Proj.que cria organizações sociais é elogiado por Secretário
Na parte da tarde, o Ciclo de Debates discutiu o Projeto de Lei 1.570/97, do deputado Miguel Martini (PSN), que insti...
17/06/1998 - 12:14Proj.que cria organizações sociais é elogiado por Secretário
Na parte da tarde, o Ciclo de Debates discutiu o Projeto de Lei 1.570/97, do deputado Miguel Martini (PSN), que institui o Programa Estadual de Incentivo às Organizações Sociais e está tramitando na Assembléia. O deputado apresentou os principais pontos do projeto, defendendo sua importância na realidade sócio-econômica do Brasil, especialmente perante as reformas estruturais do Estado que, para Martini, exigem um alto nível de envolvimento e comprometimento da sociedade com o equacionamento dos principais problemas do país. As organizações sociais, segundo o deputado, inserem-se na proposta de reforma e modernização institucional do Estado. Por definição, tratam-se de associações civis sem fins lucrativos, destinadas a assumir, em cooperação com o Poder Executivo, a execução de atividades de ensino, pesquisa científica e tecnológica, preservação do meio ambiente, cultura e saúde, relacionando-se com o Estado através de contratos de gestão, que seriam acordos formais firmados entre o Estado e a associação civil contendo os objetivos e metas da entidade e os compromissos do governo, visando o atendimento dos mesmos. Os recursos financeiros das organizações sociais, segundo o Projeto 1.570/97, virão de verbas do Orçamento do Estado, mediante subvenções sociais transferidas pelo poder público; doações e contribuições de entidades nacionais e estrangeiras; rendimentos de aplicações pertinentes ao patrimônio e aos serviços sob sua administração. A fiscalização de suas atividades serão de competência da secretaria de Estado da área específica de atuação da organização. Martini ressaltou, em sua exposição, a importância do amplo debate sobre a questão. Ele disse que pessoas e segmentos não podem, simplesmente, ser contra ou a favor do projeto, e devem, sim, enriquecer a discussão em torno do que o motivou a apresentar o projeto: a incapacidade de o Estado executar todos os serviços e políticas públicas. "O Estado não pode ser um obstáculo às pessoas que querem se juntar para prestar um serviço à comunidade", afirmou. Secretário alerta para um novo modelo de administração O secretário de Estado do Planejamento, Marcus Pestana, foi um dos debatedores na tarde de ontem e disse que o Projeto das Organizações Sociais, juntamente com outros que tramitam na Assembléia , reflete e discute uma nova realidade da administração pública no Brasil, redefinindo objetivos e funções de órgãos, instituições, serviços e servidores públicos. "Há uma mudança nos paradigmas e conceitos do serviço público. Estamos desenhando o futuro, discutindo a remodelagem de estruturas, a mudança de sistemáticas", disse ele. Pestana citou dois projetos encaminhados pelo Executivo e que tramitam na Assembléia - o da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos e o que trata das carreiras especiais na administração pública - como complementares ao das organizações sociais nessa discussão. Segundo o secretário, quatro questões de caráter conceitual devem pautar a discussão em torno do tema das organizações sociais: a definição do que é público e/ou estatal e do que é privado e/ou particular; as novas tecnologias - exigindo a superação da burocracia e a mudança das rotinas dos serviços públicos; o modelo do Estado do futuro; e o modelo de controle essencial e estratégico do Estado. Ele ressaltou que os contratos de gestão, propostos no Projeto de Lei 1.570/97, garantem transparência e flexibilidade na gestão dos recursos públicos, assegurando também a qualificação dos serviços através da proposta de licitação. Projeto é inconstitucional e retira da sociedade prerrogativas conquistadas Isaltino José do Nascimento Filho, secretário de Formação Sindical do Sindicato dos Servidores da Previdência do Estado de Pernambuco - Sindsprev - e Temístocles Marcelos Neto, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Seguridade Social (CNTSS), fizeram duras críticas ao PL 1.570/97. Isaltino Nascimento afirmou que o projeto do deputado Miguel Martini é uma versão estadual da Lei Federal nº 9.637, editada em 15 de maio último, que dispõe também sobre a absorção de atividades de órgãos extintos por organizações sociais, com a diferença que a proposta mineira não extingue os órgãos cujos serviços serão executados pelas organizações. "Ambos os projetos querem desobrigar o Estado de seus serviços mínimos e reduzem violentamente os direitos conquistados na Constituição de 1988, em setores tão essenciais como os da educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia.", afirmou. "A Lei federal é inconstitucional e o subprocurador da República, Humberto Costa, já apresentou parecer nesse sentido", informou, lembrando que o art. 199 da Constituição federal determina que a atuação da iniciativa privada no setor da saúde, por exemplo, se dará de forma complementar ao sistema único de saúde. Além disso, segundo ele, é ilusão acreditar que as organizações sociais irão assumir obrigações que hoje são do Estado sem ter lucros. "Isso não existe em nenhum lugar do mundo, porque aconteceria aqui?", indagou. Ele fez vários questionamentos aos objetivos do projeto, indagando o por quê de uma organização social assumir, por exemplo, os serviços de saúde no Vale do Jequitinhonha senão for com objetivo de lucro. "Esse projeto é ainda mais inviável num estado como Minas Gerais, com realidades sociais tão distintas", disse. Isaltino Nascimento Filho, contudo, elogiou a iniciativa da Assembléia de debater o projeto com segmentos diversos da sociedade, representantes de instituições, servidores e governo, ressaltando que o projeto deve ser exaustivamente debatido. "No âmbito federal a Lei foi aprovada sem que a sociedade tomasse conhecimento. Conquistas sociais foram cassadas sem que ninguém soubesse ou fizesse nada", disse ele. O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Seguridade Social, Temístocles Marcelos Neto, fez coro às críticas do secretário do Sindsprev. Ele acrescentou que, se examinado com rigor e frieza, o projeto do deputado Miguel Martini visa a privatização dos serviços públicos e a desregulamentação dos direitos dos servidores e dos cidadãos, que serão prejudicados com a retirada, do âmbito do Estado, das obrigações e deveres do poder público nos setores que hoje estão assegurados na Constituição. "É um projeto que merece outros fóruns de discussão técnica, com representantes de todos os setores cujos serviços estão sendo colocados no âmbito das organizações", afirmou. Os trabalhos do Ciclo de Debates, na tarde de ontem, foram coordenados pelo deputado Ajalmar Silva (PSDB). Além dos debatedores e convidados já citados, participou da mesa também Renata Vilhea, chefe de gabinete da secretaria de Estado do Planejamento, que representou o governador Eduardo Azeredo.
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