos esgotos continua sendo o pior problema das cidades. "Quem polui não é um órgão nem um setor específico; é a sociedade. Em cem anos, estamos acabando com o Rio das Velhas", disse. Já o engenheiro sanitário Carlos Ribeiro acredita que o esgoto urbano é mais fácil de ser tratado do que o industrial. "Não é competência do Estado cuidar de esgotos de origem industrial", acrescentou. Ele afirmou que cerca de 90% da população da bacia estão conscientes de que não devem poluir o meio ambiente. Marcus Vinícius Polignano lembrou, ainda, que cerca de um bilhão de pessoas no mundo não consomem água potável e 1,7 bilhão não tem instalação sanitária. Outra estatística destacada por ele diz respeito ao volume de água doce do planeta - que é de apenas 2%.

GUERRA DA ÁGUA
No próximo milênio, a guerra vai ser da água. A afirmação é da deputada Maria José Haueinsen (PT). "Até há 50 ou 60 anos atrás, não havia preocupação alguma com o meio ambiente. Hoje a água é motivo de rivalidade", argumentou. A deputada lembrou, ainda, que é fácil reconhecer um córrego no lugar de um rio e cemitérios perto de nascentes. "Esse tipo de atitude demonstra a degradação da natureza", afirmou.

O deputado Fábio Avelar (PPS) elogiou o Projeto Manoelzão, afirmando que ele exerce um papel de conscientização da população. Lembrou, ainda, da época em que trabalhava na Copasa e falou que a estatal tem um sério problema com a poluição. "A Copasa é uma poluidora", afirmou. Eva Irene, da Secretaria de Estado da Saúde, defendeu um maior investimento em saúde e meio ambiente. "Muita verba já foi liberada para o saneamento básico, mas a situação é cada vez pior", criticou.

PRESENÇAS
Participaram da reunião os deputado Cabo Morais (PL), que a presidiu, Maria José Haueisen (PT), Antônio Roberto (PMDB), Fábio Avelar (PPS), Adelino de Carvalho (PMDB); além dos convidados Eva Irene, representando a Secretaria de Estado da Saúde; e os professores Marcus Vinícius Polignano e Apolo Heringuer Lisboa e o engenheiro Carlos Ribeiro, além de prefeitos da Bacia do Rio das Velhas.


Responsável pela informação: Renata Ramos - ACS - 31-2907715