Cientista político vê ameaça ao Mercosul
Os impasses entre Brasil e Argentina podem comprometer irreversivelmente o Mercosul, fazendo a América Latina perder ...
22/10/1999 - 15:41Cientista político vê ameaça ao Mercosul
Os impasses entre Brasil e Argentina podem comprometer irreversivelmente o Mercosul, fazendo a América Latina perder sua grande alternativa à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A opinião é do cientista político mexicano Luiz Gonzales Sousa, da Universidade Autônoma do México, para quem a Alca não é uma solução interessante para o continente. "Ela reproduz as relações assimétricas e dominação do Acordo do Nafta, que reúne Estados Unidos, México e Canadá". Gonzales concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira (21/10/1999), na Assembléia Legislativa.O cientista político veio a Belo Horizonte proferir uma palestra sobre o tema "A América Latina entre a soberania e a Alca", no Fórum de Políticas Macroeconômicas Alternativas, no Plenário da Assembléia (na noite de 21/10, às 19 horas, no Plenário). Luiz Gonzales disse que o projeto que resultou na Alca é uma ação estratégica dos Estados Unidos, acima dos partidos. "Um presidente republicano, Geoge Bush, deu início ao projeto, que teve continuidade com o democrata Bill Clinton, sem que nada fosse alterado. Ele lembrou que o objetivo de Bush era o de fazer da América Latina uma área de livre comércio, sob as bases do acordo do Nafta. "O nascimento do Mercosul representou uma ameaça ao projeto hegemônico dos Estados Unidos", disse Gonzales, acrescentando que "se o Mercosul falhar, estará perdida a última oportunidade dos países da América Latina de serem atores e não servos da globalização".
O cientista político afirmou que é lamentável o impasse entre o Brasil e a Argentina e defendeu uma política para o Mercosul que signifique uma integração diferente, mais interessante para todos. Ele deu como exemplo a integração dos trabalhadores. "A globalização quer abrir os mercados para a tecnologia, as mercadorias e os capitais, mas mantém barreiras para a mão-de- obra". Ele citou a violência com que os Estados Unidos impedem a migração de trabalhadores mexicanos.
AÇÃO MILITAR
Luiz Gonzales assinalou que existem duas vertentes hoje na Alca. A vertente econômica está paralisada, por questões internas dos Estados Unidos. Mas a vertente militar continua em franca expansão, fora de qualquer controle. O pretexto dos Estados Unidos, segundo o cientista político, é o combate ao narcotráfico. "É um braço militar que avança contra os exércitos dos países latinos para debilitá-los e facilitar a dominação sobre o continente".
A globalização também foi analisada por Gonsales, que vê hoje dois sentidos de avanço do processo. Num deles está um projeto, de viés econômico, que é mercantilista, excludente, elitista e antidemocrático. Mas de outro lado, avança uma forma de globalização, "a que comprometeu Augusto Pinochet", que trata da justiça, dos direitos humanos, da solidariedade. Uma das grandes contradições da globalização, em relação aos grandes países, segundo Gonzales, está no fato de que, aos mesmo tempo que apregoam o fim das fronteiras, cresce naqueles países, como Estados Unidos e Alemanha, o nacionalismo e eles mantém diversas formas de proteção de seus mercados.
CRISE DO MÉXICO
Depois da crise do México, de 1994, a situação da população daquele país piorou ainda mais. O professor Gonzales disse que as estatísticas do Governo que mostram resultados positivos da economia são "maquiadas". Segundo ele, o número de pobres antes de 1994 era de 40 milhões, numa população de 98 milhões, sendo 17 milhões de extremamente pobres.. Hoje, os extremamente pobres estão em 25 milhões e os pobres já somam 54 milhões de pessoas.
Responsável pela informação: Francisco Morais - ACS - 31-2907715