Audiência Pública debate utilização da raspa da mandioca

A utilização da raspa de mandioca, em substituição ao amido de milho, no processo de purificação de minério de ferro,...

07/07/1999 - 06:25

Audiência Pública debate utilização da raspa da mandioca

A utilização da raspa de mandioca, em substituição ao amido de milho, no processo de purificação de minério de ferro, pode significar a redenção dos pequenos produtores dos municípios de Catas Altas, Mariana e Santa Bárbara, fixando o homem no campo e estimulando a economia regional. Atualmente, as empresas mineradoras instaladas naquela região - Samarco, Samitri e Companhia Vale do Rio Doce - gastam cerca de R$ 6 milhões anuais comprando o amido produzido no Paraná e em Goiás, que é usado no processo de separação das impurezas (sílica) do minério de ferro (hematita). Estudos desenvolvidos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) mostram que o amido pode ser substituído pela raspa de mandioca a ser produzida nos próprios municípios. O "projeto da raspa de mandioca" foi debatido nesta terça-feira (6/7/99) na Assembléia, em audiência pública conjunta das Comissões de Trabalho, Previdência e Ação Social, de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, e de Política Agropecuária e Agroindustrial. A iniciativa foi do presidente da Comissão de Trabalho, deputado Ivo José (PT). Participaram da reunião prefeitos, vereadores, produtores rurais e representantes de empresas mineradoras, além técnicos do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi), da Emater/MG, da Secretaria de Agricultura, da UFV e do superintendente Regional do Banco do Brasil.

Durante a audiência pública, os participantes defenderam o "projeto da raspa de mandioca" e ressaltaram os benefícios que o mesmo trará para os municípios envolvidos, cujas zonas rurais caracterizam-se pelo predomínio de pequenas propriedades, de 10 a 50 hectares, que praticam uma agricultura de subsistência, principalmente lavouras de milho e feijão. A avaliação geral é de que, com pequenos investimentos na melhoria das estradas vicinais e o acompanhamento de técnicos da Emater, será possível transformar o cultivo e beneficiamento da mandioca em uma importante atividade econômica na região; uma vez que a existência das mineradoras significa garantia de mercado para toda a produção.

PROTOCOLO DE INTENÇÕES - O "projeto da raspa de mandioca" vem sendo discutido há meses com as partes envolvidas, sendo que um protocolo de intenções será assinado no próximo dia 24 de julho, em Mariana. Na reunião desta terça-feira, ficou evidente que um dos obstáculos à concretização do projeto é a indefinição da Prefeitura de Catas Altas quanto à sua participação. Na cidade há uma fábrica de farinha de mandioca e de aguardente, sob responsabilidade da Associação Comunitária do Bem Estar Social de Catas Altas (Acbeca), que encontra-se paralisada e que, com pequenos reparos, pode ser utilizada para o beneficiamento da mandioca, sem a necessidade de se construir uma nova usina. Por se tratar de uma cultura perecível, a mandioca tem que ser processada até, no máximo, 36 horas após a colheita. Mas o prefeito José Hosken, embora apóie o projeto e reconheça a sua importância, condiciona a parceria da Prefeitura à mudança na direção da Acbeca, cujo presidente foi eleito em processo por ele considerado ilegal e ilegítimo.

PROJETO TEM APOIO
Na reunião, técnicos e representantes da Emater e do Indi manifestaram-se favoráveis ao projeto e salientaram sua viabilidade, frisando que trata-se de um empreendimento construído em parceria de todos os segmentos envolvidos - produtores, técnicos, mineradoras, órgãos públicos e prefeituras - e que já nasce com garantia de mercado. O superintendente do Banco do Brasil, também presente, também destacou o alcance social e a viabilidade do projeto sob os pontos de vista técnico e econômico. Ele afirmou que o Banco dispõe de duas linhas de crédito (Proger e Pronaf) que podem ser utilizadas para alavancar a iniciativa. Representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg) também apoiaram o projeto.

PROCESSO DE FLOTAÇÃO
Múcio Lima, técnico da Mineração Casa de Pedra - CSN, explicou aos participantes da audiência como se dá a purificação do minério de ferro, mediante um processo de flotação. O amido (ou raspa de mandioca) é misturado com água e recebe tratamento químico e térmico, com a adição de soda. Com isso, o produto sofre uma gelatinização e é misturado ao minério contendo impurezas. O produto, gelatinizado, envolve as partículas de hematita mas não as de sílica, que são retiradas em uma coluna de flotação, separando os rejeitos do minério de ferro concentrado. De acordo com o técnico, embora a CSN ainda não tenha realizado testes sobre a utilização da mandioca em lugar do amido, em escala industrial, as pesquisas já desenvolvidas mostram que a substituição é viável e os resultados são economicamente equivalentes. A empresa consome, mensalmente, 150 toneladas de amido para tratar o minério.

PRESENÇAS - Compareceram à reunião os deputados Sebastião Costa (PFL) e Ivo José (PT), que a presidiram, Ronaldo Canabrava (PSC) e Antônio Roberto (PMDB). Também participaram da audiência pública, dentre outros, os prefeitos de Mariana, Cássio Brigoline Neme, e de Catas Altas, José Hosken; o secretário de Agricultura de Mariana, Bento Quirino Gonçalves; Juraci Moreira Souza (Fetaemg); José Carlos Gomes M. Ribeiro (Indi); Marcelo de Pádua (Emater); Marcos Roberto Campos (Acbeca); vereadores, representantes das prefeituras de Santa Bárbara e de Itabirito, e representantes da Samarco e de outras empresas mineradoras.


Responsável pela informação: Jorge Possa - ACS - 031-2907715