Comissão do Trabalho discute as mortes e acidentes na Regap
Os acidentes e mortes que ocorreram nos últimos 4 anos na Refinaria Gabriel Passos - Regap/Petrobrás foram discutidos...
06/05/1999 - 05:36Comissão do Trabalho discute as mortes e acidentes na Regap
Os acidentes e mortes que ocorreram nos últimos 4 anos na Refinaria Gabriel Passos - Regap/Petrobrás foram discutidos nesta terça-feira (04/05/99), em audiência pública, na Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, por representantes da Delegacia Regional do Trabalho - DRT e do Sindicato dos Petroleiros - SINDIPETRO. Eles prestaram esclarecimentos acerca das denúncias feitas pelo Sindicato dos Petroleiros, nas quais aponta irregularidades trabalhistas, na segurança no trabalho e relativas à violação de direitos humanos por parte da Superintendência da Regap. Em 1995, 2 trabalhadores de empreiteiras contratadas morreram na Gabriel Passos. Segundo o Diretor- Presidente do Sindpetro, Márcio Nicolau Machado, o Sindicato realizou em 1996 e 1997, diversas reuniões, com a Administração da Regap e na Delegacia Regional do Trabalho, para apurar as causas dos acidentes e mortes e questionar a redução de pessoal nas áreas operacionais e de manutenção, mas não teve resultado. "De agosto a dezembro de 1998 foram 8 mortes no interior da Refinaria. O acidente mais grave, que resultou em 5 mortos e 7 feridos, foi no dia 27 de dezembro", afirma. O Superintendente da Regap, Elias Menezes Oliveira, foi convidado pela Comissão a participar da audiência, mas não compareceu, se justificando por meio de uma carta, ao presidente da Comissão, deputado Ivo José (PT). Elias Menezes disse na carta, que sua ausência, se deve às mudanças na estrutura hierárquica da empresa. Mudanças estas amplamente divulgadas pela imprensa, ressaltou. Ele convida os deputados a fazer uma visita nas dependências da Refinaria. A redução drástica do número de trabalhadores em virtude de inovações tecnológicas e o excesso da carga de trabalho são os motivos dos frequentes acidentes na Refinaria, destacou Márcio Nicolau. Um outro ponto polêmico, também, discutido foi a questão da licença médica. Nos últimos meses um dos trabalhadores acusado como responsável pelo acidente do dia 27 de dezembro, foi comunicado em sua residência que deveria comparecer à junta médica da Regap para a avaliação do seu estado de saúde. Dependendo do resultado ele seria demitido, assim que sua licença médica fosse suspensa. Segundo Nicolau isto é violação dos direitos humanos do empregado. "O profissional de saúde nunca deveria se submeter a uma atitude dessas", afirma. O número reduzido de trabalhadores, foi destacado, também, pelo diretor do Sindpetro/MG, Leopoldino Martins. "O que está acontecendo é o seguinte: uma pessoa toma conta de 2 setores. Nem um computador aceita 2 programas", ressalta. O outro diretor do Sindicato, Giovani Guimarães disse que no sistema Petrobrás não existe uma política de manutenção preventiva. "A contratação de terceiros é feita sem o devido treinamento. Estes são fatores de risco que levam a graves acidentes", afirma. Para o chefe de Segurança e Saúde do Trabalho da Delegacia Regional, Guilherme Horta, a maior causa dos acidentes são o excessos de horas extras, que variam de 12 a 14 horas por dia. "A Regap é considerada um local de periculosidade, onde a ansiedade aumenta muito", diz. O significado real de uma "parada" em uma refinaria foi estabelecido pelo médico do Trabalho da DRT, Ricciotti Piana Filho. Segundo ele, em uma parada a refinaria é desmontada, faz-se a manutenção, e em seguida é montada novamente. A maior parada que já aconteceu, foi no acidente de 27 de dezembro, foram contratados 2.000 trabalhadores, a maioria sem conhecimentos de uma unidade de refino. "A terceirização é complicada, pois o trabalhador não tem uma série de benefícios", destacou. Neste acidente especificamente houve um mau gerenciamento e planejamento por parte da Regap. Ela deu um treinamento de 5 horas para cada trabalhador e os colocou para trabalhar. "Houve uma série de causas nesse acidente que contribuíram para o mau gerenciamento e planejamento dessa parada", finalizou. Questionado pelo deputado Ivo José (PT), sobre os contratos de terceirizações, Márcio Nicolau disse que só as áreas de manutenção têm terceirizados, a área operacional é toda da Petrobrás. O deputado Christiano Canedo perguntou qual a relação entre os funcionários definitivos e terceirizados. Nicolau disse que a relação é de um pra um. O deputado Ronaldo Canabrava (PSC), ressaltou que essas denúncias não podem ficar à mercê de reuniões, que a Assembléia tem que tomar providências. Segundo Christiano Canedo o médico trabalha pela empresa e não pelo trabalhador. Ele disse que todo trabalhador tem que se submeter à junta médica para conseguir uma licença, porque cada caso é um caso. Ainda participaram da reunião o engenheiro de Segurança do Trabalho, Rinaldo Marinho Costa Lima e a médica do Trabalho, Júnia Maria de Almeida, que acompanharam Guilherme Horta. Estavam presentes os deputados Ivo José (PT), que a presidiu, Amílcar Martins (PSDB), Christiano Canedo (PTB), Luiz Menezes (PPS) e Ronaldo Canabrava (PSC). O deputado Ivo José (PT) designou 5 relatores durante a reunião da Comissão. O deputado Ronaldo Canabrava (PSC) foi designado relator dos projetos PL 163/99 e PL 217/99, Amílcar Martins será o relator do PL 124/99, Luiz Menezes (PPS) do PL 191/99 e Christiano Canedo (PTB) do PL 145/99. Foi aprovado um projeto de declaração de utilidade PL 141/99 e um requerimento do deputado Arlen Santiago, que dispensam a apreciação do Plenário. E rejeitado o PL 146/99, do deputado Edson Rezende (PSB), com 2 votos contrários e um voto favorável, que declara de utilidade pública a Sociedade Propagadora Esdeva, com sede no município de Belo Horizonte. Segundo o deputado Christiano Canedo (PTB), a empresa é uma entidade particular. Ainda foram apresentados e aprovados 3 requerimentos, um do deputado Ronaldo Canabrava (PSC) e dois do deputado Ivo José (PT). O deputado Ronaldo Canabrava (PSC) encaminha ao Ministério Público as notas taquigráficas, da reunião, para que o mesmo tome as devidas providências, levando em consideração o seguinte: os contratos terceirizados, a sobrecarga excessiva dos horários de trabalho, horas extras, a falta de treinamento e manutenção, a prevenção de acidentes e o mau gerenciamento. O deputado requer também informações sobre o número de mortes ocorridas de agosto de 1998 até hoje e os documentos sobre os acidentes. O deputado Ivo José requer que seja realizada audiência pública seguida de visita, nas dependências da Refinaria Gabriel Passos, em Betim, com o objetivo de dar sequência ao debate sobre as condições de trabalho, acidentes e providências legais tomadas pela Regap. Ainda, que sejam convidados representantes da Refinaria, Sindipetro, Ministério do Trabalho/DRT, Procuradora do Trabalho, Ministério Público Estadual, com agenda previamente acertada com os todos os participantes, de maneira a assegurar a presença de todos. Com base em denúncia veiculada no Jornal Estado de Minas, de 04/05/99, caderno "Gerais", página 25, o deputado Ivo José, requer que a Consultoria e a Procuradoria, desta casa, tentem apurar a utilização indevida de recursos do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhaador, pelo Instituto de Educação dos Trabalhadores (IET).
Responsável pela informação: Ana Paula - ACS - 031-2907715