Pochman: desemprego é o maior, desde fim da escravidão
O desemprego no Brasil deixou de ser problema de analfabetos, negros e de pessoas sem qualificação profissional. Agor...
28/09/1999 - 23:44Pochman: desemprego é o maior, desde fim da escravidão
O desemprego no Brasil deixou de ser problema de analfabetos, negros e de pessoas sem qualificação profissional. Agora ele está atingindo todas as classes sociais, abrangendo pessoas de mais de 40 anos e profissionais de nível superior, que passaram a engrossar o batalhão dos sem-trabalho. A afirmação é do professor Márcio Pochmann, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), na abertura do Seminário Legislativo "Desemprego e Direito ao Trabalho", nesta segunda-feira (27/09/1999). O evento é promovido pela Assembléia Legislativa, com a participação de cerca de 200 entidades, que colaboraram na organização.Márcio Pochmann abordou o tema "Trabalho e Desemprego no Brasil e no Mundo". Ele afirmou que "esta é a maior crise de desemprego da história do País, desde a libertação dos escravos, no século passado, e depois do malfadado Plano Collor". O professor citou dados relativos a 1997, quando havia 5,8 milhões de desempregados no Brasil. Segundo ele, esse número deve ter aumentado substancialmente nos últimos dois anos. Pochmann fez uma reflexão sobre as causas mais importantes do desemprego, hoje um problema mundial. Ele entende que não haverá solução sem profundas mudanças na ordem econômica mundial, "extremamente conservadora, centrada nos mecanismos financeiros do capital", e que são poucas as nações do mundo que absorvem os efeitos produzidos por essa política contrária ao emprego.
Pochmann afirmou, ainda, que existe um tripé impondo a divisão internacional do trabalho. A primeira base do tripé é formada pelas inovações tecnológicas produzidas por grandes corporações transnacionais, cerca de 400 empresas responsáveis por 80% dos investimentos, concentradas nos sete países mais ricos - o conhecido grupo G-7. A segunda base vem para fragilizar e destruir os sistemas financeiros de todos os demais países, mantendo apenas as três grandes moedas: o dólar, o euro e o yen japonês. O fim das moedas dos países pobres deverá vir com a dolarização plena e com o desaparecimento dos bancos nacionais. A terceira base do tripé é constituída pela formação de um exército mundial, com capacidade de impor as políticas dos países mais ricos, como tem sido o caso da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que vem intervindo em diversos países. O objetivo final é o desaparecimento das forças armadas dos países pobres, restando apenas alguns efetivos para combate ao narcotráfico e à violência urbana.
MODELO ECONÔMICO ACIRRA DESEMPREGO
Pochmann afirmou, ainda, que o desemprego no Brasil "veio para ficar" e que não há possibilidade de acabar com o problema com o modelo econômico vigente. Como alternativa, o professor paulista disse que a saída pode estar na reforma agrária, visando ao retorno do homem ao campo, na reforma tributária, discutida em Brasília, e na reforma social. A reforma tributária, segundo ele, deve centrar-se no estabelecimento de uma estrutura tributária progressiva, para que quem ganha mais pague mais impostos; e a reforma social. "Vivemos um quadro de redução de gastos públicos, com os recursos sendo desviados para pagamento de serviço da dívida", afirmou.
FALÁCIA NEOLIBERAL
Ao abrir o Seminário, o presidente da Assembléia, deputado Anderson Adauto (PMDB), disse que o problema do desemprego é mais grave do que sugerem os economistas e os sociólogos, porque toca na essência do homem, em sua natureza ética e em sua transcendência, como a mais inquietadora criação de Deus. "Emprego e trabalho são inseparáveis na civilização de produção e consumo em que vivemos. A autonomia do trabalho, que era possível no passado, é hoje uma falácia dos neoliberais, que procuram encontrar um cínico consolo para a exclusão dos dispensáveis, no modelo que pretendem".
Para o coordenador dos debates, deputado Ivo José (PT), o governo desistiu de regular a paridade real-dólar através das reservas cambiais, optando por uma nova fórmula de controle da inflação. Segundo ele, essa nova fórmula, que deixa claros os verdadeiros compromissos do governo, resume-se em estimular medidas recessivas, aumentar as taxas de juros e impedir o desenvolvimento econômico. "Portanto - prossegue - infelizmente, podemos afirmar categoricamente que o governo contém a possibilidade de alta inflacionária utilizando, como âncora cambial, a promoção do desemprego".
O deputado Durval Ângelo (PT) criticou o desemprego e o processo de exclusão do desempregado na sociedade brasileira. Ele elogiou a idéia do seminário que é um movimento de reflexão e de estudos de questões relevantes, de grande interesse da sociedade. Revelou que a idéia de realização do atual Seminário surgiu das pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e dos requerimentos dos deputados Ivo José (PT), Miguel Martini (PSN) e Elbe Brandão (PSDB), aprovados pelo Plenário da Assembléia.
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