Comissões debatem cultivo de transgênicos com convidados
A desinformação da população e a falta de uma política agrícola nacional foram alguns pontos abordados pelos convidad...
06/10/1999 - 17:45Comissões debatem cultivo de transgênicos com convidados
A desinformação da população e a falta de uma política agrícola nacional foram alguns pontos abordados pelos convidados que participaram de reunião conjunta das Comissões de Saúde, de Meio Ambiente e Recursos Naturais e de Política Agropecuária e Agroindustrial, nesta terça-feira (05/10/1999). Na reunião, foi discutido o cultivo comercial dos organismos geneticamente modificados (OGMs). O coordenador dos Cursos de Biossegurança da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Sílvio Valle, mostrou-se preocupado com a situação em que o Brasil se encontra, pois até agora, segundo ele, não há definições sobre uma política de biossegurança. De acordo com Valle, são necessárias leis estaduais que colaborem com a construção dessa política e também um código de ética referente à manipulação genética.O estímulo à pesquisa e o fortalecimento de mecanismos que assegurem os interesses nacionais no cultivo dos transgênicos foram ressaltados pelo chefe da unidade da Embrapa/MG (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Antônio Fernandino de Castro Bahia Filho. Ele afirmou que, na área de tecnologia genética, o Brasil não depende de nenhum outro país e, por isso, esse setor talvez seja nossa opção para um desenvolvimento tecnológico amplo. Na opinião de Bahia Filho, é fundamental que o consumidor tenha conhecimento daquilo que está consumindo, por isso é a favor de que todos os alimentos que sofreram qualquer alteração genética apresentem um rótulo de identificação.
CRÍTICA AOS EXCESSOS
"A sociedade está desenformada sobre os riscos que podem ser causados à saúde ao se consumir um alimento geneticamente modificado", afirmou a presidente da Associação Mineira de Nutrição, Jussara Passos Ribeiro de Oliveira. Ela disse que a cultura alimentar norte-americana vem nos influenciando de uma maneira negativa, ressaltando que "nossas crianças deixam de beber água para tomar refrigerantes ou preferem comer sanduíches na hora de almoçar".
Ela acrescentou que a ciência desvinculada da ética está nos conduzindo ao caos, pois visa apenas aos interesses do mercado mundial. "Estamos vivendo um modelo curativo de sociedade ao admitirmos que alimentos geneticamente modificados podem produzir efeitos colaterais ao nosso organismo e, em seguida, adotarmos ações paliativas para minimizar essa situação", observou. Segundo Jussara, é preciso que sejam realizadas pesquisas sobre a produção de alimentos geneticamente modificados, a partir das quais será possível o esclarecimento da população sobre o assunto. Para isso, destacou, são necessários investimentos de empresas que não tenham interesses exclusivamente econômicos.
MERCADO E INVESTIMENTOS
Para Márcio Carvalho, representante da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), a decisão de se produzir ou não alimentos geneticamente modificados é exclusiva do empresário, com base na demanda do mercado. "O produtor precisa viabilizar sua produção para obter seu sustento", alegou. Para o secretário-adjunto de Estado da Agricultura, Antônio Bandeiras, no entanto, "o que manda é a pessoa humana e não o mercado". "Lutamos pelos interesses da comunidade e não do capital. Precisamos de ciência com prudência", ponderou.
Para o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), quem deve estabelecer como o mercado vai atuar é a sociedade e não apenas o produtor. Ele lembrou, ainda, que faltam investimentos no setor da ciência e tecnologia. O deputado Paulo Piau (PFL) declarou que o Brasil está no meio de um jogo comercial, espremido entre as grandes potências mundiais, e que é preciso dar condições para o produtor brasileiro produzir e mostrar sua competência.
Já o professor do Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Sérgio Brommonschenkel apontou vantagens do cultivo dos transgênicos. Segundo ele, entre as vantagens destacam-se: a ampliação dos recursos genéticos; transferência de novos genes de qualidade superior sem prejuízo à arquitetura genética desses cultivadores; e alteração de metabolismos conhecidos visando à produção de produtos agrícolas diferenciados.
PRESENÇAS
Participaram da reunião o secretário-adjunto de Estado da Agricultura, Antônio Bandeiras; Karen Regina Suassuna, representante do Greenpeace; Cícero Plínio Bittencourt, representante da Secretaria de Estado da Saúde; e os deputados Edson Rezende (PSB), que presidiu a reunião e é presidente da Comissão de Saúde; César de Mesquita (PMDB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Carlos Pimenta (PSDB), Cristiano Canêdo (PTB), Fábio Avelar (PPS), Paulo Piau (PFL), Dimas Rodrigues (PMDB) e Márcio Kangussu (PPS).
Responsável pela informação: Kenia Dias - ACS - 31-2907715