CPI dos Bingos aprovam relatório final
Os integrantes da CPI dos Bingos aprovaram, nesta segunda-feira (15), o relatório final dos trabalhos, do deputado An...
16/06/1998 - 02:33CPI dos Bingos aprovam relatório final
Os integrantes da CPI dos Bingos aprovaram, nesta segunda-feira (15), o relatório final dos trabalhos, do deputado Antônio Roberto (PMDB). O documento traz um histórico das atividades da Comissão, além de apresentar sete projetos de lei e um projeto de lei complementar, destinados, entre outros objetivos, a coibir irregularidades no funcionamento das casas de jogos e a melhorar a fiscalização. Um deles determina a transferência, para a Loteria do Estado, das atividades desempenhadas pela Comissão Estadual dos Bingos. Criada a requerimento do deputado Durval Ângelo (PT), aprovado em 23 de dezembro de 1997, a CPI iniciou os trabalhos em 19 de fevereiro deste ano, sob a presidência do deputado Alencar da Silveira Júnior (PDT). Nos últimos meses, os deputados colheram depoimentos de 39 pessoas; apuraram denúncia em Bambuí; foram à Receita Federal e fizeram inspeção "in loco" no Bingo Cidade. O relator destaca, no documento final, que "é público e notório que o país assiste hoje a uma jogatina generalizada, razão pela qual são deixados de lado os mínimos princípios éticos e morais". Reafirma a existência de irregularidades no funcionamento dos bingos, comprovadas através de documentação enviada à CPI; além de ressaltar a inoperância da Comissão Estadual dos Bingos e o desvirtuamento dos recursos legalmente previstos para implementação de programas ligados aos desportos. Segundo o deputado Antônio Roberto, há "fortes evidências" de que todos os empreendimentos estão ligados a empresários estrangeiros, administrados por terceiros. O relatório enfatiza a necessidade de se investigar a atuação dessas pessoas no país. Entre as constatações do relatório, ao qual foram inseridas sugestões dos demais integrantes da Comissão, destacam-se: a violação à lei de regência dos bingos (Lei Federal 8.672/93) e àquelas que disciplinam o recolhimento do Imposto de Renda e tipificam os crimes cometidos contra a ordem tributária (Lei Federal 8.137/90 e outras); a fiscalização deficiente tanto por parte dos clubes responsáveis pelos bingos, quanto pelo poder público; a falta de integração entre a Procuradoria da Fazenda Estadual e a Comissão Estadual dos Bingos; entre outras. Projetos apresentados no relatório final Os projetos que alteram a legislação que trata do assunto são os seguintes: * transferência das atividades desempenhadas pela Comissão Estadual dos Bingos para a Loteria do Estado de Minas Gerais, em face da experiência da autarquia na operacionalização e fiscalização de jogos; * parcelamento das dívidas dos clubes, facilitando a quitação dos débitos e proporcionando arrecadação imediata aos cofres públicos. O projeto determina que os débitos poderão ser quitados, sem multa, em até 24 parcelas mensais e consecutivas, sendo que 20%, no mínimo, do valor da dívida deverá ser pago à vista. O pedido de parcelamento deverá ser protocolado no setor competente da Secretaria da Fazenda até 90 dias após a data de publicação da lei; * regulamentação do recebimento de prêmios mediante contemplação em bingos permanentes no Estado. O projeto condiciona o recebimento do prêmio à apresentação, pelo ganhador, do CPF e da carteira de identidade. Se não o fizer, em três dias o prêmio será entregue à Loteria do Estado, que o destinará a obras sociais, caso não seja reclamado em 90 dias, mediante apresentação dos documentos; * obrigatoriedade de afixação, em locais visíveis das casas de jogos, do regulamento dos sorteios, do nome e do telefone dos principais órgãos de defesa do consumidor da cidade; * possibilidade de desconto de até 75% nas taxas de expediente suportadas pelos promotores de bingos, como incentivo para que o recolhimento seja feito até a data dos vencimentos. A taxa hoje é de cerca de R$ 36 mil; * instituição do Programa de Atendimento aos Viciados em Jogos de Azar, que dará orientação psicológica e social ao viciado e assistência às famílias. De acordo com o projeto, o Estado destinará 10% dos recursos arrecadados a título de taxa de expediente para manutenção do programa; * disciplinamento das condições de operação permanente de máquinas eletrônicas programadas. Conceitua modalidades de bingo; trata da autorização para funcionamento de equipamentos e da taxa de expediente, entre outras atribuições; * proibição de que os servidores públicos estaduais mantenham qualquer tipo de atividade relacionada com as casas, sob pena de demissão (projeto de lei complementar). Outras determinações da CPI dos Bingos O relatório final da CPI também traz outras determinações, entre as quais as seguintes: * necessidade de apuração, pelos órgãos competentes, das irregularidades na atuação de estrangeiros no país, especialmente daqueles que participam do esquema montado pelos bingos, desde a comercialização de máquinas até a organização e o funcionamento das casas. Destaque para a atuação do paraguaio Jorge Escobar; * enviar cópia do relatório a diversos órgãos, entre eles o INSS, para apurar a sonegação do recolhimento da contribuição relativa aos funcionários dos bingos e de seus sócios-proprietários; * comunicar ao governador "a omissão e a inércia da Comissão Estadual de Bingos"; * enviar cópia do relatório ao Ministério Público, solicitando também que seja movida ação penal contra todos aqueles que foram convocados regularmente pela CPI e não compareceram às reuniões. Entre os seis que não vieram à Alemg, estão os empresários Salvador Rivadávia Aguiar, da Uniauto, e Fernando Mendes, do BH Bingo. * enviar cópia do relatório final à Ouvidoria do Estado, à Corregedoria da Polícia Civil e à Ouvidoria de Polícia, a fim de que esses órgãos apurem o possível envolvimento de servidores públicos estaduais nas atividades de segurança das casas de jogos; * advertir o procurador da Fazenda do Estado para que, sob pena de responsabilidade, se promovam as ações judiciais competentes, com os objetivos de recolher tributos não cobrados das casas de jogos e de ressarcir os cofres públicos; * enviar mensagem aos presidentes das entidades esportivas, advertindo-os sobre riscos e responsabilidades ao emprestar nomes para a promoção de bingos permanentes, eventuais ou sorteios; * recomendar às Prefeituras fiscalização nos bingos quanto ao recolhimento do ISS; * mobilizar o Ministério Público e a Polícia Federal, para que prossigam nas investigações que já estão fazendo sobre as atividades dos bingos; * sugerir ao governador a edição de cartilhas "esclarecendo os malefícios dos jogos de azar", a serem distribuídas nas casas de bingos, escolas, entidades de classe; * promover controle rigoroso, por meio da Secretaria da Segurança Pública, do acesso de menores aos estabelecimentos; * na impressão das cartelas usadas nos bingos, inserir o selo da Loteria Mineira, para evitar irregularidades. Destaques do trabalho da CPI * Visita ao Bingo Cidade: os deputados constataram, examinando documentos jogados em um depósito de lixo ao lado do bingo, que os prêmios distribuídos aos ganhadores eram repassados sem preencher o documento obrigatório, no qual deveriam constar todos os dados do vencedor. O bingo utilizava, ainda, cartelas nas quais não constava, no verso, o regulamento. O estabelecimento também não recolhia a taxa de expediente obrigatória. Segundo os deputados apuraram, o número de rodadas era muito superior àquele informado à Receita. Outra suspeita, a partir da análise de nomes e CPFs incompletos, é da presença de "laranjas" na casa de jogos. * Depoimento do cantor sertanejo Antônio Carlos dos Santos: ele declarou ter sido contemplado 418 vezes, mas, na CPI, "esquivou-se de forma sarcástica, procurando desviar a atenção dos seus membros". O relatório acrescenta: "É, de fato, esse cidadão um sortudo? Um mentiroso? Ou é ele, de fato, um "laranja"? Ficamos com a última hipótese". Para os deputados, o cantor deve se explicar perante a Receita Federal e o Ministério Público, a quem compete deflagrar o processo criminal no caso de perjúrio. "Por esse sistema perverso, de participação dos chamados laranjas, a disputa das partidas ficava desigual, já que o consumidor comum conta com menores chances. Pelo depoimento de Santos, montava-se uma rede de jogadores profissionais, devidamente remunerados, preparados para concorrer, de forma no mínimo duvidosa, nos diversos sorteios em que o prêmio seria um automóvel". * Pagamento da taxa de expediente: apenas os Bingos Alterosa, Minas Bingo e Royal Bingo Savassi, ligados ao Ginástico Esporte Clube, estão em dia com a taxa de expediente (20% dos recursos arrecadados com a cobrança da taxa são destinados à segurança das escolas públicas). Os demais 16 bingos estão em débito com o fisco. Segundo o relatório final, "o Estado também não faz nada quanto à fiscalização e continua pouco zeloso no trato da coisa pública. É um sonegação monstruosa, acobertada pela própria Secretaria da Fazenda". * Nomes dos proprietários dos bingos: o relatório destaca que é quase impossível localizar os verdadeiros donos dos bingos. Convocados para depor, poucos compareciam, e as justificativas eram "estapafúrdias e suspeitas". Na maioria dos bingos, a mudança do contrato social é uma constante, e há dificuldades em localizar as pessoas. O relatório destaca, como exemplos, os Bingos Cidade, Eldorado, Praça 7 e BH Bingo. Muitas casas de jogos são hoje administradas por pessoas de São Paulo, sob o assessoramento do paraguaio Jorge Escobar. Presenças - Compareceram à reunião os deputados Alencar da Silveira Júnior (PDT), que a presidiu, Durval Ângelo (PT), Paulo Schettino (PTB) e Antônio Roberto (PMDB). Além desses, são membros efetivos os deputados José Maria Barros (PSDB), Sebastião Navarro Vieira (PFL) e Gil Pereira (PPB).
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