Timor Leste é tema de debate em reunião no Consea/MG

A trágica situação vivida pelo povo do Timor Leste foi destacada na Conferência Pública "Conflito, fome e segurança alimentar e nutricional em países de língua portuguesa", realizada, nesta segunda-feira (18/10/1999), no Teatro da Assembléia Legislativa, durante a programação do Encontro Nacional de Segurança Alimentar. No evento, foi prestada ainda homenagem ao presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar (Consea-MG), Dom Mauro Morelli. O bispo de Duque de Caxias recebeu o título de cidadão honorário de Belo Horizonte. O presidente da Assembléia, deputado Anderson Adauto (PMDB), abriu o evento dizendo que é necessário acabar com as agressões dirigidas ao país em conflito. "O ato público que estamos promovendo tem o objetivo de oficializar nossa solidariedade aos timorenses", ressaltou o presidente, que sugeriu um plano de ação nacional para recuperar aquele país. "O Timor Leste pede socorro, e nosso movimento irá extrapolar os limites deste Estado", afirmou o presidente Anderson Adauto.

Luís Noronha, representante das delegações dos países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), expôs a situação atual do Timor. "Temos um país ameaçado pelas milícias da Indonésia, nosso povo está mutilado, sem casa e com fome", contou. Segundo ele, a Indonésia afirmou que irá destruir todas as obras que fez durante os anos de sua ocupação. Ele ainda fez um apelo às autoridades presentes em favor da reconstrução de seu país. "Precisamos agora de ajuda urgente para recuperar Timor", pediu Noronha. Representando o ex- embaixador em Portugal, José Aparecido, seu filho José Fernando Aparecido de Oliveira defendeu as eleições diretas no Timor Leste. "É um absurdo um povo querer colonizar o outro às vésperas do Terceiro Milênio", justificou.

Para o representante do Fórum Brasileiro Flávio Luiz Valente, não só o Timor Leste merece atenção, mas também os demais países. "Angola tem o maior número de pessoas mutiladas em guerra do mundo", exemplificou. Ele lembrou, ainda, que o direito humano mais básico é o direito à alimentação. No entanto, 750 milhões de pessoas passam fome no mundo. "Mesmo nos países desenvolvidos cerca de 10% da população estão passando fome e, no Brasil, são 32 milhões de famintos", disse. Valente lembrou o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que lutou contra a fome e a favor da cidadania. Para Flávio Luiz Valente, é hipocrisia, portanto, falar de ajuda à segurança alimentar de outros países, como o Timor Leste, enquanto o próprio País não tiver a questão resolvida.

O deputado Federal Nilmário Miranda (PT/MG) afirmou que a posição do Brasil com relação ao Timor foi, durante muito tempo, passiva. "Desde a década de 70 a população daquele país está sendo dizimada. Mas somente em 1997 o Brasil começou a prestar solidariedade ao povo timorense. Nós temos o dever de ajudar na reconstrução daquele Estado" , destacou.

FOME E SEGURANÇA ALIMENTAR
Cinqüenta e quatro milhões de brasileiros encontram-se abaixo da linha da pobreza, conforme estimativas do Instituto de Pesquisas Econômicas e Estatística (Ipea). Esta observação foi feita, durante o evento, pelo deputado Chico Rafael (PSB), que criticou o combate da fome por meio da distribuição de cestas básicas. "Com todos os avanços científicos e tecnológicos, o homem ainda não conseguiu resolver a questão da pobreza", enfatizou.

Em Cabo Verde, a questão é mais ampla. "Há mais de 30 anos não chove regularmente em nosso País e, conseqüentemente, não há produção de alimento suficiente", afirmou o representante daquela ilha, Aluísio Rodrigues. Ele também informou que, entre as décadas de 40 e 50, cerca de 1/3 da população foi morta por causa da fome provocada pela seca. Segundo Rodrigues, mesmo nos melhores anos a produção não chega a cobrir 30% das necessidades de consumo.

CIDADÃO HONORÁRIO
O presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar (Consea/MG), Dom Mauro Morelli, recebeu o título de cidadão honorário de Belo Horizonte durante o evento no Teatro da Assembléia. Dom Mauro, bispo de Duque de Caxias, disse que o fato é um incentivo ao seu trabalho. "A homenagem é um pedido para eu continuar", afirmou.

O deputado Durval Ângelo (PT), 2º-vice-presidente da Alemg, encerrou a reunião saudando os representantes das nações de Língua Portuguesa e questionando as condutas governistas dos países em questão. "A adoção de uma política neoliberal e o processo de privatização nos fazem muito iguais. Não somos parecidos somente na etnia ou na língua, mas principalmente na dor", enfatizou o deputado.

PRESENÇAS
Participaram da reunião o presidente Anderson Adauto (PMDB), que a presidiu; os deputados Chico Rafael (PSB), Durval Ângelo (PT), Maria Teresa Lara (PT) e Maria José Haueisen (PT), além dos secretários de Estado da Saúde, Armando Costa; das Minas e Energia, Paulino Cícero; da Cultura, Ângelo Oswaldo; do Planejamento e Coordenação Geral, Manoel Costa; da Educação, Murílio Hingel; bem como o ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias; José Fernando Aparecido de Oliveira; os representantes do Fórum Brasileiro Flávio Valente; do Consea/MG, Edmar Gadelha; das delegações dos países de Língua Portuguesa, Luís Noronha; além dos representantes de cada delegação.

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Responsável pela informação: Renata Ramos - ACS - 31-2907715