Alemg homenageia integrantes da Marcha Popular pelo Brasil

A Assembléia Legislativa realizou nesta quinta-feira (19/08/1999), no Plenário, reunião especial para recepcionar os ...

20/08/1999 - 21:20

Alemg homenageia integrantes da Marcha Popular pelo Brasil

A Assembléia Legislativa realizou nesta quinta-feira (19/08/1999), no Plenário, reunião especial para recepcionar os caminhantes da Marcha Popular pelo Brasil, movimento que partiu do Rio de Janeiro no dia 26 de julho, em direção a Brasília, e chegou a Belo Horizonte na última quarta-feira (18). A homenagem foi realizada a requerimento das deputadas Maria José Haueisen (PT) e Maria Tereza Lara (PT). A Marcha reúne 1.100 pessoas, entre trabalhadores rurais sem terra, pequenos produtores agrícolas, sindicalistas, estudantes, donas de casa, religiosos e militantes das pastorais sociais da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O objetivo é chamar a atenção das autoridades, do governo e da sociedade em geral para "a gravidade do momento histórico que o país está vivendo", segundo informa o boletim de divulgação do movimento.

Cerca de 300 integrantes da Marcha acompanharam a reunião, ocupando o Plenário e as galerias. A homenagem foi aberta pelo presidente Anderson Adauto (PMDB), que fez um pronunciamento lembrando que as caminhadas são um símbolo de esperança e resistência e, no Brasil, estão ligadas a importantes movimentos sociais. Ele ressaltou, porém, que a Marcha Popular pelo Brasil é uma "caminhada da urgência" diante dos graves problemas sociais que o país enfrenta. O presidente destacou que a política econômica adotada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso "fez o Brasil retroceder meio século em quatro anos e alguns meses", criticou as privatizações que já aconteceram e, referindo-se à possibilidade de privatização da Hidrelétrica de Furnas, disse que "os mineiros não admitem que suas águas sejam vendidas, como foram nossas minas e nossas redes de comunicação eletrônica".

As deputadas Maria José Haueisen (PT) e Maria Tereza Lara (PT) também se pronunciaram. Maria José afirmou que, nos momentos de crise aguda, somente o povo pode fazer algo por si mesmo. Ela falou sobre a importância da Marcha pelo debate que o movimento está promovendo, com as populações das localidades por onde passa, sobre a necessidade de um novo projeto econômico para o Brasil, e disse ainda que "os responsáveis pelos destinos do país voltaram as costas para a gente brasileira e só têm olhos para os interesses do capital especulativo internacional. Segundo a deputada, a Marcha está "plantando sementes e preparando caminhos para as mudanças fundamentais que trarão novos horizontes para nosso povo". A deputada Maria Tereza Lara também criticou a política econômica do governo federal e disse que a Marcha representa "um passo gigantesco para o país que queremos construir".

DIGNIDADE POLÍTICA
O economista Cezar de Queiroz Benjamim, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acompanha o movimento, agradeceu a acolhida da Assembléia Legislativa de Minas Gerais dizendo que a recepção do Legislativo mineiro aos marchantes honrava "as tradições democráticas de Minas Gerais e é um momento de dignidade na vida política brasileira". Ele fez uma análise do momento econômico por que passa o país e afirmou que nunca o Brasil enfrentou uma crise tão grave como a atual. Segundo o economista, é urgente que se promova a retomada do crescimento econômico e seja definido um novo projeto nacional que, na sua avaliação, passa por três questões básicas: a retomada da soberania nacional, a adoção de um movimento de solidariedade social e a escolha, pelos dirigentes do país, de colocá-lo no caminho do desenvolvimento. "O Brasil não pode aceitar a situação de baixo crescimento em que está ou vai sedimentar irreversivelmente sua condição de país periférico", disse.

RAZÃO E EMOÇÃO
Wilson Santin, coordenador nacional do Movimento dos Sem Terra, também ocupou a tribuna e fez um pronunciamento em que foi difícil, segundo ele próprio, "separar a razão da emoção". Ele disse que a Marcha Popular pelo Brasil tem seus objetivos bem definidos mas que os momentos de emoção vividos ao longo do trajeto que percorre são muitos. "A Marcha tem um simbolismo que extrapola a razão e os números dos problemas e das causas que defende ou enfrenta. É uma marcha de um povo que não se entrega, não se rende, não se vende", disse, acrescentando ser preciso mexer com os sentimentos do povo brasileiro para que não haja conformismo diante da política imposta pelo governo federal. Ele comentou também o resultado do julgamento dos comandantes policiais envolvidos no "Massacre de Carajás", que foram inocentados, e disse que o resultado é a prova de que a impunidade ainda impera no Brasil e que a Justiça é conivente com os crimes praticados pelos latifundiários e rigorosa com os pobres. Wilson Santin foi muito aplaudido ao longo de seu pronunciamento.

Também ocuparam a tribuna Odair José de Souza, coordenador nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores - que falou sobre as dificuldades que os pequenos e médios agricultores vêm enfrentando e sobre as milhares de propriedades agrícolas que deixaram de produzir nos últimos anos; José de Amir Chaves, da Comissão Pastoral da Terra (representando Juvenal José da Rocha, coordenador da CPT em Minas Gerais) e Maria Antônia Costa Nogueira, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), que manifestaram sua solidariedade à Marcha Popular.

PRESENÇAS
Além do presidente Anderson Adauto e das deputadas Maria José Haueisen e Maria Tereza Lara, todas as pessoas acima ocuparam a Mesa que coordenou os trabalhos. Também estiveram presentes à reunião o coordenador do MST em Minas Gerais, Ênio Bohnemberg; o coordenador do Grupo Especial de Acesso à Terra (GEAT), Marcos Helênio; o secretário-adjunto de Estado do Trabalho, Celso Brant; o presidente da Belotur, José Francisco de Sales Lopes; a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Dinorah do Carmo; o secretário do Diretório Executivo Estadual do PT, Carlos Calazans; e o presidente da Coordenação Sindical dos Servidores Públicos de Minas Gerais, Renato Barros.

CULTO ECUMÊNICO
Após os pronunciamentos, foi realizado um culto ecumênico que contou com a presença do deputado Antônio Andrade (PMDB), representando o presidente Anderson Adauto, e das deputadas Maria José Haueisen e Maria Tereza Lara; e reuniu representantes da Igreja Católica - Bispo Dom Décio Zandonade e Frei Felix Neefjes; da comunidade judaica - rabino Leonardo Alanati; de Igrejas Evangélicas - pastores Eser Técio Pacheco, Cláudio Molz e José Fernandes Pacheco; e da Igreja Metodista, Pastor Vasny Cândido de Andrade. Várias leituras religiosas foram feitas e o grupo "Família Gomes" apresentou diversos números musicais.


Responsável pela informação: Cristiane Pereira - ACS - 031-2907715