Comissão debate política minerária
O momento atual é propício para qualquer ação governamental na área de mineração, mas os estados precisam ter polític...
15/06/1998 - 19:03Comissão debate política minerária
O momento atual é propício para qualquer ação governamental na área de mineração, mas os estados precisam ter políticas bem definidas para o setor. A advertência foi feita ontem (22/5) pelo presidente da Associação Brasileira de Mineração, Umberto Raimundo da Costa, ao participar, na Assembléia Legislativa, de audiência pública da Comissão de Política Energética, Hídrica e Minerária. A reunião foi mais uma da série que a Comissão está realizando, desde o mês passado, com o objetivo de subsidiar a elaboração de uma política minerária para o Estado de Minas Gerais. Ontem, o tema debatido foi "O sistema estadual de geologia e mineração - o papel dos agentes e subsídios para a formulação de um sistema gerenciador da política minerária do Estado". Na opinião de Umberto Costa, que também é diretor-presidente da CBPM, da Bahia, o principal papel do Poder Público, com relação ao setor de mineração, é a geração e difusão de informações geológicas que revelem potencialidade mineral e sirvam de suporte à atração de investimentos em pesquisa mineral. Ele defendeu a ampla divulgação das informações disponíveis pelos órgãos responsáveis de cada estado. Segundo Costa, cabe ainda ao Poder Público atuar na identificação de oportunidades de investimento, através da descoberta de jazidas; atrair investimentos para a implantação de empreendimentos mínero- industriais; e fazer um acompanhamento conjuntural do setor. Quanto à exploração mineral, em si, ele considera que a atividade deve ficar com iniciativa privada, que tem maiores recursos e competência para atuar. Nos últimos anos a evolução do valor da produção mineral - considerando-se apenas a indústria mineral extrativa - tem oscilado entre US$ 6 bilhões e US$ 6,5 bilhões, o que representa cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, mas Umberto Costa disse acreditar que esses números estejam subestimados. Considerando-se as transformações iniciais dos minerais, como a produção de gusa, o valor sobe para 10% do PIB, ou US$ 65 bilhões. A receita tributária gerada pelo setor, anualmente, é da ordem de US$ 520 milhões em ICMS e US$ 38,5 milhões em compensação financeira para estados e municípios. Embora o setor mineral não seja intensivo em mão-de-obra, a sua importância para a economia também pode ser medida pela geração de empregos. Hoje, a mineração responde por 120 mil empregos diretos; mas as estimativas dão conta de que, para cada emprego direto, são criados 8,7 indiretos na indústria de transformação mineral. Presenças - Outro participante da audiência pública da Comissão de Política Energética e Minerária, Newton Litwinski, presidente da Sociedade Brasileira de Geologia - Núcleo de Minas Gerais, falou sobre o funcionamento e estrutura do sistema coordenador e executor da política mineral do Estado. Ele defendeu a alocação de maiores recursos na Secretaria de Recursos Minerais, como um caminho para a dinamização do setor. Compareceram à reunião os deputados Anivaldo Coelho (PT), que a presidiu, Sebastião Helvécio (PPB) e Paulo Piau (PFL). Também estiveram presentes o secretário de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos, Bené Guedes; e o presidente da Companhia Mineradora de Minas Gerais (Comig), Carlos Cotta. Fórum Técnico O equilíbrio entre receita e despesas e o acompanhamento e avaliação sistemática da execução orçamentária são os dois princípios que norteiam a intervenção dos legislativos estaduais na elaboração orçamentária dos estados americanos. Esse foi um dos pontos ressaltados pelo especialista financeiro da Assembléia Legislativa de Oregon nos Estados Unidos, John Lattimer, que falou ontem pela manhã, na abertura dos trabalhos do Fórum Técnico "Orçamento e Políticas Públicas", promovido pela Assembléia Legislativa de Minas e Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral (Seplan). Lattimer observou que a Constituição Federal dos Estados Unidos dá amplos poderes de decisão aos legislativos estaduais, para que eles interfiram nesse processo de elaboração orçamentária. Assim, apesar da iniciativa do projeto de lei do orçamento estar no Executivo, cabe ao legislativo avaliar a proposta inicial, elaborada a partir de um consenso prévio sobre o montante da receita disponível para aquele exercício, e alterá-la, se assim achar necessário. "E, normalmente - disse ele - o resultado final é sempre muito diferente daquele proposto originalmente". O processo de negociação dos números do orçamento envolve todos os segmentos da sociedade, desde as agências e órgãos governamentais, às entidades e organismos da sociedade civil, até o cidadão, ouvidos em audiências públicas, temáticas e regionais, que correm todo o Estado. "É um processo que dura em torno de seis meses, com intensos debates, transmitidos também pelas tvs a cabo do legislativos estaduais e disponibilizados pela Internet ou através de cópias impressas, com a reprodução integral de cada reunião, oferecidas gratuitamente aos interessados que as solicitarem"- informou Lattimer. O especialista financeiro explicou ainda que a sociedade americana tem uma tradição de participação muito intensa nesses debates. Da mesma forma, os legislativos estaduais exercem também plenamente o seu direito de intervir nesse processo e o fazem com muita responsabilidade e competência. Para isso, contam com uma assessoria técnica bem montada que está sempre em contato também com as assessorias do Executivo. Assim, as comissões mistas de Orçamento, que atuam em cada estado e formadas por parlamentares da Câmara e do Senado, fazem uma análise minuciosa do orçamento, a partir da avaliação dos orçamentos anteriores. "Se um programa não está apresentando bons resultados, por exemplo, e continua a receber recursos pelo novo orçamento, a Comissão é que vai decidir sobre a manutenção ou não desta dotação. A Comissão pode anulá-la e suspender o programa ou transferi-los para outra agência governamental que se mostre mais eficiente. E isso ocorre, como recentemente aconteceu no meu estado, de Oregon, que é pioneiro na implantação destes sistemas de avaliação de desempenho de programas governamentais"- explicou Lattimer. Ele explicou ainda o funcionamento de alguns instrumentos de controle do orçamento que são adotados pelo legislativo e de avaliação das políticas públicas, ressaltando que o foco desse trabalho é sempre o do cumprimento das metas estabelecidas. "Procuramos definir com clareza o que queremos para o nosso Estado, onde estamos e onde queremos chegar. A partir daí, avaliamos o que estamos fazendo"- concluiu ele. O professor do Departamento de Ciência Política da UFMG. Luiz Aureliano Gama de Andrade, debatedor nesse painel, afirmou que no Brasil existem vários problemas para viabilizar um processo como o detalhado pelo especialista norte-americano. Ele destacou a necessidade de se estabelecer, com clareza, os papéis do Legislativo e do Executivo na elaboração orçamentária, como condição para que esse processo se realize de forma mais crítica. Outra condição é o fortalecimento das instituições políticas, incluindo o Poder Legislativo, para que possam assumir plenamente o papel que lhe couber. A reconstrução do sistema de planejamento e a integração das suas atividades com as do sistema de orçamento é também fundamental para viabilizar uma peça orçamentária consistente e passível de ser avaliada. A consultora em Gestão Pública e ex-coordenadora do projeto "Avaliação de Desempenho das Empresas Públicas do Estado de São Paulo", Maristela Afonso de André, abriu os trabalhos do painel de encerramento do fórum, falando sobre Avaliação de Desempenho de Instituições Públicas. Maristela ressaltou que o primeiro passo, num processo de avaliação, é o de saber o porquê de se fazer tal avaliação. "Um sistema de avaliação de instituições públicas não fará sentido - frisou ela - se não estiver voltado para a promoção da extensão do atendimento, da qualidade dos serviços e da eficiência no uso dos recursos, buscando com isso, informar a sociedade, estimulando a sua manifestação e participação, na avaliação da execução de programas governamentais. A fiscalização é apenas um facilitar nesse processo e não o objetivo fim". Os maiores empecilhos para a execução desses programas de avaliação nas instituições públicas, destacados por Maristela vão desde a falta de vontade política de implantá-los, à desarticulação entre planejamento de programas, objetivos, metas e programação orçamentária, até a precariedade de sistemas de informações para o gerenciamento. A assessora do Ministério da Saúde, Maria Helena Carvalho Oliveira Brandão, falou sobre as formas de avaliação que o ministério tem adotado para acompanhar o processo de implantação do Sistema Único de Saúde, repassando esses relatórios aos estados para permitir uma reflexão local sobre os modelos que estão sendo adotados em cada região do país. Participaram ainda deste painel, sobre "Indicadores de Desempenho na Avaliação dos Programas Governamentais", o diretor de Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Planejamento e Avaliação do Ministério do Planejamento, Renato Naegele e Maria Alba de Souza, da Secretaria da Educação de Minas. O presidente da Assembléia de Minas, deputado Agostinho Patrus, encerrou o encontro afirmando que ele "significou um marco na história mineira da elaboração orçamentária, da formulação e do acompanhamento de políticas públicas. Esta oportunidade ímpar de diálogo e troca de idéias revelou-nos,por um lado, experiências promissoras que nos autorizam otimismo e confiança no futuro". Patrus frisou ainda que o fórum terá uma segunda parte, "que começa exatamente agora: o desafio de tornar efeitos os princípios de uma nova cultura quanto ao planejamento e a efetivação de políticas públicas consistentes e eficazes. Que nesse segundo momento possamos obter o mesmo sucesso que marcou o presente encontro".
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