Aprovado relatório final da CPI do Dops
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para apurar a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Or...
10/06/1998 - 02:32Aprovado relatório final da CPI do Dops
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para apurar a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) aprovou, nesta terça-feira (9), o relatório final dos trabalhos, apresentado pelo deputado Ivair Nogueira (PDT). A CPI decidiu apresentar um projeto de lei que altera a Lei 10.360, tornando obrigatória a transferência para o Arquivo Público Mineiro de toda a documentação relacionada às atividades de polícia política e de ordem pública produzida pelos órgãos de segurança. O projeto vai proibir, ainda, a incineração desses arquivos. A decisão foi tomada devido à constatação, pela CPI, de que havia uma relação orgânica entre os órgãos de segurança e de informação do período militar e de que documentos produzidos em parte ou totalmente pelo Dops estão em outros órgãos, como a Coordenação Geral de Segurança (Coseg) da Secretaria de Segurança Pública (SSP/MG) A CPI pede, portanto, a transferência para o Arquivo Público Mineiro, no prazo de 90 dias, de uma série de microfilmes da Coseg, que contêm documentos do extinto Dops, e de fichas de natureza política que alimentaram o sistema informatizado do Instituto de Identificação. Os documentos permanecerão na Coseg se for comprovado, nesse período, que eles não são pertinentes à matéria tratada pela CPI. Caberá ao Arquivo Público Mineiro, na forma da lei, manter em locais diferentes cópias dos documentos. A Comissão recomenda, ainda, que a Assembléia solicite ao governo federal a transferência, para o Arquivo Público Mineiro, da documentação de cunho histórico, político, social e ideológico relativa a Minas Gerais existente nos órgãos de informação do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, do Departamento de Polícia Federal e no extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), em especial os inquéritos policiais militares instaurados pela unidade do Exército localizada em Juiz de Fora. Recomenda, também, ao governador do Estado que seja revista a titularidade de cargos ocupados por participantes ativos do extinto Dops, ainda hoje responsáveis pela guarda dos microfilmes daquele órgão. Recomendam, em especial, que o delegado Ariovaldo da Hora e Silva - ainda hoje na Coseg - seja transferido para órgão de segurança não relacionado com a produção e distribuição de informações e atividades correlatas. Fichas encaminhadas anonimamente serão encaminhadas ao Arquivo Público Mineiro As fichas e fotos de ex-presos políticos, com a denominação "Coseg", recebidas pela CPI, serão encaminhadas ao Arquivo Público Mineiro. A relação dos nomes será encaminhada ao Poder Executivo para que seja determinada a anulação de referências às atividades políticas das pessoas ali identificadas, cujos nomes permanecem nos registros policiais e judiciais do Instituto de Identificação. O Instituto deverá encaminhar à Comissão de Direitos Humanos, em 30 dias, um relatório desses registros. Considerando que as fichas foram encaminhadas anonimamente a órgãos de imprensa de Belo Horizonte, a CPI requer ao Poder Executivo a apuração imediata de sua origem e da responsabilidade pelo ocultamento de fichas e fotos. O resultado dessa apuração deverá ser encaminhado à Comissão de Direitos Humanos. Arquivos da Coseg serão analisados O relatório final pede a criação de um grupo de trabalho, subordinado à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, para dar continuidade ao processo de identificação e análise dos arquivos da Coseg. O grupo será formado pela equipe que deu suporte técnico à CPI, pela Ordem dos Advogados do Brasil/MG - que acompanhou os trabalhos da Comissão -, e por entidades de defesa dos Direitos Humanos. Pede, ainda, a criação de uma Comissão Especial para definir os critérios para o acesso aos arquivos e a responsabilização criminal e civil pelo uso das informações neles contidas. Outra recomendação feita foi a aprovação do Projeto de Lei (PL) 1.424./97, da deputada Maria José Haueisen (PT), que determina o pagamento de indenizações às vítimas de tortura praticada nas dependências do Dops, e do PL 309/95, do deputado João Batista de Oliveira (PDT), na forma do substitutivo nº 1, que garante o acesso aos documentos do órgão. Cerceamento dos trabalhos O relatório final destaca as dificuldades impostas pela Secretaria de Segurança Pública, que "sob alegações juridicamente inconsistentes, dificultou e impediu o acesso de membros desta Comissão aos arquivos e a informações necessárias ao pleno desenvolvimento do trabalho investigatório". Propõe, portanto, que a Assembléia forme um grupo parlamentar para estabelecer, com clareza, o alcance, as competências, os recursos legítimos de que se pode valer uma comissão parlamentar de inquérito, bem como suas limitações, definindo os instrumentos de poder que ela tem para se apoiar. Acordo permitiu aprovação do relatório final Após a leitura do relatório pelo deputado Ivair Nogueira (PDT), os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT) e Carlos Pimenta (PSDB) - respectivamente autor do pedido para formar a CPI e presidente da Comissão - fizeram comentários e sugestões de mudança no documento. A reunião foi interrompida para discussão entre os integrantes da CPI e as alterações foram acolhidas pelo relator. Participaram da reunião, presidida pelo deputado Carlos Pimenta (PSDB), os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), Antônio Roberto (PMDB), Wilson Pires (PFL) e Ivair Nogueira (PDT).
Responsável pela informação: Fabiola Farage - GCS - 031-2907800