Ciclo de Debates: Reforma do Estado: as Organizações Sociais
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de São Paulo, Ângelo D´Agostini Júnior, criticou, em sua exposiç...
15/06/1998 - 10:03Ciclo de Debates: Reforma do Estado: as Organizações Sociais
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de São Paulo, Ângelo D´Agostini Júnior, criticou, em sua exposição, o projeto das organizações sociais, ao dizer que "isso é apenas mais uma maneira de denominar a terceirização do serviço público". O sindicalista falou da experiência implantada pela Prefeitura de São Paulo, que repassou a concessão do serviço de saúde a algumas cooperativas privadas. Segundo ele, ao contrário do "marketing" feito à época da mudança, em ano eleitoral, houve um aumento do número de reclamações em relação ao atendimento e denúncias das próprias cooperativas sobre o não repasse dos recursos públicos para a manutenção dos serviços. A experiência paulista, segundo D´Agostini Júnior, mostrou que as instituições de saúde passam a atender cada vez mais, e com qualidade e rapidez, grupos reduzidos de pessoas que podem pagar pelo serviço, em detrimento do atendimento público. Disse ainda que este modelo, na área da saúde, fere os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), que são a universalidade e a integralidade do atendimento, com fiscalização da sociedade. Ele defendeu uma presença mais intensa da sociedade civil no serviço público, como fiscal, "o que é bem diferente desta proposta de entregar o que é do Estado para o setor privado". Debates - Na fase de debates, o representante do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, Carlos Manuel Neves Cristo, rebateu as críticas dos sindicalistas ao afirmar que não vê relação entre a proposta das organizações sociais e o SUS. Disse ainda que as discussões em torno do projeto mostram que o governo procura meios de enxugar a máquina administrativa pensando na coletividade e não em grupos setorizados. Segundo ele, estaria havendo uma confusão entre terceirização e o projeto das organizações sociais, que estabelece um contrato de gestão com regras claras de controle da concessão, mantendo muitas características do setor público. Os participantes do debate, aberto ao público, fizeram questionamentos sobre a transferência de recursos e da estrutura do Estado para as organizações sociais e sobre a forma jurídica do contrato de gestão. Alguns lamentaram que todo um esforço na formação de pessoal especializado, com investimentos de muitos anos e de milhões de reais, seja entregue à iniciativa privada. Também manifestaram preocupação com a situação funcional de servidores das áreas sujeitas ao regime de gestão pelas organizações sociais. Representantes de sindicatos ligados à área da saúde de Minas Gerais aplaudiram a iniciativa da Assembléia, mas criticaram a ausência de pessoas que pudessem relatar a experiência de outros estados, como Bahia e Rio Grande do Sul. Eles criticaram a tese defendida pelos simpatizantes do projeto, segundo a qual o mercado é mais competente que o Estado para resolver questões públicas . Levantaram dúvidas sobre a eficácia da fiscalização dos serviços, dos critérios para avaliação de desempenho e sobre a possibilidade de demissão em massa de funcionários públicos.
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