Comissão ouve Bispo sobre Campanha da Fraternidade

"A missão da Igreja é perseguir o sonho de Deus: a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário". Com essa...

04/03/1999 - 18:22

Comissão ouve Bispo sobre Campanha da Fraternidade

"A missão da Igreja é perseguir o sonho de Deus: a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário". Com essa afirmação, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Décio Zandonade, abriu sua exposição na tarde de ontem (03/03/1999), quando participou de reunião da Comissão de Trabalho, da Previdência e da Ação Social para falar sobre o tema da Campanha da Fraternidade da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - para 1999, "Sem Trabalho...Por quê?". O convite para sua presença foi do deputado Ivo José (PT), e o bispo disse que, ao lançar temas mais ligados aos problemas sociais contemporâneos, como tem acontecido nos últimos anos, a Igreja está buscando cumprir sua missão.

Dom Décio Zandonade lembrou que a Campanha da Fraternidade é lançada no início da Quaresma (que começa na quarta-feira de cinzas e termina no domingo de Páscoa), uma vez que esse momento é considerado pela Igreja Católica um importante período de reflexão para os católicos e refutou eventuais críticas de que as campanhas são um "marketing" da Igreja Católica. "A Igreja se preocupa com todos os temas e assuntos que se refiram ao homem, ao seu bem estar, à sua felicidade", disse ele.

Segundo o religioso, o tema da Campanha de 1999, sobre o desemprego, foi escolhido a partir desse compromisso social da Igreja e pela conclusão de que o problema do desemprego não é mais apenas conjuntural, momentâneo ou circunstancial, mas está se tornando um problema estrutural. Ou seja, se antes eventuais desempregados tinham uma perspectiva de reversão dessa condição a curto ou médio prazo, atualmente essa possibilidade está ficando cada vez mais distante e o problema atinge um número muito grande de pessoas - gerando o desemprego em massa; acontece em quase todos os países e classes sociais (mesmo que em graus diferentes) e, para muitos, torna-se uma situação irreversível, com a exclusão definitiva do mercado de trabalho.

Segundo a avaliação de Dom Décio, as principais causas desse quadro seriam as significativas mudanças econômicas, políticas e tecnológicas acontecidas num espaço de tempo muito pequeno, e "certas políticas neoliberais que priorizam o lucro a qualquer custo e têm como consequência a concentração de capital e de renda e a eliminação de postos de trabalho", disse ele. Nesse sentido, o bispo, sem citar nomes, disse que Minas Gerais assume uma importante posição política quando certas decisões e posturas são adotadas publicamente para questionar a política econômica do país.

OBJETIVOS DA CAMPANHA DE 1999
Os objetivos básicos da Campanha da Fraternidade desde ano foram divididos em seis pontos principais, de acordo com texto apresentado pelo bispo:

1) contribuir para que a comunidade eclesial e a sociedade se sensibilizem com a grave situação dos desempregados, conheçam as causas e as articulações que a geram e as consequências que dela decorrem;

2) denunciar, consequentemente, modelos sócio-político-econômicos, especialmente o neoliberalismo sem freios éticos, que causam desemprego - estrutural ou não - , e igualmente, estimulam padrões de consumo insaciável e exacerbam a competição e o individualismo;

3) anunciar uma sociedade baseada em novos paradigmas, onde o ser humano seja o centro, a vida não se subordine à lógica econômica idolátrica e o trabalho não se reduza à mera sobrevivência, mas promova a vida, em todas as suas dimensões;

4) abrir, assim, perspectivas sobre novas relações e novas formas de trabalho pré-anunciadas para o novo milênio;

5) incentivar amplo movimento de solidariedade para manter viva a esperança dos que enfrentam diretamente o problema do desemprego, promovendo iniciativas concretas de geração de trabalho e renda, no paradigma da solidariedade cristã;

6) mobilizar a própria Igreja para se colocar mais ainda profeticamente a favor da justiça e da solidariedade, principalmente em relação aos desempregados.

APOIO DA COMISSÃO
A fala de Dom Décio Zandonade foi elogiada por todos os deputados presentes, que concordaram com sua afirmação de que, embora de difícil solução, à primeira vista, o problema do desemprego tem de ser enfrentado imediatamente sob risco de o país enfrentar um processo de convulsão social. O presidente da Comissão, deputado Ivo José (PT), lembrou que, juntamente com a Comissão de Turismo, Indústria e Comércio, presidida pela deputada Elbe Brandão (PSDB), está sendo proposta a realização de um seminário legislativo sobre o desemprego, suas razões e implicações em Minas Gerais, e possíveis soluções para minimização do problema. O deputado afirmou também que a Comissão pretende trazer para debater a questão do desemprego representantes de diversos segmentos da sociedade.

Foi aprovado ainda um requerimento do deputado Carlos Pimenta (PSDB), apresentado pelo deputado Christiano Canêdo (PTB), solicitando audiência pública conjunta com a Comissão de Administração Pública para debater a situação dos serviços dos trabalhadores da administração direta do Estado. Participaram da reunião os deputados Ivo José (PT), presidente da Comissão, Christiano Canêdo (PTB), Luiz de Menezes (PPS), Ronaldo Canabrava (PSC) e Amilcar Martins (PSDB).


Responsável pela informação: Cristiane Pereira - ACS - 031-907715